Os noticiários, contudo, falam de factos dramáticos, num tom severo como se estivessem a relatar a terceira guerra mundial. Da Rússia ao Paquistão, passando pela Alemanha, Checoslováquia e Lituânia, há importantes forças terrestres e aéreas em acção contra incêndios e inundações de catastróficas dimensões. Na Rússia, há aldeias inteiras queimadas, com muitos mortos. E agora acaba de aparecer a notícia da destruição, pelo fogo, de uma fábrica de sofisticado armamento.
É a guerra global de um inimigo tentacular, desconhecido, só visível pelos danos trágicos que provoca.
O nosso País não foge a este cenário de catástrofe. Na última semana, houve uma média superior a 400 fogos diários. Num só dia, foram 451, quase todos a norte do Rio Mondego, precisamente a zona do País em que há mais desemprego. Estão a arder, nomeadamente, a Serra da Gralheira, em S. Pedro do Sul, o Parque Natural do Gerês, as serras de Tabuaço. Os meios terrestres e aéreos são elevados, mas não o suficiente para apagar a tempo esses inexplicáveis fogos que continuam a devastar as nossas florestas.
Há uma neblina a encobrir o céu. Parece ser uma mistura de humidade com fumo, pois, embora não havendo notícia de fogos nas proximidades da aldeia, a Capinha, é notório um marcante odor a queimado.
Não sei bem se, por virtude desta neblina híbrida e do cheiro a queimado ou por outra razão qualquer, foi possível observar, quase à mesma hora, dois fenómenos da natureza que parecem inusitados: uma enorme concentração de andorinhas e outra de cegonhas.
A Rua do Espírito Santo, na Capinha, foi o sítio escolhido pelas andorinhas. Em todos os fios e antenas que lhes podem servir de poiso, os espaços estão milimetricamente ocupados por centenas, talvez milhares dessas graciosas aves, que comunicam entre si através de constantes e estridentes chilreios.
Postadas nos fios, parecem ter receio de levantar voo para não perderem o lugar. Por vezes, esticam uma asita, depois a outra, alisam as penas com os bicos e esticam a cabeça, como que a espreguiçar-se.
As mais atrevidas lá ensaiam um voo breve, a fazer o teste de que tudo está pronto para a grande viagem da migração anual para outras paragens. Mas quando voltam, o seu lugar já está ocupado e retomam o voo para ir procurar um outro poiso um pouco mais longe.
O seu auto-teste de aptidão é feito em voos mais demorados, subindo em espiral até uma altura considerável e esvoaçando depois em círculos com leve perda de altura até voltarem novamente a poisar.
Esperava que libertassem os sons característicos do matraquear dos seus bicos. Mas é enorme o silêncio para um tão elevado número de cegonhas.
Gostava de poder dar resposta cabal a estas questões.
(Nota: As fotos das cegonhas foram tiradas por Sebastien Poupier)
4 comentários:
Gostei muito do relato e das fotografias. Fiquei de boca aberta com as duas concentracoes!
Que concentrações espectaculares! E o relato também... as fotografias são não só espectaculares como uma ternura. Obrigada PT!
As saúdades destas que trazem estas fotos...
algumas imagens de capinha por aqui
http://www.youtube.com/results?search_query=amax2006
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