sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A magia do Pai Natal

Sou uma menina de cinco anos, muito em breve farei seis, e o Natal deste ano é, para mim, muito mágico e especial.

Desde o início das minhas recordações, as festas de Natal aparecem, na minha memória, com a intensa vivência centrada numa figura de um ser misterioso, vestido de vermelho, com barbas brancas, que, a certa hora da noite avançada, se fazia anunciar com um pequeno sininho que trazia na mão, provocando o alvoroço em toda a gente da casa que corria para a porta principal repetindo em coro: “É o Pai Natal! É o Pai Natal!”

E mal a campainha da porta tocava, havia vários braços a tentar abri-la, com muita excitação, e, uma vez ou outra, com precipitação, porque a porta estava fechada à chave e esta demorava ainda alguns segundos a ser encontrada. O Pai Natal entrava e dizia “Ou! Ou!” e passava sempre as suas mãos quentinhas pela minha cabeça e pela minha face. Este gesto contribuiu muito para que a minha relação com o Pai Natal fosse terna.

Vinha a distribuição dos presentes que se encontravam junto à árvore de Natal. O Barbinhas Brancas pegava no primeiro e dizia “Ou! Ou!” e logo uma das minhas tias, ou a minha Mãe, corria para ler a etiqueta: “Do Avô pra a Avó!”.

Quando as minhas prendas eram anunciadas, o “Ou Ou!” do Pai Natal era mais forte e mais longo, por vezes quase cantado. Aí fiquei ainda mais convencida de que o Pai Natal era realmente muito meu amigo.

No filminho do Natal do ano passado, ficou documentado que o Pai Natal quis tirar uma fotografia connosco. No momento, eu suspendo a luz dos flashes quando observo: “Mas falta aqui o Avô!”

Achei natural que me tivessem dito que o Avô tinha ido à casa de banho e que não se demorava, mas que tirávamos já a fotografia sem esperar por ele porque o Pai Natal estava com muita pressa pois tinha muitas casas para visitar.

O monte das minhas prendas ia crescendo e não compreendia bem por que razão ficava sempre muito maior que o das outras pessoas. Atribuía esse facto ao encanto do Pai Natal por mim, por eu ser criança.

No ano passado, verifiquei que o montinho das prendas da outra criança que estava na casa era tão grande como o meu. Afinal, as prendas das crianças eram muitas porque o Pai Natal era muito amigo delas.

No fim da distribuição do Natal do ano passado, o Pai Natal quis tirar mais uma fotografia com as crianças. Depois começou a despedir-se e logo o alvoroço para o acompanhar à porta! Na minha memória está um coro de vozes a dizer: “Adeus Pai Natal! Obrigado Pai Natal!”

Ainda sinto, na minha face, o calorinho que a sua mão deixou ao acariciar-me dizendo mais uma vez “Ou! Ou!”, numa entoação de voz trémula, própria do ambiente da despedida.

Ia directa para o montinho das minhas prendas e começava a abri-las, rasgando energicamente o papel para descobrir as coisas que me tinham oferecido.

No ano passado, passada a excitação da abertura das prendas, olhei para as pessoas que estavam agora a fazer comentários sobre os presentes que tinham recebido. E reparei que, sentado tranquilamente num dos sofás da casa, estava o meu Avô olhando serenamente para mim e para as prendas que eu tinha recebido. Corri a dar-lhe um beijo. No filminho, eu apareço então a dizer: “Ó Avô, tu és muito parecido com o Pai Natal”.

Como o meu Avô tem o cabelo todo branquinho, eu já lhe tenho dito que ele parece mesmo um boneco de neve. Embora não esteja no filme, eu acho que também disse uma vez ao Pai Natal que ele era parecido com o meu Avô.

A verdade é que eu suspeitava de que o Pai Natal era o meu Avô, mas não queria que as pessoas sentissem isso. Eu própria preferia não ter suspeitas e fazia força para continuar a acreditar que o Pai Natal vinha de um país distante, que não sabia falar como as outras pessoas por só falar a língua desse país que se resumia a “Ou! Ou!”.

Mas o Natal deste ano é agora diferente. É que ontem o meu Avô comprou-me um fatinho vermelho de ajudante do Pai Natal e levou-me para um cantinho da casa para me dizer um segredo.

Que aquele fatinho era para mim, que, este ano, eu é que iria ser a ajudante principal do Pai Natal. E que, como eu já vou fazer seis anos, já estava na altura de saber a verdade sobre a magia do Pai Natal. Na escola os outros meninos não tardariam a gozar comigo por eu ainda acreditar no Pai Natal. E que, por isso, me dizia que o Pai Natal é faz de conta, que é um teatro que se faz para encantar as crianças e os adultos. E que, desta vez, ela iria ser a ajudante mais competente do mundo para o Pai Natal poder fazer bem o seu trabalho. Mas isto era segredo e eu não podia dizer nada a ninguém, pois temos de continuar a encantar as crianças e os adultos que vão estar na nossa festa de Natal.

Obrigado Pai Natal pelo fatinho, pela tua magia, pelo teu calor e pela confiança em me quereres para tua ajudante principal.

Por tudo isso, este Natal ficará na minha recordação como muito mágico e especial.

P. S. – Desta vez, por ser Natal, o Dicforte deu expressão a uma criança numa história imaginada. É meramente fortuita qualquer coincidência com a realidade.