No fim do apontamento anterior estávamos
a caminho do aeroporto internacional Ben Gurion de Tel Aviv. Àquela hora não havia muito trânsito e o percurso,
de cerca de 20 kms, fez-se em mais ou menos meia hora.
O motorista apressou-se a retirar as bagagens. Depois foram as
despedidas. Todos os companheiros do grupo lhe quiseram dirigir umas palavras
amigas.
Lembro-o como um homem humilde, profissional competente, disponível para ajudar.
Relembro, em particular, as melancias que comprou juntamente com o guia
palestiniano. E, sobretudo, o modo prudente e calmo com que geriu o incidente
da pedrada no vidro na janela do autocarro quando vínhamos da Palestina para entrar em
Jerusalém. Foi
junto ao quartel da polícia
que saboreámos
as melancias enquanto ele tratava da burocracia da participação do acidente.
Entrámos
no aeroporto orientados pelo guia Sebastião
que nos conduziu para o local das formalidades do controlo de segurança. O P. Artur foi o
primeiro a ser questionado e depois foi convidado a reconhecer e identificar
todos os companheiros do grupo. Ao que se seguiu o interrogatório de cada um em
particular com algumas perguntas vulgares. A jovem senhora que fazia o inquérito nem sequer
parecia ligar muito às
respostas. Fixava-se na observação
do nosso rosto enquanto respondíamos.
Fiquei com a ideia de que, assim, ela me conseguia ver por dentro.
Só depois
de os interrogatórios
terem terminado é que
fomos orientados para junto dos guichets de check-in. Tivemos de fazer aí um compasso de
espera. E talvez por estarmos aí
de pé havia
algum tempo, visivelmente cansados, um dos companheiros entrou em desespero e
começou a
gritar e a falar alto para a sua mulher. Ela humilde ia dizendo em tom
baixinho, acalma-te, não
tens tomado os comprimidos. O P. Artur aproximou-se e bastou a sua presença para que o nosso
companheiro exaltado serenasse.
Chegou o momento da despedida do Sebastião, que todos consideraram merecedor do
nosso reconhecimento. Excelente profissional, sem dúvida. Um adeus sentido e até um dia, quem sabe
se até breve,
Sebastião.
Seguiram-se as formalidades do check-in, do controlo dos
passaportes e da segurança
com o visionamento das bagagens de bordo no raio-x e a passagens no detetor de
metais.
O aeroporto tem um grande círculo
central a partir do qual se acede às
diversas salas de espera, mangas e portas de embarque. À volta do círculo há
lojas de bugigangas, recordações,
bebidas e artigos de eletrónica.
Tudo duty free. Acabei por encontrar aí
os cartões
para a máquina
de filmar. Porém
o preço, mesmo
sendo duty free, não
era compensatório
em relação a
Portugal.
A certa altura olhei para o relógio
e verifiquei que era meia noite. Estávamos
a entrar no dia 2 de maio. O embarque estava iminente, pois, segundo o horário, seria às zero e cinquenta
e cinco.
E assim foi. Veio a chamada para o embarque, os passageiros
apressaram-se a juntar-se à
fila, e o balcão
chamou os passageiros prioritários.
Chegou a nossa vez de entrarmos, e fomo-nos arrumando dentro do
avião.
Embarque concluído
e dadas as boas vindas pelo pessoal de bordo, foi feita a demonstração dos
procedimentos de segurança.
O avião
começou a
mover-se e a dirigir-se para o ponto de descolagem. Passados poucos minutos estávamos no ar e a
ganhar altura. Seguiram-se momentos de silêncio,
com toda a gente sentada nos seus lugares. Muitos de olhos fechados, iam
fazendo movimentos de lábios
percebendo-se bem que faziam as suas orações.
Atingida a altura considerada de segurança, o comandante disse algumas palavras
de boas vindas e o pessoal de serviço
na cabine levantou-se quase ao mesmo tempo e iniciou a sua azáfama de começar a servir o
jantar. Muitos dos passageiros dispensaram-no e encostaram-se para dormir. Não tardei a fazer o
mesmo.
Acordei quando estávamos a aterrar em Bruxelas.
Reparo que, nas viagens de regresso a casa, reduz-se a
capacidade de observar e anotar pormenores. Por isso o desembarque em Bruxelas,
a mudança de
terminal e a viagem até
ao Porto são
ocorrências
sem história.
E também
a viagem de autocarro até
Cucujães.
Não fora as
palavras simpáticas
da despedida do P. Artur e o amigável
e insistente convite de alguns companheiros para os visitarmos não teria nada para
mencionar.
Aconteceu o mesmo com a viagem de carro até Lisboa. Na altura
a distância
pareceu maior. Mas hoje, na recordação,
tem a importância
do virar de uma página
na leitura de um livro.
E veio a reunião
familiar para o reencontro, para contarmos a viagem, entregarmos recordações. No passado tirávamos algumas
fotografias e fazíamos
uns slides e as pessoas pediam para os ver. E gostavam de ouvir as histórias que estavam
por detrás de
cada imagem.
Hoje, até
nisto as coisas mudaram. Seria enfadonho entrarmos em grandes detalhes
no relato. E mais enfadonho ainda seria tentar mostrar fotografias e vídeos. As pessoas já não estão recetivas a isso,
em parte porque sabem que temos muitas horas de filme e muitas centenas, mesmo
milhares de fotografias, e têm
receio que as massacremos. De certo modo aplica-se aqui a teoria quantitativa
do dinheiro. A escassez aumenta o interesse e a abundância redu-lo.
Foi por isso que escolhi a janela do dicforte para contar a
minha viagem à Terra
Santa. Podia tê-lo
feito de seguida com intervalo de um ou dois dias. Mas não foi assim...
Tive muitos cliks e bastantes leituras. O número foi baixando,
sinal de que o relato, do tipo história
sem fim, se foi tornando cada vez mais desinteressante e enfadonho.
As minhas desculpas.
Para terminar e para que conste, deixo aqui a imagem do meu diploma de Peregrino à Terra Santa.
E agora é
mesmo o
FIM!