sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O ESTADO É PESSOA DE BEM ...

Isso era dantes. Agora já não é assim.

Vejam o que acontece com os empresários do computador Magalhães. Tudo indica que possa ser um empreendimento de muito sucesso. Mas o senão tinha de aparecer e da parte de quem? Dos jornais que deram a notícia de que esses empresários estão sob a justiça fiscal por suspeita de fraude? Ou do Fisco, que é Estado, que deixou sair a notícia para os circuitos da informação?

Mas há sinais bem mais evidentes de que já não é assim, mesmo à porta da minha casa. Parece irreal ...

Há por aí muita falta de parques de estacionamento automóvel. E, por isso, o sinal de estacionamento proibido ganhou um estatuto de “estacionar se não atrapalhar o trânsito.” A cidade de Lisboa está cheia de exemplos destes.

Há, contudo, automobilistas mais respeitadores que dão mais uma voltinha até encontrarem uma rua onde não haja sinal de proibição nem nada que, aparentemente, proíba o estacionamento. E assim, muito desses cumpridores vêm estacionar na minha rua. Vejo, com frequência, aqui carros com matrículas estrangeiras. Para quem aqui deixa o carro parece estar tudo de acordo com a Lei.

Para quem aqui mora, o inferno é constante. A rua tem dois sentidos onde se podem cruzar apenas dois carros ligeiros. Um pesado e um ligeiro já não passam e, por isso, gera-se com frequência a barafunda. São frequentes os gritos, os insultos com a grosseria dos palavrões do jargão mais genuíno da língua portuguesa e até já presenciei agressões. Esta rua, num momento de confusão, pode transformar-se num problema de Estado. É que, a uma centena de metros, mora o Presidente da República que, seguramente, por aqui passa muitas vezes. Por outro lado, há no bairro diversas embaixadas. Que pensarão os embaixadores quando se vêem entalados numa confusão destas?

Ainda, há poucas semanas, pude ver da minha janela uma cena hilariante. Polícias gesticulando desesperados para os automobilistas parados na rua mas que não conseguiam sair dela. Libertaram-na a tempo de a comitiva da Senhora Condoleza Rice passar sem dificuldades, provavelmente para ir a casa do embaixador do seu País que fica a menos de 300 metros. Também vi há dias um Ministro, até podia dizer o nome pois é uma figura muito conhecida, dentro do seu carro, ao lado do motorista, a olhar para um lado e para o outro, numa visível ânsia de querer passar por cima de tudo e de todos para se libertar da confusão.

E é aqui, no ponto em que menciono o Ministro, que o Estado vai entrar nesta história.

Durante um ou dois dias os carros estacionam na Rua sem dificuldades. Afinal não há nenhum sinal a proibir. É certo que já houve, mas os sinais desapareceram. Ao terceiro aparece uma carrinha que estaciona no primeiro espaço que encontra. Saem dela polícias apressados que bloqueiam todos os carros sem contemplação alguma. O resultado é visível nesta fotografia.



Depois vão com a carrinha para uma rua contígua. As pessoas chegam, ficam atordoadas a olhar de um lado para o outro. Lêem o aviso de bloqueamento. Telefonam para o número nele indicado. Vão pagar a conta que lhes é liquidada. E finalmente lá vem o senhor polícia a libertar o carro.

Para aqueles que são mais demorados a solução é mais penosa. Chegam ao local e não vêem o carro. Com sorte, alguém os informa do que aconteceu. O carro foi rebocado pela polícia para um parque que há lá para os lados do Colombo. A conta para o libertar vão ser cerca de cem euros.

Por vezes a rotina do bloqueamento acelera-se para um ritmo de um dia de parqueamento livre e dois dias seguidos de bloqueamento imediato.

E é assim. Sem sinais nem avisos, o Estado actua como um raposão surpreendendo as presas indefesas ou como um garoto rabino que arma as ratoeiras para apanhar taralhões.

Claro que os senhores agentes da Lei não têm culpa e cumprem o melhor que podem as ordens que lhes são dadas.

Justificações que dão:

- podemos bloquear e rebocar qualquer carro numa rua em que estejam a impedir o trânsito;
- só não bloquearíamos se houvesse no local um sinal azul com indicação de parque.

No fundo, toda a gente está de acordo que o trânsito na Rua é sensível e que não deve haver estacionamento. Mas o que claramente falta é a vertente de pessoa de bem que o Estado deve ter. Bastaria informar devidamente os cidadãos marcando os dois lados da Rua com uma lista amarela e afixar sinais de estacionamento proibido e de reboque .

É preciso, em resumo, fazer um jogo limpo.

Esclarecimento: é a Rua Santana à Lapa, no troço entre a Infante Santo e a Buenos Aires.