segunda-feira, 13 de julho de 2015

Viagem à Terra Santa em 2014 - 20. Em 1 de maio. Em Jaffa.

20. Em Jaffa.

Ou em Joppe. Os dois nomes dizem respeito à mesma linda cidade que ocupa uma colina, não muito elevada (quarenta metros),  nem muito extensa,  na costa de Israel sobre o Mar Mediterrâneo, com cerca de sessenta mil habitantes. É uma cidade muito antiga, várias vezes mencionada na Bíblia. E, na verdade, hoje em dia, faz parte de Tel Aviv Yafo, que é a cidade global propriamente dita.

A tradição judaica atribui a sua fundação a Jaffet, o mais novo dos três filhos de Noé. Segundo o Génesis, Jaffet será o pai de todos os europeus, para além dos persas e indianos, pois a Europa foi povoada pelos seus descendentes, depois de ter ficado sem ninguém devido ao dilúvio universal.

A Bíblia diz que foi por ali que passaram os muitos troncos convertidos na madeira usada na construção do templo de Salomão, em Jerusalém.

Os arqueólogos encontraram provas de que o porto de Jaffa já existia por volta de 7.500 a.c.. E dizem que é um dos portos mais antigos do mundo. E não admira, pois aquela colina sobre o Mar Mediterrâneo tem caraterísticas únicas, nomeadamente em termos defensivos. Ler a história da cidade é, de certo modo, reviver a história de toda a humanidade na bacia mediterrânica.

Foi dali que Jonas saiu de barco para Társis para fugir à missão que Deus lhe tinha atribuído de ir advertir a cidade de Nínive para mudar os seus perversos costumes. Durante a viagem, Jonas, atirado ao mar, foi engolido por um grande peixe que, depois, o depositou são e salvo numa praia próxima do ponto de partida. Ele compreendeu a sua sorte e foi a Nínive cumprir a sua missão.

Segundo os Atos dos Apóstolos, foi ali que Pedro esteve hospedado na casa de Simão, o curtidor. E foi lá que teve a visão do lençol com animais diversos, fazendo ele a distinção entre puros e impuros. Um ente celeste admoestou-o de que todos os animais são criaturas divinas não havendo que fazer distinções. Ele interpretou a mensagem no sentido de que todos os homens são elegíveis para receber a boa nova e não apenas os judeus. Note-se que, nos primórdios, os seguidores de Cristo eram considerados judeus. Uma espécie de judeus progressistas que ainda pregavam nas sinagogas, para judeus.

E foi no seguimento dessa visão que Pedro decidiu responder ao convite de Cornélio, centurião romano em Cesareia, cidade localizada a uns 60 kms a norte, que visitámos no início da nossa peregrinação, para ir explicar-lhe a mensagem de Cristo.

Como Jaffa era o porto que servia Jerusalém, cidade a 55 quilómetros a este, não é difícil imaginarmos que também outros apóstolos terão passado por esta cidade. Provavelmente até Maria, mãe de Cristo, terá passado por ali quando emigrou para Éfeso.

Era esta cidade histórica que iríamos visitar durante as derradeiras horas da nossa peregrinação à Terra Santa.

O autocarro deixou-nos bem perto do local da sinagoga. Depois subimos umas escadas em pedra para a Praça Kedumim.

Antes de entrarmos na praça propriamente dita, os nossos guias conduziram-nos para uma incursão no Bairro dos Artistas.
 
 
Museu Ilana Goor - Não chegámos a ir ver este museu. Mas vale a pena referir que se deve a Ilana Goor, uma artista autodidata, persistente, organizada, combativa, que começou por comprar um pequeno estúdio para se instalar e trabalhar. Depois adquiriu todo o prédio e expôs aí a sua vasta coleção de arte. Hoje é uma artista de renome internacional, conhecida sobretudo em Israel e nos Estados Unidos.
 
A rua estreita no meio de prédios muito antigos, alguns dos quais preservando as portas e janelas no seu estilo original, termina numa pequena praça onde há lojas com exposição de pinturas e outros trabalhos de arte.

 
 
No percurso, destaca-se, de tudo o restante com aparência antiga, uma bonita montra daquilo que parece ser uma ourivesaria ou uma oficina de ourives.
 
 
À entrada dessa praça, há uma obra de arte típica que é uma laranjeira num grande vaso suspenso por cabos pendentes das paredes contíguas.

 
 
  
É um monumento de 1993, da autoria de Ran Morin, chamando-se " A laranjeira suspensa" . É um trabalho em aço, pedra artificial e uma laranjeira.
 
 
Uma placa informativa em, hebraico, árabe e inglês, diz-nos que há provas da existência de pomares à volta de Jaffa desde o começo do século XVIII.  Que a área de pomares em redor da cidade foi aumentando ao ponto de se tornarem o principal suporte da sua economia. E que em meados do Século XIX surgiu a exportação organizada de frutos para os mercados europeus e do Mediterrâneo. A laranja Shamouti, que se desenvolveu nos pomares de Jaffa, tornou-se um conceito universal, conhecida hoje em dia como laranja de Jaffa.

A moderna cidade de Tel Aviv, que envolveu Jaffa, ocupou a maior arte da área desses pomares.

Depois de regressarmos da visita ao bairro dos artistas, subimos para o Parque Gan Ha-Pisga, uma elevação não muito acentuada onde há espaços verdes, áreas de lazer e alguns monumentos interessantes. O principal é, sem dúvida, a Estátua da Fé, um monumento em mármore em que duas robustas colunas, blocos de mármore branco, suportam um terceiro bloco que lhes serve de travessão. As colunas ou lintéis representam, uma o sonho de Jacó, a outra o sacrifício de Isaac. O bloco travessão representa a tomada de Jericó. Estes factos bíblicos estão gravados em baixos-relevos em cada um dos blocos.


As vistas a partir do Parque Gan Ha-Pisga (o jardim do cume do monte), sobre Tel Aviv, são soberbas. Vê-se Jaffa antiga, uma grande extensão da praia e uma boa parte da cidade nova de Tel Aviv.



O parque, ou uma parte dele, também tem o nome de Parque de Abrasha.


É um espaço bonito, com jardins, espaços para eventos culturais, sobretudo nas tardes de verão, em Julho e Agosto, e para piqueniques. Chamou-nos a atenção, em especial, o anfiteatro ao ar livre.

Depois de gozarmos, por uns breves momentos, o ambiente do Parque,  fomos até perto da igreja do Mosteiro de São Pedro, onde o guia nos referenciou um ponto de reencontro, dando-nos, a seguir, uma meia hora para passearmos livremente.
 
 
Esta igreja foi construída em estilo barroco latino-americano e está pintada de cor de rosa, o que permite realçar bem os traços das cantarias em pedra branca.

Aproveitámos o tempo desde o primeiro minuto para descermos até junto do mar e contornarmos aquela antiga parte da cidade, seguindo pela estrada marginal e reentrando depois por uma das ruas antigas que ligavam o centro da cidade até ao porto.

Um dos primeiros pontos que nos chamou a atenção foram estes canhões otomanos.
 
 
E também uma antiga fonte (sabil) em pedra do século XIX.
 
 
 
 Estava com curiosidade de ver os vestígios do porto antigo mas não tive grande sorte porque não os encontrei especialmente referenciados.

Mas pude ver os restos das antigas muralhas, que foi possível identificar a partir de uma explicação que se encontra perto delas.


Há restos de duas muralhas. A mais antiga, do período das cruzadas, dá testemunho da fortificação de Jaffa em 1252-1253 pelos cavaleiros de Luís XIX, rei de França. A mais recente deve-se ao governador de Jaffa, Muhammad Agha (Abu Nabbut) que, em 1816, reparou e reforçou as muralhas construídas aquando da renovação e repovoamento de Jaffa nos fins do Século XVII. Esta é a muralha Otomana apenas marcada no chão uma vez que foi removida quando esta rua foi alargada no começo do Século XX, para facilitar o tráfego entre o porto e a estação do caminho de ferro.

É esta a informação dada pela placa.

O passeio foi breve mas deu para admirar a longa extensão do casario antigo, em pedra, que acompanha esta parte da estrada marginal, na continuação do extenso passeio, o calçadão, ao longo de toda a praia de Tel Aviv.

 
 
Reentrámos na parte antiga da cidade seguindo por uma rua estreita que, pelas coordenadas que instintivamente tirei, nos levaria na direção do ponto de encontro.


Esperava encontrar então a casa de Simão, o curtidor. Pelas indicações que tinha deveria ficar algures por ali, naquela rua. Porém, a pressão de chegar em tempo ao ponto de encontro, o elevado número de turistas que, àquela hora, andavam por ali e também a minha preocupação de filmar tudo, impediram que a tivesse referenciado em especial. Gostava de ter passado ali uns instantes a lembrar o episódio da toalha com os animais puros e impuros relatado nos Atos dos Apóstolos.

O ambiente estava enriquecido por um pormenor que ainda não referi. Havia vários casais de noivos na sua tarefa de posarem para fotógrafos profissionais.

Desejo-lhes aqui muitas felicidades, mesmo sem os conhecer. As noivas estavam bonitas.

 
 
Ainda tivemos de esperar alguns minutos no ponto de encontro, à espera que todo o grupo se juntasse.

Depois seguiu-se o jantar num restaurante que ficava ali mesmo ao lado, o Abrage, com uma decoração exterior interessante, com muitas plantas e flores em vasos dependurados nas paredes e na escadaria de acesso, em pedra.

Fomos acomodados em duas pequenas salas. Alguns companheiros, porque se sentiam ali muito apertados, preferiram deslocar-se para umas mesas vazias que se encontravam na varanda. Mas logo os vi procurar os agasalhos, sinal de que se sentiram desconfortados com temperatura que ali se fazia sentir. A comida, ao gosto mediterrânico com pratinhos diversos, pareceu-me saborosa e bem servida.

Era a nossa última refeição em grupo nesta peregrinação à Terra Santa.

O dia tinha começado bem cedo lá no Mar Morto. Passámos pela torreira do sol a visitar as ruínas de Qumran, onde almoçámos. Atravessámos parte da Cisjordânia palestina, observando as seus montes de encostas áridas. Passámos perto de Jerusalém. Passeámos de autocarro pela parte nova de Tel Aviv. Andámos a pé, mais de uma hora, em Jaffa.

O cansaço era notório. Foi isso que nos impediu de vivermos aquele jantar como o último em grupo e de fazermos um brinde de despedida.

Terminado o jantar, seguimos para o autocarro para nos dirigirmos para o aeroporto para iniciarmos a nossa viagem de regresso.

Nota: Há um muito interessante resumo da história de Jaffa num apontamento de 22 de fevereiro de 2015, no blogue de história, da autoria de Alexei Leite Maia, que merece bem a nossa visita. 
http://historiasemonumentos.blogspot.pt/2015/02/israel-jaffa-cidade-antiga-de-jaffa-old.html
 

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