terça-feira, 6 de abril de 2010

A SORTE DE TER QUATRO TERRAS

Quando chega o fim de semana e me preparo para ir à aldeia, costumo dizer aos meus amigos e colegas de trabalho que vou à minha terra. A resposta deles é quase sempre a mesma: Que inveja! Eu fico por cá porque sou de Lisboa e não tenho terra para ir.

Assim, ser de Lisboa é equivalente a não ter uma terra natal. A imensidão da cidade é demasiado vasta para caber no conceito tradicional de terra de origem, igual a uma simpática e marcante aldeia ou vila provinciana.
Contudo os meus sentimentos levam-me a pensar de outro modo e a sentir que, na verdade, tenho quatro terras. Aquela aldeia beirã, a Capinha, no concelho do Fundão, onde nasci e onde vivi permanentemente até aos onze anos. A cidade de Lisboa onde resido e tenho a minha casa de família. Macau onde estive o tempo suficiente para sentir tantas saudades como se fosse a minha terra de origem. E o Baixo Alentejo por onde andei nos tempos do serviço militar e onde criei raízes de casamento.

Por tradição da família, o Alentejo é o ponto de encontro obrigatório no domingo de Páscoa e é sempre com enorme encanto que me reencontro com aquelas paisagens sem fim, de horizontes rasgados, onde pontualmente descobrimos locais naturalmente belíssimos. E então num dia de sol ameno como o domingo de Páscoa deste ano, com a natureza exuberante, sem sede de água, a rebentar em mãos cheias de flores polícromas, roxas, azuis, lilases amarelas e brancas, dá gosto levantar os braços, respirar fundo e encher os pulmões de ar.
No Alentejo há novamente muitos ninhos de cegonha branca que, aqui e ali poisam para nos fazer companhia e para tornar a paisagem mais animada e colorida.

                                                       Paisagem com cegonhas

Este ano, o nosso passeio familiar incluiu a visita ao Pulo do Lobo, no Rio Guadiana e à praia fluvial das Minas de S. Domingos, no concelho de Mértola.

O Pulo do Lobo é uma estreita e funda garganta cavada pelo caudal do Rio na rocha de xisto, garganta essa que um lobo pode transpor com um simples salto. Este ano, o caudal do Rio é farto e, ao passar a garganta, ruge assustadoramente, atirando-se para a frente em rápidos remoinhos e levantando uma nuvem de água pulverizada que nos acaricia e humedece a face e nos entra nos pulmões com a mistura aromática do cheiro selvagem em que se destaca o das estevas. É interessante ver os veios encrespados da rocha de xisto transversais ao sentido do curso do Rio e observar os recortes que, aqui e ali, têm formas exóticas, por vezes de animais, por vezes de pequenos ramos sem folhas ou simplesmente parecem caprichosos esboços artísticos.

O Pulo do Lobo no Rio Guadiana

A Praia Fluvial da Mina de S. Domingos é interessante pela sua história e pelo seu ambiente natural. Agora, na Primavera, parece um paraíso. Mas no Verão, deve saber mesmo a paraíso.

A Praia Fluvial da Mina de S. Domingos

Recomendo aos amigos que me visitam que, calhando, não deixem passar a oportunidade de visitarem estes belos lugares.


1 comentário:

Billy disse...

Gostei muito do relato! E não é que senti o perfume do ar alentejano?