O Bolo do 42.º Aniversário do Embarque para a Guiné
O reencontro do batalhão foi muito concorrido. Apareceram muitos dos antigos camaradas, quase todos acompanhados por familiares. Foi um arraial de exclamações e de abraços viris, sentidos, com palmadas nas costas que se ouviam a metros de distância, quase sempre seguidos de uma troca de olhares incrédulos, por vezes acompanhados por um passar de mãos pela cara e pelos cabelos, num gesto de incredibilidade, em que as coisas não pareciam ser reais e em que era preciso tocar para crer como fez S. Tomé.
O encontro da Companhia dos Vampiros, a 2367
Assim aconteceu comigo no abraço que dei ao 1.º Sargento Santos que foi o meu companheiro na comissão de quartéis na longa viagem do rongue-ronge do avião da força aérea. Bem disposto e em forma, fez um esforço heróico para ir a este encontro, que a mulher e a filha, amorosas e dedicadas, generosamente lhe proporcionaram. Dizia-me a filha que o conduziu:
- Foi difícil. De Almada até aqui tivemos de parar três vezes nas estações de serviço, mas valeu a pena.
O amigo Sargento Santos com a mulher
Triste vai Pedro Soldado,
Num barco da nossa armada.
Leva o seu nome bordado
Num saco cheio de nada.
Triste vai Pedro Soldado.
Geravam-se quase sempre coros espontâneos que ecoavam como um lamento que ficava no ar. As conversas voltavam, mas logo se quedavam por instantes, dando origem a curtos intervalos de silêncio, que se repetiam cada vez mais curtos até a algazarra se instalar de novo e tomar conta do ambiente. Quando o primeiro momento de silêncio aparecia, era como se todos esperassem que acontecesse qualquer coisa que ninguém sabia o que era.
E o abraço que dei ao Alferes Moutinho Santos que agora é um dos impulsionadores da ONG “Tabanca Pequena” que tem como objectivo angariar fundos para a instalação de sistemas de água potável nas zonas rurais da Guiné (http://tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/).
Admiro o carola organizador deste encontro, o Albino Silva, que desta vez levou um livro todo em verso, intitulado “Armados para a Paz”, onde conta a sua história em 63 páginas. São particularmente interessantes os versos dedicados à Madrinhas de Guerra e às Lavadeiras da Guiné que lavavam a roupa dos militares. Transcrevo a primeira e última quadras desse livro:
Camaradas da CCS
42 anos já lá vão
Quando fomos para a Guiné,
Unidos em Batalhão.
Somos Nós neste País
Que mal nos tem tratado
ORGULHOSOS COMBATENTES
POR TER PORTUGAL HONRADO.
E dou o meu total acordo à conclusão final.
2 comentários:
Já te disse que gostei muito do convívio deste ano?
Bjs.
M
Que relato tão emocionante! Deve ter sido muito bonito reencontrar os amigos de outros tempos e de outra situação. Ainda bem que o Portugal de hoje é tão diferente, com crise(s) e tudo.
P.S. - gosto muito da forma como contas as histórias!
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