segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A PAISAGEM QUEIMADA, QUE DESOLAÇÃO!

Numa postagem anterior em que falava das concentrações de andorinhas e de cegonhas, pus a hipótese de tal fenómeno, quase simultâneo, poder ser atribuído ao cheiro a queimado que pairava no ar, se bem que os fogos que eram noticiados estavam bem longe da minha aldeia.

Há dias chegou-me a notícia de que um fogo grande tinha passado por lá e tinha atingido uma das minhas propriedades.

No domingo passado, resolvi acordar cedo e ir ver com os meus próprios olhos os danos e assistir ao nascer do sol que, nesta altura do ano, surge glorioso por cima das serras da Malcata e da Senhora da Póvoa.

Há experiências que nunca conseguimos transmitir aos outros porque a descrição, por mais tentada e ensaiada que seja, nunca é completa, por não ser capaz da transmitir todas as componentes do ambiente complexo do cenário, dos cheiros, dos sons e das sensações.

Toda a vista para a serra do lado norte é negra e desoladora.


O intenso cheiro a queimado condiz com a vasta paisagem de carvão. O fogo começou muitos quilómetros acima, na Quinta de Santo António, e veio por aí abaixo consumindo o mato, carvalhos, castanheiros, cerejeiras, oliveiras e vinhas. Não há aves como há uns tempos atrás, a não ser um grupo de corvos que, mesmo ali em frente, andam numa roda viva, talvez debicando os restos do cadáver de um animal de maior porte que terá perecido no incêndio.


E quando o sol surge, tem dificuldade em passar por entre uma densa neblina de fumos de fogos ainda recentes, ou talvez ainda activos.

Com sorte, começo a ver o verde das minhas oliveiras e videiras, numa mancha de verdura que conseguiu escapar à orgia incendiária de demónios, não imaginários, mas reais.


Olho mais atentamente e verifico que apenas as filas de videiras mais perto dos vizinhos foram atingidas.


Mas mais abaixo sou particularmente tocado pela tristeza, quando verifico que cerca de vinte oliveirinhas, já plantadas por mim e que já começavam a dar fruto, estão tostadas. Toco-lhes na rama e esta desfaz-se em pó. Dobro um ramo e ele parte-se já sem vida.

Mais desolado fico quando observo a propriedade do meu vizinho.


A última vez que o encontrei ali, já uns dois anos atrás, ele, embora de idade avançada, andava de enxada em punho a fazer os cadabulhos junto às oliveiras. Não se cansou de me transmitir o seu grande amor a tudo aquilo. Há muitas dezenas de anos que vivia na casa lá em baixo e só tinha ido três vezes à povoação. A sua casa era maior, mas fora atingida violentamente por um raio, vivendo agora na parte que foi poupada. Hoje sei que ele já não está em condições de avaliar a miséria em que a sanha incendiária de malfeitores lhe deixou a vinha e o olival de que durante tantos anos cuidou.



E bastou não os cuidar nos últimos dois anos para agora estarem reduzidos a carvão.



Talvez, por isso, foi colocado, creio que pelo seu filho, numa extremidade junto à estrada, ainda com tinta fresca, o anúncio de venda.

Que tristeza e que desolação para quem ama a terra.

Um pouco mais abaixo, na Quinta do Carvalhal, vou encontrar novamente concentradas as cegonhas junto à manada das vacas da Quinta e aos repuxos da rega. As encostas onde habitualmente procuram o seu sustento estão mortas.


Talvez aí, junto à manada e aos repuxos de água, consigam sobreviver.

3 comentários:

Billy disse...

Que tristeza...

Como é que nos podemos proteger dos incêndios e evitar que estas coisas aconteçam?

Bau disse...

Óóóó... as nossas oliveirinhas!... Quer dizer, a dimensão da tristeza é bem maior, mas as oliveirinhas... Olha, PT, tenho um plano! Discutimo-lo a partir de dia 5? :)

Mariana Ramos disse...

Desolação, mesmo!
Não consigo aceitar que isto nos aconteça todos os verões... há-de haver maneiras de prevenir, em que as despesas até devem ser mais baixas do que os gastos com os incêndios. E poupar-se-iam as populações e os bombeiros destes grandes trabalhos e grandes desgostos.