Esse autor explicava que os defuntos continuam a comunicar com os vivos sobre as mais variadas formas. O que era preciso era estar atento aos sinais. Estalinhos dos móveis de madeira e pequenos acidentes de entornar líquidos ou de deixar cair objectos eram alguns dos muitos exemplos que o autor dava. Eu nunca me apliquei a ouvir, a anotar e a interpretar tais sinais porque não acredito que isso tenha qualquer utilidade, sobretudo quando, a partir deles, se pretende adivinhar o futuro.
Quando eu era criança e brincava na minha aldeia com os meus companheiros, havia uma coisa bizarra que costumávamos fazer, sobretudo no começo das noites quentes de verão. Gostávamos de encostar os ouvidos a uma pedra da calçada, bem no chão, para ouvirmos os mortos a falar. Às vezes estávamos dois ou três a ouvir ao mesmo tempo e, de repente, saltávamos dizendo: eu ouvi. E a seguir acrescentávamos: vai acontecer qualquer coisa. Não me lembro de relacionar qualquer coisa com os ruídos que tenha ouvido, porque a nossa brincadeira acabava ali por medo de que os mortos se lembrassem de nos incomodar. Só mais tarde consegui ligar a causa do ruído ao efeito e fiquei aliviado porque afinal os ruídos não tinham nada a ver com os mortos. É que, naquele tempo, havia muitos carros de bois na aldeia e muitos animais ferrados e a tração das rodas ou o bater dos cascos nos paralelepípedos propagava-se pelo chão até certa distância tal como acontece com os carris do comboio ou com a areia da praia quando o mar lhe cai em cima.
Há uma crença africana de que a barriga das mulheres grávidas faz aumentar o céu. Quanto maior for a barriga maior o contributo da mulher para o tamanho do espaço celestial. Mas esse contributo só se concretiza se a criança nascer com saúde e puder ver, pois, de outro modo, o céu é reduzido drasticamente. Cada barriga que se esvazia antes do tempo determina um grande corte. Esta crença é bonita e, na verdade, não traz nada de novo. O céu só existe porque há olhos para o verem. Se não houvesse um par de olhos, pelo menos, a ver o céu, este não existia. E, mesmo vendo-o, sabemos que não existe. Na distância onde o vemos e para a frente é o cosmos que não tem limites. Nele se passeiam cometas, planetas, estrelas e constelações.
Assim todas as linguagens do oculto, do abstracto e do sobrenatural podem ter uma explicação natural. Mas há quem procure interpretar o seu ocultismo por entender o contrário. Por exemplo, ouvi dizer que, no dia em que Bento XVI anunciou a sua resignação, caíram, não no momento do anúncio mas mais tarde, dois impressionantes raios sobre a cúpula da Basílica de S. Pedro. Eu não cheguei a ver o vídeo que, me disseram, circulou na internet. Mas li interpretações de muito mau augúrio para a Igreja Católica.
Já noutro plano e bem mais perto de nós, reparei há dias numa placa identificativa que me pareceu estranha e que, por isso,fotografei.
Quem a fez tinha a intenção de dizer que ali é o Banco Privado Português, em Liquidação. Mas a mensagem que lá está, por virtude do uso de dois campos com cores diferentes, é que ali é o Banco Privado e que o Português está em liquidação. É estranha esta mensagem com algo de ocultismo, pois a parte no campo mais claro pode querer significar que o Português está a ser liquidado em todas as frentes.
E isso é mais do que verdade.
Por um lado, a juventude não tem condições económicas e sociais para constituir família e para procriar. E por isso, segundo a crença africana, as barrigas não contribuem para o aumento do céu. E quando as jovens, por descuido, ficam grávidas, optam muitas vezes pelo aborto porque não têm pão para elas e muito menos para elas poderem alimentar os filhos. E com tantas barrigas esvaziadas antes do tempo, o céu vai ficando cada vez mais pequeno. Diria mesmo já meio inferno. Ainda ontem os jornais noticiaram que um pai falido se atirou para um poço, arrastando consigo o filho pequenino para a morte. Este é um sinal muito forte de que o Português está em liquidação. E mesmo quem não está nesse sufoco, e felizmente ainda é a maioria, anda a ser consumido pela preocupação. Vejam o caso dos reformados. Houve um senhor parlamentar que lhes chamou peste grisalha e os culpou da persistência da crise.
E, por outro, o Estado atirou-se aos reformados com uma sanha inusitada. Olhemos para o recibo de um reformado da classe média que toda a vida contribuiu para ter uma reforma.
De uma pensão bruta de 3.251,47 apenas recebeu, em Fevereiro, 1.594,54 Euros, ou seja, menos de metade. E dessa metade o Estado ainda vai caçar uma parte significativa, com o IVA de 23% e com as taxas nas facturas da água e da luz, e mais o IMI e outras formas de nos tirar dinheiro. Em conclusão, uma vez os noves fora fica quase nada.
Confirma-se, assim, a mensagem oculta da placa do Banco Privado / Português em Liquidação.
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