domingo, 7 de março de 2010

TROPEÇAR NOS EFEITOS DA CRISE

Esta noite decidimos que íamos ao Monumental ver o filme “ Uma Outra Educação”, ou, no nome original “An Education”, do Lone Scherfig. Conta uma história simples em que, a nós pais, nos deixa a pensar no papel pateta que, sem querer, por vezes desempenhamos, mesmo quando queremos sempre o melhor para os nossos filhos.
Uma colegial brilhante (Carey Mulligan) é desviada do seu percurso por um cavalheiro bem falante (Peter Sarsgaard) que a deslumbra com a possibilidade de uma vida fácil. Até o pai dela, sempre autoritário, se deixa ir no engodo. Mas enganaram-se. O senhor era casado e pai de filhos. E era useiro em fazer dessas coisas. A moça conseguiu recuperar do engano e retomar o seu caminho com determinação, tirando bom proveito da lição.
Mas não é só sobre o filme que quero deixar hoje um registo.
É mais sobre os efeitos da crise.
Eram quase dez da noite. Estava frio e caía uma chuva miudinha. Já perto do edifício Monumental, abrigado no toldo exterior de um restaurante, que estava fechado, encontrava-se um grupo de cerca de doze homens. Alguns estavam sentados em cartões e encostados à parede. Outros estavam de pé a falar em grupo. De repente, parou no local uma carrinha branca da Legião da Boa Vontade. Todos eles se levantaram e dirigiram para a carrinha. Duas senhoras saíram dela, abriram a porta traseira e começaram a distribuir a cada um uma embalagem que me pareceu conter sopa quente e mais qualquer coisa.
Estes homens não tinham ar de maltrapilhos. Todos estavam com roupas asseadas. Ouvi o último que se levantou do chão a olhar para o cartão onde estava sentado e dizer: “Por mim ficava já aqui”. Alguns eram novos e tinham até jeito de ser estudantes. Ao entrar no edifício do cinema olhei para trás e verifiquei que os homens já se encontravam novamente no passeio com as embalagens na mão. A carrinha já estava em movimento, provavelmente para ir ao encontro de mais grupos de pessoas atingidas pelos os efeitos duros da crise.

Fiquei com simpatia por estas senhoras da Legião da Boa Vontade.

1 comentário:

Mariana Ramos disse...

Ainda bem que viste. Assim, já crês, como São Tomé...
E, tal como a Bau disse noutro suporte, isto já existe há muito tempo. A clientela é que é mais selecta agora (efeitos da crise...)
Beijos
M