quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Panamá 2011 - A cidade do Panamá e os Piratas

Os Piratas das Caraíbas fazem parte do nosso imáginário de criança devido às interessantes histórias de banda desenhada, filmes e livros com textos de aventuras. Quem já visitou a Disneylândia certamente que não deixou escapar o interessante módulo Piratas das Caraíbas que, num ambiente quase real, nos leva ao exótico confronto com eles e com os seus gritos de guerra.

Eles surpreendiam com ousadia as embarcações e povoações costeiras, pilhando-as, aprisionando-as e, por vezes, destruindo-as na totalidade.

As Caraíbas ficam no lado Atlântico do Panamá. E a cidade com este nome fica no lado oposto, ou seja, no lado do Pacífico.

Isto pode dar a ideia de que a cidade esteve sempre livre de assaltos. Contudo, também lá os piratas foram uma realidade. Mas enquanto que nas Caraíbas eles andavam em pequenos bandos, na costa do Pacífico apareceram com uma organização bem mais poderosa.

O local onde inicialmente foi estabelecida a Cidade do Panamá, por estar na costa oposta à das Caraíbas,era considerado seguro. A passagem para o Pacífico era difícil, e pensava-se que este mar, tão vasto como desconhecido, não teria condições para abrigar piratas.

Foi neste enquadramento histórico que a cidade do Panamá foi fundada, na sua primeira versão, em 15 de Agosto de 1519, pelo Governador Pedro Arias de Ávila, também conhecido por Pedrarias d'Ávila, ou seja, o sogro de Balboa. Como já referi noutro post, Balboa foi decapitado dois anos antes em Darien, após um processo muito rápido e sumário movido por Pedrarias.  Este acusou Balboa de traição ao Rei de Espanha e nada o fez deter. Assistiu sereno à decapitação do genro e mais alguns dos seus homens apenas a dois metros de distância. A prova no processo foi feita por dois dos subordinados de Balboa a quem Pedrarias prometeu que lhes pouparia a vida e os recompensaria se eles testemunhassem contra o seu comandante. E assim aconteceu.

Pedrarias era mais invejoso que estratega. E, ao fundar a cidade no local em que primeiramente esta existiu, falhou totalmente em termos de segurança.

Na verdade, o mundo foi-se tornando mais pequeno à medida que eram feitas as decobertas e as viagens se iam tornando rotina. No oceano Pacífico, desenvolveu-se um tipo de pirataria bem mais poderosa e organizada, operando como verdadeiras esquadras de guerra, com muitas centenas de homens. São conhecidas as histórias surprendentes de alguns famosos corsários ingleses.

A cidade antiga do Panamá, segundo a reconstituição dos entendidos, teria, em 28 de Janeiro de 1671, cerca de 10.000 habitantes e a aparência da imagem a seguir reproduzida.


Reconstituição histórica da parte central da cidade.


Ora, na madrugada desse dia, quando a escuridão da noite ainda mantinha a população adormecida, os habitantes foram surpreendidos com a dura realidade de que a cidade estava totalmente cercada por cerca de 1.200 homens do corsário inglês Henry Morgan. As primeiras reacções foram brutalmente reprimidas e toda a população ficou petrificada pelo terror. Um grande número de homens e mulheres é capturado, sendo os cativos amarrados de modo a impedir-lhes qualquer movimento reactivo. Os homens interessavam aos piratas para a execução de trabalhos forçados e para pedidos de resgate. As mulheres interessavam-lhes para a execução de trabalhos, para pedidos de resgate e para o prazer.
Morgan esteve tão à vontade que teve os cativos durante horas na praça. Familiares foram aí tentar resgatá-los e Morgan estabelecia os preços. As famílias desfizeram-se em esforços para arranjar tudo o que podiam para ir resgatar os seus entes queridos. Alguns conseguiram. Outros não. No fim, Morgan saiu com um cortejo de 600 cativos amarrados uns aos outros num coro de gritos que chegavam ao céu. Com eles iam 175 mulas carregadas de ouro e objectos valiosos. Nem os vasos sagrados das igrejas escaparam. E muitas outras mulas seguiam depois carregadas com grandes quantidades de mantimentos de vários géneros que obteve pelo resgate de alguns cativos. E carregou tudo nos seus barcos tranquilamente sem ser molestado.

Aspecto parcial da cidade em ruínas. Muita da pedra dos edifícios foi levada para a nova cidade.

A cidade ficou destroçada.


A imponente torre da catedral ainda se mantém de pé. O espaço da antiga catedral é aproveitado para eventos recreativos e culturais. Não a pudemos visitar porque nela estava armada uma sala de espectáculos onde iria actuar o cantor Yanni.

A seguir muita gente apavorada saiu dali para outros locais. A população que ficou tomou a decisão de abandonar o local e criar uma cidade nova numa ponta junto ao mar, com aspecto de promontório, apenas a meia dúzia de quilómetros de distância.

A capela-mor desta outra igreja é aproveitada para eventos culturais e para festas privadas. Na altura em que a visitámos estava a decorrer uma festa de anos.

A nova cidade do Panamá, também oficialmente fundada por Pedrarias em 21 de Janeiro de 1673, foi desenhada a régua e esquadro, em jeito de Baixa Pombalina. Foi fortificada com altas muralhas e com uma complexa rede de túneis que permitiriam o escape da população em caso de perigo e o abastecimento da defesa em caso de cerco.

Devido à fama das suas capacidades defensivas, nunca nenhum pirata ousou atacá-la. É hoje conhecida por Casco Antiguo  e é um dos locais mais interessantes, e o mais visitado, da cidade do Panamá.

O "Casco Antiguo"  visto da Avelinda Balboa.

O Casco Antiguo é hoje Património da Humanidade. É lá que estão localizados a Presidência da República e alguns dos principais edifícios governamentais, principalmente da área da cultura.

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