domingo, 27 de novembro de 2011

Uma história de Natal verdadeira - Quando a esmola é grande …

Vai fazer um ano na próxima Noite de Natal…

No rés do chão do nosso prédio, há uma arrecadação onde o Pai Natal, quando chega na sua visita anual, costuma descansar um pouco, antes de se aprontar para a sua aparição à família. Uma vez ajustado o fato e alinhada a barba e o bigode, ele sobe ao segundo andar, fazendo-se anunciar com o badalar de um sininho que, à despedida, costuma deixar de recordação à criança mais pequena.

No último Natal, o de 2010, uma vez cumprida a sua missão, desceu as escadas do prédio para se dirigir ao seu ponto de descanso e trocar de roupa para continuar a sua alegórica viagem.

Ao chegar ao rés do chão, viu que, encostado à porta envidraçada, se encontrava abrigado um homem que olhava distraidamente para a rua deserta.

O Pai Natal logo o reconheceu, pois costuma andar pelo bairro. É um homem da casa dos setenta, de estatura média, quase sem pescoço, ainda com muito cabelo, quase todo branco, e com uma farta barba grisalha. A vida, por qualquer razão, não lhe terá corrido bem. Anda por ali, com aspecto asseado, rua abaixo, rua acima, sem ter jeito para pedir. No entanto, os seus olhos vivos sorriem quando se cruza com os seus benfeitores conhecidos, a quem saúda delicadamente. Se o benfeitor esboça o gesto de meter a mão ao bolso, ele muda de direcção e vai ao seu encontro. Se não, pronuncia uma saudação amável e continua sorridente no seu percurso, acariciando a barba.

Naquela noite, o Pai Natal, ao vê-lo ali, acendeu a luz da entrada. De imediato, o homem se virou para olhar para dentro. Ao ver o Pai Natal, os seus lábios mexeram-se e os seus olhos encheram-se de uma luminosa estupefação. Ficou petrificado quando viu o Pai Natal avançar para ele, abrir a porta e oferecer-lhe uma nota de banco azul que ele agarrou com sofreguidão. Viu rapidamente o valor da nota e, sem dizer uma palavra, virou as costas e pôs-se literalmente em fuga pela calçada acima, olhando ligeiramente para trás apenas quando já estava a virar para a rua contígua. O seu olhar ainda se cruzou com o do Pai Natal que, no passeio, lhe fazia um adeus aberto com os dois braços.

E assim desapareceu na noite fria, no momento em que dobrou a esquina. O Pai Natal ainda ali esteve alguns minutos, olhando e esperando que ele voltasse atrás para ao menos dizer “Obrigado Pai Natal”.

Mas esse homem, que o Pai Natal conhecia, teve medo que tudo aquilo fosse apenas uma fantasia, onde o valor pouco habitual da esmola lançou toda a confusão.

É caso para lembrar o ditado popular que diz que quando a esmola é grande o pobre desconfia.

Natal de 2011

2 comentários:

Mariana Ramos disse...

Que bela maneira de começar a época natalícia 2011!
Os leitores desejam que este blogue volte a ser um espaço de novidades mais frequentes.
Que ausência foi esta?
Bjs
M

Billy disse...

Faço minhas as palavras da anterior comentadora.

Gostei tanto deste regresso que difundi através de twitter o link para esta história.

Beijinhos!