O dia dois de Janeiro era o dia marcado para o nosso regresso à cidade da Praia, na Ilha de Santiago. E assim, logo às seis da manhã estávamos a dar conta do pequeno-almoço que as empregadas do Sr. Vivi tinham deixado cuidadosamente acondicionado para que não partíssemos em jejum. Logo a seguir o nosso condutor, Sr. Tony Vale, chegou com a sua Hiace para nos conduzir até ao porto das Furnas. Como o percurso do barco se inicia ali, recomendaram-nos que estivéssemos a horas, ou seja sobre as sete da manhã. E chegámos bem a tempo. Com a preocupação da viagem nem demos conta do amanhecer nem do aparecer do sol. Havia ainda pouca gente e as formalidades de embarque ainda não tinham começado, se bem que tudo estivesse com ar de expectativa para que as operações começassem a todo o momento. Perguntámos o que se passava e disseram-nos que se aguardava a chegada da autoridade que iria supervisionar as operações.
Vimos chegar um carro da polícia e logo o ambiente ganhou outra vida com a ponte do barco a abrir, os motores dos veículos que iam ser embarcados a trabalhar e os empregados a mandar depositar as bagagens nos contentores, chamando a atenção em relação aos que iriam para a Praia e os que iriam ser descarregados no Fogo.
O embarque foi uma correria. Entraram carros, carrinhas e camionetas, algumas destas com a sua carga.
Veio um homem conduzindo em correria uma vaca pela rédea. Depois veio outra e mais outra. E outras ainda. E já muito perto do momento do levantamento da ponte veio um homem com seis cabritinhos, segurando três em cada mão, pelas patas traseiras, que se contorciam tentando levantar a cabeça.
Chegou a hora de nós subirmos. À entrada estava uma empregada do serviço que oferecia gratuitamente a todos os passageiros comprimidos para prevenir o enjoo.
Fomo-nos sentar estrategicamente no centro do sala de passageiros, para, supostamente, sentirmos menos a amplitude das oscilações.
Não ficámos ali muito tempo, pois uma das empregadas veio-nos dizer que, desta vez, nos competia viajar na sala VIP. E lá fomos atrás dela. A sala era um pequeno compartimento na parte direita da frente do barco. Tinha seis cadeiras, três de cada lado, e uma mesa ao meio, fixa com seis individuais de plástico azuis. Na cadeira do canto virado para a frente estava um cavalheiro com o seu computador ligado, a escrever em word. Tinha por debaixo da mesa junto aos pés duas pastas, sendo uma mais volumosa, onde guardava dossiês com documentos. De vez em quando pegava num agrafado de páginas A4. Pelo canto do olho vi os títulos: “Dos Factos”, “Do Direito” e concluí que o senhor era advogado. Só não meti conversa com ele por me parecer que estava compenetrado no seu trabalho e não o quis interromper. No canto oposto ao ocupado pelo advogado estava uma mulher com ar de adoentada, prostrada, com os olhos e parte do rosto cobertos com uma toalha. Veio uma empregada a querer servir-nos bebidas, mas só o advogado é que se atreveu a aceitar um sumo. Na parede do lado esquerdo estava um ecrã plasma onde passavam clips de música. Havia uma casa de banho privativa da sala que, no início da viagem, estava bem limpa. Na parede à minha frente estava um quadro com a fotografia do Kriola e com a legenda: “As possibilidades são infinitas com a CVFF!”. Após ler esta legenda compreendi porque é que o porão pode ser, numa só viagem, estábulo, curral, galinheiro, garagem e muito mais.
Quando o barco iniciou a viagem, fizemos o último adeus à povoação das Furnas e à linda ilha Brava.
Enquanto nos afastávamos, um grupo de pessoas ficou no cais indiferente à nossa partida e em amena cavaqueira.
A viagem propriamente dita, até ao porto do Fogo demorou pouco mais que uma hora. Houve, a certa altura, uns balanços mas sem provocarem grandes incómodos. O advogado trabalhou praticamente durante todo o tempo e fez diversas chamadas onde falava de marcações, testemunhas, garantias e da hora provável da chegada à Praia. Avisaria quando estivesse já perto para o irem buscar.
Uma vez chegados ao Fogo, aproveitámos para sair um pouco para o cais, para arejar e esticar as pernas.
Desde a nossa chegada ao cais da Brava no início da viagem e até agora já tinham passado cerca de duas horas.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Passagem de ano em Cabo Verde – 14. A viagem da Brava ao Fogo demora cerca de duas horas
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