domingo, 12 de setembro de 2010

AS TAPEÇARIAS DE PASTRANA

“A Invenção da Glória, D. Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana” é o título de uma exposição temporária que, há já alguns meses, está a ser divulgada pelo Museu Nacional de Arte Antiga para o período de 12 de Junho a 12 de Setembro de 2010. (Prazo agora alargado até ao próximo dia de 3 de Outubro!).

Portanto, hoje seria o último dia da exposição e eu ficaria com pena se não a fosse ver. Parece impossível que, estando o Museu a 10 minutos a pé da minha casa, eu tenha deixado esgotar o prazo com o risco de perder a oportunidade de ver estes tapetes históricos.

Porque, no último dia, costuma haver muita gente, decidi ir mais cedinho. Valeu a pena.

As quatro tapeçarias expostas são, na verdade, um monumental retrato colorido de duas importantes acções militares de D. Afonso V: 3 respeitam à tomada de Arzila, em 24 de Agosto de 1471 e a quarta retrata a ocupação de Tânger, poucos dias depois, em 28 de Agosto. O Rei e o seu filho primogénito, futuro D. João II, são aí enaltecidos.


Tapeçaria do cerco

São tapetes enormes, em lã e seda, com cerca de onze metros por quatro e com uma diversidade cromática que nos encanta. Por outro lado, há um sem número de personagens equipados com armas e bagagens conforme o uso daquele tempo.

Segundo a explicação que nos foi dada, as tapeçarias foram confeccionadas poucos anos depois dos referidos acontecimentos, o que faz aumentar o seu valor como documento histórico. Até então, não era costume reproduzir em tapeçarias factos da história coeva. O uso era confeccionar lindas tapeçarias com cenas bíblicas ou mitológicas.


Pormenor da tapeçaria do assalto

Embora sejam conhecidas como Tapeçarias de Pastrana, não se sabe quem desenhou os cartões que terão servido de molde aos tecelões da oficina Passchier Grenier, de Tournai, da Flandres. No entanto, parece certo que o artista era flamengo, pois Arzila e Tânger aparecem desenhadas com toque da arquitectura flandrina. As características distintivas introduzidas, apenas alguns minaretes, terão resultado de informação oral.

Pastrana é a localidade onde se encontram guardadas, a 200 kms de Madrid, na Igreja da Colegiada de Nossa Senhora da Assunção, sendo propriedade da Diocese local. Não se sabe sequer se alguma vez já tinham estado em Portugal.

Um pormenor interessante é o facto de a tapeçaria do desembarque apresentar um elevado número de mortos amontoados pelo mar junto às muralhas, havendo outros a flutuar. Segundo as crónicas, no desembarque, perderam-se cerca de 200 homens dos 30.000 da expedição, mais por imprudente precipitação do que por outras razões. É certo que o mar estava agitado, mas o Rei, impaciente, decidiu entrar num bote e remar para terra. E uma boa parte do exército decidiu fazer o mesmo, entrando à molhada nos botes de desembarque, alguns dos quais, sobrecarregados, logo se afundavam com o movimento das primeiras ondas.

Nas tapeçarias todos os milhares de figurantes são representados de modo diferente. Não conseguimos ver nelas dois bonecos iguais.

D. Afonso V no seu cavalo

Quem terá encomendado estas tapeçarias? Quem as terá pago? Por que razão não vieram para Portugal? Como foram parar à propriedade da Igreja Espanhola? Estas são algumas das muitas questões relativas às Tapeçarias, para as quais ainda não há resposta.

Em certo momento, nem sequer lhe atribuíram grande valor, uma vez que duas delas foram mutiladas longitudinalmente para se ajustarem ao espaço em que foram dependuradas. Ainda há poucos anos estavam em muito mau estado de conservação, com buracos que, nalguns casos, atingiam vinte centímetros de diâmetro. Foram recentemente primorosamente recuperadas pela Fundação Carlos Amberes e espera-se que, quando regressarem à casa de origem, aí já possam encontrar um espaço com as devidas condições de conservação.


A entrada em Tânger

Um boa notícia final: a Guia que nos acompanhou na visita informou-nos de que o prazo da exposição foi prolongado até ao dia 3 de Outubro.

É uma oportunidade a não perder. Depois já só será possível ver estas tapeçarias no estrangeiro.

2 comentários:

Mariana Ramos disse...

Quem é que lá te levou, quem foi?

Billy disse...

Gostei muito do relato. Espero ainda aproveitar!