segunda-feira, 24 de maio de 2010

O 27.º ENCONTRO DOS REFORMADOS DO BANCO DE PORTUGAL

Na postagem anterior estava eu a falar do 27.º Encontro dos Reformados do Banco de Portugal e acabei por me perder no meio da crise e de tanta gente reformada.

Já estava na parte do almoço.

Sentei-me numa mesa com um velho colega e amigo, a mulher deste, um outro colega que é quase meu vizinho e mais dois cavalheiros vindos do Norte. Um deles foi responsável pela Filial do Banco no Porto. Foi ele que nos apresentou o colega que vinha com ele – o Sr. Sousa.

Os discursos de circunstância têm sido feitos, em anos anteriores, pelo Presidente da Comissão de Reformados e pelo Governador do Banco. Mas, pelos vistos, o ainda actual Governador não gosta de despedidas e, este ano, incumbiu um colega administrador para transmitir a sua mensagem de adeus.

A mulher do meu colega assumiu claramente a posição coordenadora, preocupando-se com tudo e com todos, chamando os empregados sempre que entendia que nos faltava alguma coisa. No fim assumiu mesmo o exclusivo de ir ao bufet e trazer-nos as sobremesas.

As recordações começaram a saltar para a mesa, ficando a conversa particularmente animada no ponto em que cada um contou sua vivência na mudança do antes para o pós 25 de Abril de 1974. Foi uma conversa a cinco porque o Senhor Sousa manteve, durante todo o tempo, uma postura silenciosa, olhando apenas furtivamente para cada um de nós. Estava impecavelmente vestido com um fato castanho, que parecia novo. Tinha uma gravata com pinta de boa marca. A certa altura, esborratou a gravata e, mais tarde, deixou cair bolo para as calças. Mas continuou impávido como se não tivesse dado por nada.

Acabado o almoço despedimo-nos dizendo até para o ano, felicidades e as coisas do costume. O Senhor Sousa, que assistiu de pé e silencioso aos despedimentos, acabou por ser o último a despedir-se, começando por mim. Preparava-me eu para lhe fazer a provocação de lhe perguntar se tinha gostado da nossa discussão colectiva. Contudo, ele antecipou-se, e, com uma voz bastante alta, pausada e serena disse simplesmente:

“Desculpe por eu não ter participado na vossa conversa. Tenho 92 anos e sofro de insuficiência auditiva a 100%. Adeus, felicidades e até para o ano.”

E apertou-me calorosamente a mão. Mentalmente eu tinha dado ao Sr. Sousa aí uns 75 anos!!!

1 comentário:

Billy disse...

:D

O Sr. Sousa, se tem posto um aparelho auditivo, se calhar era um conviva espectacular! As surpresas que uma pessoa apanha...