sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Panamá 2011 - O "Casco Antiguo" é património da Humanidade

Casco Antiguo é designação da velha cidade do Panamá, na sua segunda localização, pois substituiu outra ainda mais antiga abandonada devido à sua fraca segurança, após o saque do corsário inglês Henry Morgan. É um bairro histórico que foi declarado património da Humanidade pela UNESCO em 1997.  E, após visitarmos o local, verificámos que há razões de sobra para isso.

 Casco Antiguo visto do Cerro de Ancón

Fundado oficialmente em 21 de Janeiro de 1673, este Bairro conserva as características próprias da arquitectura colonial dos séculos XVI e XVII, sendo possível identificar, a partir dela, se os primitivos proprietários eram franceses, italianos ou espanhóis.


Na verdade, há casas com a mansarda francesa, outras com as janelas ao gosto italiano, nomeadamente da Toscânia, e outras, ainda, ao gosto das províncias do sul de Espanha.


Há espaços em que temos a impressão de estar em Macau ou em Goa, dada  a semelhança arquitectónica com edifícios que encontrámos nesses territórios. Recordamos que, entre 1585 e 1640, a região do Panamá fazia parte, como Portugal, dos vastos domínios da Coroa de Espanha.


É possível que, nessa altura, tivessem ido para o Panamá alguns religiosos, militares e marinheiros recrutados em Portugal.


Achamos que as três praças principais, a da Catedral Metropolitana, a Prança Bolívar e a Praça Francesa,  têm encantos especiais. Saindo da Praça Francesa em direcção ao mar, entra-se no Passeio Esteban Huertas, passagem construída sobre a anterior muralha, rodeada de buganvílias de diversas cores que acompanham o Passeio em forma de arco, dando-lhe um aspecto romântico.


Há aí vários postos de venda de artigos de artesanato, nomeadamente coloridas peças de roupa e utensílios diversos com os sinais da cultura dos índios kunas. Desse passeio, quando a maré está baixa, avistam-se as torres de um submarino alemão que ali encalhou durante a segunda guerra mundial, quando se dirigia ao Canal para o sabotar. Pelos vistos escolheu o caminho errado. Não conseguimos saber o que aconteceu à tripulação.


Andando pelas ruas, notamos que está a ser feito um grande esforço para recuperar as construções no seu primitivo esplendor. Junto à Catedral está uma tabuleta informando que há a ajuda da União Europeia.

No entanto, há ainda muitos edifícios degradados e, diria mesmo, em ruínas.


A grandeza dos edifícios leva-nos a concluir que só as ordens religiosas e a gente mais abastada é que conseguiram construir casa dentro das muralhas. Os mais pobres ficaram de fora. A cidade estendeu-se rapidamente, e esta extensão é, ainda hoje, uma palpitante área comercial com grandes aramazéns e estabelecimentos de vários produtos e muitas tendinhas na rua. Também há lá grandes edifícios coloniais quase em ruínas.


O tema da recuperação do Casco Antíguo é uma das actualidades discutidas na imprensa panamiana, que aponta o mau gosto de algumas recuperações e a lentidão de todo o processo, apesar dos apoios governamentais, e ainda a falta de soluções para o grande problema do trânsito e do parqueamento automóvel.

Um bairro com as características do Casco Antíguo merecia ser todo transfomado em zona pedonal,  para o que deveria ser encontrada uma solução que permitisse aos visitantes estacionar os automóveis e autocarros num parque moderno e espaçoso nos arredores.

Mesmo assim, é muito agradável passear pelo Bairro, havendo bons locais para almoçar ou simplesmente beber algo refrescante.

Destaco apenas os quatro monumentos que mais me impressionaram:

- A Catedral Metropolitana - A sua fachada com a parte central na cor natural da pedra contrasta com a cor das duas torres caiadas de branco. O interior da igreja é bonito, por ser espaçoso, pelos vários vitrais das janelas laterais, cada um deles simbolizando uma das ordens religiosas que estiveram ou estão no Panamá. É rico pelos quadros, pelos altares e pelas imagens dos santos. É de notar um retrato do Papa João Paulo II que aí esteve  em 1983. No entanto, sentimos alguma tristeza quando vemos que a igreja não está muito cuidada, nomeadamente em termos de limpeza e da exposição do património. Alguns dos quadros estão desalinhados e tortos e outros ali postos às três pancadas, sem um mínimo de gosto e sem qualquer critério.


- O Arco Plano nas ruínas da Igreja de S. Domingos - Este arco teve uma extraordinária importância para a vida do Panamá, pois foi havido como a prova visível de que o País não está em zona sísmica, pois uma oscilação mínima tê-lo-ia derrubado. O tipo de solução encontrada para a construção do Canal teve em conta essa observação, que também é, de certo modo, responsável pela opção de construir a moderna cidade numa ambição de chegar ao céu, como aconteceu na história bíblica da Torre de Babel.


- A Igreja de S. José - Esta igreja é a mais visitada no Panamá. É vulgarmente conhecida pela igreja do altar de ouro. É rica em estatuária religiosa. O altar de ouro foi trazido, peça a peça, da cidade velha. Todos os guias turísticos contam a história de que, ainda nessa cidade, escapou por um triz ao saque do corsário Hanry Morgan, porque os frades lhe deram, à pressa, uma borradela com uma espécie de tinta preta, para disfarçar o dourado. Henry Morgan ainda teve na mão uma peça do altar e chegou a dar ordem para o removerem. Depois desistiu quando se certificou que afinal era apenas de madeira pintada de preto. É uma excelente relíquia de talha dourada do princípio do século XVII.


- E finalmente, o edifício da Presidência da República, onde o Presidente Ricardo Martinelli trabalha e dá as suas recepções oficiais.


O Casco Antiguo, para ser devidamente apreciado, merece mais do que uma visita apressada e ser visto também à noite. As surpresas e as histórias contadas por uma guia conhecedora aparecem a cada passo.

2 comentários:

Mariana Ramos disse...

Não sei se te esqueceste de dizer o seguinte: a primeira visita que fizemos ao Casco Antiguo foi guiada e gratuita. Na praça onde se encontra a Catedral, fomos abordados por uma senhora, identificada como funcionária do governo, que se ofereceu para nos guiar. Fê-lo com competência e, por isso, pudemos ir até à porta do Palácio Presidencial. Se estivêssemos sozinhos, a guarda presidencial não nos teria deixado passar.
Depois de almoço, quando já estávamos sozinhos, entrámos numa divisão das Bóvedas, em cuja porta estava escrito "Galeria de Arte" e logo apareceu um guia para nos explicar tudo, tudo sobre aquela zona da Praça de França.
Ao saber a nossa origem, deu-nos os parabéns pelo Ronaldo e pela "boa exibição" da nossa selecção contra a Argentina.

Billy disse...

No outro dia ouvi outra história sobre o "factor decisivo" para a instalação do Canal aqui no Panamá. Estariam em reunião a discutir o tema - a dúvida era entre o Panamá e a Nicarágua - até que um ministro panamenho mostrou um selo do outro país em que era representado... um vulcão. :D