A última postagem foi publicada há já mais de meio ano. É
muito tempo de inércia para um bloguista, mesmo não assíduo. Foi um longo
silêncio, uma espécie de morte lenta, que só não o foi porque, afinal, o
Dicforte está de volta.
E, entretanto, aconteceram tantas coisas importantes que
mereciam ser partilhadas…
A vida das pessoas é constituída por linhas, parágrafos,
páginas, capítulos e livros. Mas é sempre difícil dizer em qual destas gavetas
é que vamos arrumar determinada situação. É o que acontece agora comigo. Comodamente
digo apenas que virei mais uma página na minha vida, embora seja evidente que, racionalmente,
deveria falar de mais um livro.
É que, passei pela inevitável experiência de, na empresa
onde trabalhava, ao fazer 67 anos, me virem dizer que afinal já estava velho
para trabalhar e que o melhor era negociar a saída. Não foram estas as palavras
usadas, mas aprendi na vida a ouvir aquilo que as pessoas me querem dizer e não
as palavras que usam para o fazer. Era a verdade nua e crua a entrar em mim e a
paralisar-me porque nunca esperei ouvir tal chamada à realidade.
Estou velho para trabalhar e eu não me tinha dado conta
disso.
O processo foi
relativamente fácil. Pusemos um baralho de cartas em cima da mesa e retirámos,
logo à partida, o naipe de copas. A razão é que este naipe é representado por
corações e, numa situação destas, não há espaço para pieguices. Todos os
restantes naipes do baralho, paus espadas e ouros, este com maior destaque,
foram importantes para chegarmos a um acordo, eu e os representantes da empresa.
E aí está. A partir do último dia de 2012, estou na situação
de reformado.
Vejo-me agora a acordar
para o facto de passar a integrar o enorme grupo social da terceira idade, dos cidadãos
descartáveis, dos que pagaram toda a vida para sistemas e subsistemas de
segurança social e que agora estão a ser acossados pelos governantes com cortes
nas pensões e na assistência.
Eu já ouvia dizer que os reformados não estavam a ser bem
tratados. Mas só agora me estou a dar conta de que, pior ainda, estão a ser mal
tratados. E pelo que leio na imprensa, se as instituições funcionarem, irá ser
a ganância sobre os reformados que irá determinar a inconstitucionalidade de
parte do orçamento estatal para este ano. E se isso acontecer, os miúdos do
Governo merecem todos uma boa palmada no rabo.
Uma vez virada a página, subsiste a vantagem de mais tempo
disponível para o Dicforte ser mais assíduo. Até já.
3 comentários:
Bem-vindo à ssituação de reformado!
Toca a aproveitá-la bem, apesar dos cortes dos miúdos do governo...
Há muitos filmes para serem vistos, muitos livros para serem lidos, muitos amigos com quem conviver, muitos passeios para fazer, duas netas para 'cuidar´, um jardim para tratar. Enfim, como dizem todos os reformados que conheço: "Como é que eu tinha tempo para trabalhar?"
Bjs
M
Senhor Dicforte, calha mesmo bem. Ora queira visitar o desafio que aqui lhe deixei: http://airdesignstudio.blogspot.com/2013/01/desafio-literario-por-mim-tudo-bem.html
E quero ver mais posts, que tenho saudades de o ler. Xim? Táxavôr?
Ainda bem que está de volta, mas anime-se porque na Empresa onde trabalhei disseram-me,também muito delicadamente,o mesmo que a si, mas eu tinha 50 anos!Por acaso agora pensando bem até foi bom, as circunstancias da vida vieram-me mostrar isso.Como diz a Mariana, aproveite, mais euro, menos euro tudo se vai felizmente encaixando, embora nunca nos vamos esquecer do modo como nos tratam ao fim de trinta e tal anos de trabalho.Cumprimentos.Maria Augusta
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