Casco Antiguo visto do Cerro de Ancón
Fundado oficialmente em 21 de Janeiro de 1673, este Bairro conserva as características próprias da arquitectura colonial dos séculos XVI e XVII, sendo possível identificar, a partir dela, se os primitivos proprietários eram franceses, italianos ou espanhóis.
Na verdade, há casas com a mansarda francesa, outras com as janelas ao gosto italiano, nomeadamente da Toscânia, e outras, ainda, ao gosto das províncias do sul de Espanha.
Há espaços em que temos a impressão de estar em Macau ou em Goa, dada a semelhança arquitectónica com edifícios que encontrámos nesses territórios. Recordamos que, entre 1585 e 1640, a região do Panamá fazia parte, como Portugal, dos vastos domínios da Coroa de Espanha.
É possível que, nessa altura, tivessem ido para o Panamá alguns religiosos, militares e marinheiros recrutados em Portugal.
Achamos que as três praças principais, a da Catedral Metropolitana, a Prança Bolívar e a Praça Francesa, têm encantos especiais. Saindo da Praça Francesa em direcção ao mar, entra-se no Passeio Esteban Huertas, passagem construída sobre a anterior muralha, rodeada de buganvílias de diversas cores que acompanham o Passeio em forma de arco, dando-lhe um aspecto romântico.
Há aí vários postos de venda de artigos de artesanato, nomeadamente coloridas peças de roupa e utensílios diversos com os sinais da cultura dos índios kunas. Desse passeio, quando a maré está baixa, avistam-se as torres de um submarino alemão que ali encalhou durante a segunda guerra mundial, quando se dirigia ao Canal para o sabotar. Pelos vistos escolheu o caminho errado. Não conseguimos saber o que aconteceu à tripulação.
Andando pelas ruas, notamos que está a ser feito um grande esforço para recuperar as construções no seu primitivo esplendor. Junto à Catedral está uma tabuleta informando que há a ajuda da União Europeia.
No entanto, há ainda muitos edifícios degradados e, diria mesmo, em ruínas.
A grandeza dos edifícios leva-nos a concluir que só as ordens religiosas e a gente mais abastada é que conseguiram construir casa dentro das muralhas. Os mais pobres ficaram de fora. A cidade estendeu-se rapidamente, e esta extensão é, ainda hoje, uma palpitante área comercial com grandes aramazéns e estabelecimentos de vários produtos e muitas tendinhas na rua. Também há lá grandes edifícios coloniais quase em ruínas.
O tema da recuperação do Casco Antíguo é uma das actualidades discutidas na imprensa panamiana, que aponta o mau gosto de algumas recuperações e a lentidão de todo o processo, apesar dos apoios governamentais, e ainda a falta de soluções para o grande problema do trânsito e do parqueamento automóvel.
Um bairro com as características do Casco Antíguo merecia ser todo transfomado em zona pedonal, para o que deveria ser encontrada uma solução que permitisse aos visitantes estacionar os automóveis e autocarros num parque moderno e espaçoso nos arredores.
Mesmo assim, é muito agradável passear pelo Bairro, havendo bons locais para almoçar ou simplesmente beber algo refrescante.
Destaco apenas os quatro monumentos que mais me impressionaram:
- A Catedral Metropolitana - A sua fachada com a parte central na cor natural da pedra contrasta com a cor das duas torres caiadas de branco. O interior da igreja é bonito, por ser espaçoso, pelos vários vitrais das janelas laterais, cada um deles simbolizando uma das ordens religiosas que estiveram ou estão no Panamá. É rico pelos quadros, pelos altares e pelas imagens dos santos. É de notar um retrato do Papa João Paulo II que aí esteve em 1983. No entanto, sentimos alguma tristeza quando vemos que a igreja não está muito cuidada, nomeadamente em termos de limpeza e da exposição do património. Alguns dos quadros estão desalinhados e tortos e outros ali postos às três pancadas, sem um mínimo de gosto e sem qualquer critério.
- O Arco Plano nas ruínas da Igreja de S. Domingos - Este arco teve uma extraordinária importância para a vida do Panamá, pois foi havido como a prova visível de que o País não está em zona sísmica, pois uma oscilação mínima tê-lo-ia derrubado. O tipo de solução encontrada para a construção do Canal teve em conta essa observação, que também é, de certo modo, responsável pela opção de construir a moderna cidade numa ambição de chegar ao céu, como aconteceu na história bíblica da Torre de Babel.
- A Igreja de S. José - Esta igreja é a mais visitada no Panamá. É vulgarmente conhecida pela igreja do altar de ouro. É rica em estatuária religiosa. O altar de ouro foi trazido, peça a peça, da cidade velha. Todos os guias turísticos contam a história de que, ainda nessa cidade, escapou por um triz ao saque do corsário Hanry Morgan, porque os frades lhe deram, à pressa, uma borradela com uma espécie de tinta preta, para disfarçar o dourado. Henry Morgan ainda teve na mão uma peça do altar e chegou a dar ordem para o removerem. Depois desistiu quando se certificou que afinal era apenas de madeira pintada de preto. É uma excelente relíquia de talha dourada do princípio do século XVII.
- E finalmente, o edifício da Presidência da República, onde o Presidente Ricardo Martinelli trabalha e dá as suas recepções oficiais.
O Casco Antiguo, para ser devidamente apreciado, merece mais do que uma visita apressada e ser visto também à noite. As surpresas e as histórias contadas por uma guia conhecedora aparecem a cada passo.
2 comentários:
Não sei se te esqueceste de dizer o seguinte: a primeira visita que fizemos ao Casco Antiguo foi guiada e gratuita. Na praça onde se encontra a Catedral, fomos abordados por uma senhora, identificada como funcionária do governo, que se ofereceu para nos guiar. Fê-lo com competência e, por isso, pudemos ir até à porta do Palácio Presidencial. Se estivêssemos sozinhos, a guarda presidencial não nos teria deixado passar.
Depois de almoço, quando já estávamos sozinhos, entrámos numa divisão das Bóvedas, em cuja porta estava escrito "Galeria de Arte" e logo apareceu um guia para nos explicar tudo, tudo sobre aquela zona da Praça de França.
Ao saber a nossa origem, deu-nos os parabéns pelo Ronaldo e pela "boa exibição" da nossa selecção contra a Argentina.
No outro dia ouvi outra história sobre o "factor decisivo" para a instalação do Canal aqui no Panamá. Estariam em reunião a discutir o tema - a dúvida era entre o Panamá e a Nicarágua - até que um ministro panamenho mostrou um selo do outro país em que era representado... um vulcão. :D
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