domingo, 23 de maio de 2010

LÁ ONDE A CRISE COMEÇOU...

No passado sábado, dia 22 de Maio, foi o encontro anual (27.º) dos reformados do Banco de Portugal. Trata-se de um evento que decorre em cada ano segundo a cópia do programa do ano anterior. Uma missa nos Jerónimos e um almoço no Pavilhão de Congressos (antiga FIL). Embora não sendo de participação obrigatória, é para mim o único dia de trabalho obrigatório que ainda me liga ao Banco de Portugal.

Este ano não foi excepção. A igreja do Mosteiro dos  foi fechada ao turismo durante mais ou menos uma hora e encheu-se de reformados e famílias. O Grupo Coral dos Empregados do Banco solenizou a missa, sendo de notar o som maravilhoso do novo órgão. Já o tinha ouvido na televisão durante a visita de Bento de XVI à igreja. Mas ao vivo ouvi-o agora e fiquei maravilhado.

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O novo órgão dos Jerónimos

O intervalo entre a missa e o almoço é o momento do reencontro. São os abraços para compensar a ausência de um ano. E as exclamações de colegas que apenas recordo de cara e que me cumprimentam como se nos víssemos todos os dias. Embaraçado, nem sequer me atrevo a perguntar o nome. E depois fico a matutar quem é ele, quem é, quem é. Aconteceu-me mesmo ter que responder no momento à pergunta sabes quem eu sou. E, claro, errei. Sou muito fraco em memorizar nomes e em ligar caras aos ditos. Isso não é o meu forte.

Havia muita gente. Quinze filas de oito mesas a dez lugares. Fazendo o desconto a algumas mesas não utilizadas e a um ou outro lugar vazio nas mesas ocupadas, não estarei longe da realidade se disser que havia ali 900 pessoas. Como cada reformado podia levar um acompanhante, estarei perto da verdade se disser que havia ali pelo menos 450 reformados.

O almoço

Tantos reformados, Senhor!

Aqui dei por mim a navegar lá no ponto onde a actual crise começou. Na segunda metade dos anos oitenta, quando as instituições europeias começaram a ser criadas. À medida que o Banco Central Europeu ia ganhando forma e as atribuições do Banco de Portugal iam passando para lá, vinham as circulares com os incentivos à reforma e à pré-reforma. Várias centenas de postos de trabalho foram transferidas para o centro da Europa e por cá começavam a ser constituídas as legiões de reformados. Era o verdadeiro começo da crise. A seguir foram desactivadas as alfândegas terrestres. Reformaram os respectivos funcionários e levaram à falência muitos dos despachantes oficiais. Deram subsídios para arrancar vinhas e fechar estábulos. As quotas da pesca, do leite, dos têxteis originavam a extinção de postos de trabalho. Legiões de desempregados passaram a viver do subsídio de desemprego.

E o que irá acontecer quando já não houver fundo de desemprego para ninguém?

Quem for bruxo que adivinhe. Por mim prefiro desejar ardentemente que a crise passe depressa.

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