segunda-feira, 25 de outubro de 2010

UMA RAINHA FORA DE SÉRIE


A série é a das rainhas de Portugal e a fora dela é a Rainha D. Leonor de Lencastre (02-05-1458 a 17-11-1525), mulher de D. João II, ambos primos por serem netos de D. Filipa de Lencastre e de D. João I. Foi, na sua época, uma mulher com uma formação e cultura fora do comum. É considerada, como bem sabemos, a Mãe dos Pobres e a Fundadora das Misericórdias.


No passado sábado, tive oportunidade de visitar o Hospital Termal das Caldas da Rainha, o Museu anexo e a contígua Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, numa viagem muito bem organizada pela Associação de Residentes de Telheiras (ART), aberta também aos amigos destes.

Nós habituamo-nos a passar pelos locais onde, por vezes, notamos que há coisas interessantes. Mas raramente nos preocupamos em parar e vê-las mais em pormenor. Isto porque decidimos deixar essa observação para outro dia, ou porque não sabemos da existência de esquemas organizados que nos poderiam permitir vê-las à luz de uma explicação feita por quem sabe.

Já passei várias vezes pelas Caldas da Rainha, mas creio que só lá parei uma vez e por pouco tempo.

Desta vez, fomos lá de visita dedicada para ver o Hospital Termal.

Uma senhora do Hospital muito bem formada e esclarecida acompanhou-nos na visita, guiando-nos com método, saber, capacidade e entusiasmo. Valeu a pena, pela explicação e pela oportunidade de descer a locais normalmente não acessíveis ao público.

A vetusta Piscina da Rainha
Por estas escadas terá descido e subido muitas vezes a Rainha D. Leonor

A visita aumentou e cimentou a minha admiração por essa grande Senhora que foi a Rainha D. Leonor. Ela pensou e escreveu os fundamentos reguladores das Misericórdias, com uma organização tão bem desenhada que ainda hoje permite que essas instituições funcionem e desempenhem um importante papel no apoio social do nosso País e em muitos locais de além-mar. Lembro-me, por exemplo, da Santa Casa da Misericórdia de Macau, que é lá uma poderosíssima instituição assistencial, obra directa do Bispo D. Melchior Carneiro, mas segundo o modelo criado pela Rainha D. Leonor. E tenho presente, ainda, a Santa Casa da Misericórdia do Fundão, de que, aliás, sou irmão.

Neste tipo de visitas, os guias transmitem normalmente muitas informações que achamos mais ou menos interessantes e que podemos reconfirmar mais tarde nos folhetos de divulgação dos locais. Contudo, por vezes, há guias mais bem apetrechados que nos surpreendem com informações não habituais.

Nesta visita, a nossa guia transmitiu-nos muitos dados já trabalhados pelo seu esforço pessoal.

Achei particularmente interessante o momento em que, estando os visitantes à volta da Piscina Real das Inalações, os pôs a adivinhar sobre quanto tempo demorará uma gota de água a descer desde os cumes da Serra dos Candeeiros, onde é depositada pelas nuvens, até aparecer a borbulhar quentinha e com cheiro medicinal a ovos podres, no fundo daquela piscina, depois de descer às entranhas da terra, ser aí fervida e propulsada para o exterior. Houve quem adiantasse cinco anos, trinta e trinta e cinco. Ninguém se atreveu a ir mais além.

Piscina Real das Inalações

A guia esclareceu, no fim, mencionando fundamentados estudos de catedráticos, que uma gota de água gastará, nesse percurso, cerca de sete mil anos. É obra!

Ala do Hospital Termal reservada a tratamentos
Os nossos “Bem Hajam” à ART e às boas Amigas Teresa e Natália, pelo seu dedicado empenhamento na organização desta visita.

4 comentários:

Mariana Ramos disse...

Sete mil anos é obra!
Eu vi uma bolha a sair do chão, numa das piscinas! Pensar que há cerca de sete mil anos que ela foi gota de chuva!

Billy disse...

Que giro este lugar! Pergunta de quem não sabe: estas instalações ainda são usadas como termas?

PTuny disse...

São usadas e muito concorridas.
PT

Mariana Ramos disse...

Mas a piscina da Rainha e a das Inalações, cujas fotografias estão neste post, fazem parte do Museu. Isto é: não são utilizadas, só visitáveis. No entanto, fazem parte do complexo onde funcionam as termas actuais.
Passaram por nós muitas pessoas, de roupão, que se dirigiam (ou vinham de) aos seus tratamentos.
Muito interessante, a visita!