sábado, 28 de junho de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014. 6. 25 de Abril. Em Tiberias 6.6.

6.6. O peixe de S. Pedro

Saímos de Cafarnaum já bem a horas de irmos almoçar. Curiosamente o local do almoço não era tão perto assim. Fizemos aí uns vinte e cinco quilómetros, cerca de meia hora de autocarro. O guia Sebastião já de manhã nos tinha perguntado qual seria a nossa preferência em relação aos dois pratos principais que seriam disponibilizados ao almoço: peixe de S. Pedro ou cordeiro guisado.

A quase totalidade das preferências foi para o peixe de S. Pedro, prato típico que é habitualmente oferecido aos turistas nos restaurantes à volta do Mar de Tiberíades.

O restaurante de destino não era já na margem deste mar, mas sim um pouco mais a sul, já no Rio Jordão. Chama-se Manna e fica no complexo de Yardenit local histórico, tido por muita gente como o local do batismo de Jesus Cristo. Este ponto de vista é contestado por alguns que acreditam que Jesus foi batizado muito mais abaixo, perto de Jericó. Pode ser que tenham razão mas o que vi em Yardenit deu-me a convicção de que Cristo foi batizado ali e não mais abaixo.



Mas hoje o objetivo não é falar de Yardenit como local do batismo, mas como ponto do nosso almoço no dia 25 de Abril de 2014.


Local do batismo visto do lado do Restaurante Manna


Voltaremos aqui amanhã dia 26 de Abril, então sim para falar do local do batismo de Jesus.

Logo à entrada do complexo de Yardenit há uma fonte com água correndo de várias bicas. Depois segue-se um muro com cerca de três metros de altura, coberto com inscrições em azulejo, em retângulos sucessivos ao alto, nas várias línguas do planeta, provavelmente referentes ao aspeto religioso do local. Depois, logo a seguir à entrada, à direita, está o restaurante Manna.

Há um bufet de saladas, sendo que o prato principal é levado à mesa, por senhores solícitos sem uniforme, que falam relativamente bem inglês. E aí vem o famoso peixe de S. Pedro, grelhado. Observando melhor este peixe é, afinal, aquilo a que nós chamamos peixe galo e a que os ingleses chamam John Dory.


Saboreando o Peixe de S.Pedro


Sendo este tipo de peixe próprio dos oceanos e da água salgada, fiquei intrigado devido ao facto de na Terra Santa lhe chamarem Peixe de S. Pedro. Ouvi contar que este facto tem a ver com aquele episódio bíblico em que Cristo é solicitado para pagar o imposto ao templo. E não tendo dinheiro pede a Pedro que vá pescar e que lhe traga um peixe. Ele foi e trouxe-lhe o primeiro peixe que apanhou, ou encontrou, e, para surpresa de todos, ao abrir-lhe a boca, tinha lá dentro uma moeda com o valor exato do imposto. E, por isso, passou a chamar-se peixe de S. Pedro. Esta história parece-me estranha porque o Mar da Galileia é, afinal, um vasto lago de água doce. Uma vez que o ambiente próprio do peixe galo é o oceano com alguma profundidade e com água salgada não compreendo como possa existir num lago de água doce.

Uma outra história que ouvi é que o chamam assim porque tem uma pequena mancha escura na zona lateral do corpo. Há quem creia que essa mancha ficou a partir do momento em que Pedro pegou no tal peixe da moeda, deixando nele, e em todos os da mesma espécie, para sempre gravada a impressão digital do seu dedo polegar direito.

Bem. Esta história faz-me lembrar uma outra idêntica que ouvi numa das viagens que fiz à China quando estava em Macau. Aconteceu que, numa certa ocasião, fiz parte de uma comitiva oficial à cidade de Xangai. O Mayor ofereceu-nos um banquete num dos mais conceituados restaurantes da cidade, situado no topo de um dos mais altos edifícios com vista panorâmica em 360 graus sobre a cidade. E sabendo que, na comitiva havia muitos portugueses, fez questão de nos obsequiar com um petisco raro, bem delicioso , que tem a ver com a história da presença dos portugueses nos mares da China. Serviu-nos um tipo de caranguejo que só há no mar daquela zona a que chamam o caranguejo de Xavier. Tem a zona lombar castanha, mas nela vemos bem distinta uma cruz branca, tendo os braços da cruz o comprimento e largura da zona dorsal do caranguejo. E o Mayor fez questão de ser ele a contar a história de que esse fenómeno se deve ao facto de um santo português ter passado por ali e ter abençoado esse tipo de caranguejo prevenindo que, a partir de então, todos os da mesma espécie nasceriam com aquele sinal da cruz. Na altura esta história pareceu-me deliciosa porque nos foi contada pelo Mayor de uma da maiores cidades do mundo, em homenagem à antiquíssima presença dos portugueses . Acredite-se ou não na história, a verdade é que caranguejos com uma visível cruz dorsal só há nos mares de Xangai, são conhecidos aí por caranguejos de Xavier e, quando servidos à mesa, são bem saborosos.

A cruz no dorso do caranguejo ou a impressão do polegar direito de S. Pedro na zona lateral do corpo do peixe galo deram origem a histórias parecidas. No primeiro caso temos o caranguejo Xavier e no segundo o peixe de S. Pedro. E, em ambos os casos, podem proporcionar bons petiscos.

O serviço do restaurante Manna foi simpático, estando preparado para atender grandes grupos.

Não tardou muito que os nossos guias nos chamassem para o autocarro, pois ainda tínhamos muito para ver durante a tarde.O primeiro destino era bem apelativo: Nazaré.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 - 6. 25 de Abril, Tiberias. 6.5

6.5. Cafarnaum

Da Igreja do Primado seguimos para Cafarnaum, a uns três quilómetros de distância. Por isso a viagem de autocarro foi relativamente rápida. Mas ainda houve tempo para o nosso guia Sebastião dar algumas indicações sobre o que iríamos ver. Um dos locais mais importantes seria a Casa de Pedro. E então lembrou o milagre em que Cristo, condoído pela tristeza do seu amigo, ouviu o seu pedido e lhe curou a sogra. E aqui o nosso guia sorriu dizendo que agora compreendia por que razão Pedro negou Cristo três vezes. Uma vingançazita pela cura da sogra.

Bem, quando a minha sogra faleceu, houve um amigo que me perguntou primeiro se me devia felicitar ou dar os pêsames. E porque a minha sogra era uma santa não gostei nada do gracejo dele. Estou certo de que S. Pedro também não gostou da brincadeira do Sebastião. Mas de certeza que o desculpou porque a sua intenção era apenas pôr-nos bem dispostos.





Logo à chegada reparamos que Cafarnaum é um espaço vedado. Somos informados por uma placa em língua inglesa que ali era a terra de Jesus. Daí que os arqueólogos se tenham preocupado em identificar a sua casa, mas, até agora, sem sucesso.

O primeiro ponto de interesse em que o nosso guia nos reuniu, foi junto às ruínas da Casa de Pedro. Aí deu mais algumas informações sobre a história de Cafarnaum, aproveitando a sombra da basílica que se ergue sobre o que resta da casa.



Essa basílica tem formato octogonal e está assente em fortes colunas de betão sobre os limites das ruínas da Casa de Pedro.



O nosso bom P. Artur aproveitou o momento para nos ler a passagem bíblica em que Jesus cura o servo do centurião. Este facto, para além de inegável importância religiosa, tem também interesse histórico, pois permite-nos concluir que Cafarnaum tinha uma guarnição militar romana comandada por um centurião, a centúria tinha cerca de 100 militares, o que demonstra a sua importância estratégica. Também as várias referências bíblicas nos permitem concluir que tinha um posto alfandegário. E dizem os livros que por ali passava o caminho comercial que ligava a Síria e o Líbano ao Egito, que os romanos conheciam como Via Maris.

Enquanto ouvíamos as explicações dos nossos guias, decorria dentro da basílica uma cerimónia com um coro de excecional qualidade, com muitas vozes a cantar afinadas em vários tons e acompanhadas de diversos instrumentos. Ainda tentei subir a escada para ir espreitar o interior da basílica, mas não consegui porque estava reservada para a organização que a estava a utilizar. Fiquei com pena. Só a partir de várias fotografias que procurei na internet é que pude imaginar o seu interior. Parece-me ser espetacular o chão da nave em vidro transparente que permite às pessoas que estejam dentro da basílica ver em baixo a ruínas da Casa de Pedro.



Seguiu-se a visita ao relativamente vasto recinto em ruínas, do que resta da cidade onde Jesus viveu o tempo mais longo da sua curta vida e onde começou a sua vida pública.







Impressionou-me o conjunto arquitetónico da Sinagoga, construída com materiais que me parecem não ser da região. Tem altas colunas de mármore, redondas e com bases e capitéis, o que demonstra ter sido construída durante o período da presença romana, disseram-me que no século IV. Chamam-lhe a Sinagoga Branca e há uma placa no local a informar que foi construída sobre as ruínas da antiga Sinagoga de Jesus. Ao lado das ruínas da sinagoga está uma amostra de uma rua, dada como sendo do tempo de Jesus.



Foi emocionante para mim estar a imaginar que Jesus passou seguramente por ali muitas vezes durante os anos que viveu naquela cidade. Há nas ruínas mós diversas e vários potes em pedra o que indica que naquela cidade se produzia azeite e moíam cereais. Aliás, eram o azeite, o trigo e peixe e a fruta os principais recursos económicos dos habitantes de então. A cidade era relativamente vasta, terá uns trezentos por duzentos metros, vendo-se ao fundo um bom trecho da muralha primitiva. No entanto, na teoria dos arqueólogos, esta cidade não teria mais de mil e quinhentos habitantes no tempo de Jesus.

As escavações arqueológicas descobriram uma primitiva igreja cristã bizantina, octogonal e com batistério. Descobriram também vários vestígios dos peregrinos do período bizantino, como sejam pequenas cruzes e inscrições e marcações pessoais. Era então muito visitada. Mas depois, com a dominação árabe a partir do século VI, a cidade foi progressivamente abandonada e esquecida, ao ponto de ter sido totalmente escondida pela natureza. Foi já no fim do século XIX que a organização franciscana Custódia da Terra Santa comprou aquela extensa propriedade coberta de arbustos silvestres e começou as escavações arqueológicas que duraram até 2003. A chamada de atenção foi dada por algumas pedras ainda visíveis da Sinagoga Branca.

Presentemente é um local de constantes peregrinações. Em 1989 / 1990 foi construída a basílica, Memorial de S. Pedro, sobre as ruínas da casa deste. Foi sagrada e aberta ao público em 29 de Junho de 1990.



Há quem diga que a total obnibulação de Cafarnaum durante tantos séculos resultou de uma maldição de Cristo pelo facto de ele não ter sido compreendido pelos da sua terra que nunca deixaram de o ter como o modesto filho do carpinteiro. Eu não acredito nesta versão. Deve ter acontecido com ele o que acontece hoje comigo em relação à minha aldeia, a Capinha, no concelho do Fundão. Conheci-a com muita gente e com muita vida rural. Mas as pessoas emigraram. A natalidade baixou. Restaram uns poucos. E agora com o encerramento das escolas, vai ficar ainda mais vazia e pobre. Os pais vão-se deslocar para mais perto das escolas dos filhos. O resultado é ver "vende-se" por todo o lado e não haver ninguém a comprar. Os telhados caem. As paredes vão caindo com eles. Vêm as silvas e outros arbustos. Em poucos anos já não se verá que ali morou gente. Daqui a poucos séculos a Capinha será um enorme descampado onde só a forma dos cômaros denunciados por uma vegetação mais forte deixará adivinhar por passavam as ruas. Escrevo isto com tristeza. E Jesus que conseguia prever o futuro sentiu isto em relação à sua terra. Apenas uma imensa tristeza nunca qualquer vontade de amaldiçoar.

Quando entramos e saímos nas ruinas passamos por um largo amplo reservado a peões. Nesse largo destaca-se, à direita de quem entra, de costas viradas para o mar uma grande estátua de S. Pedro segurando nas mãos os símbolos do primado: um enorme báculo na mão esquerda e uma espécie de custódia na mão direita.









O sol estava muito quente e os peregrinos cansados e já com sinais de estômagos a dar horas. Por isso os nossos guias encaminharam-nos para o autocarro para nos levarem a um local para nos refrescarmos e almoçarmos.

domingo, 22 de junho de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 – 6. Dia 25 de Abril, em Tiberias. 6.4.

6.4. Igreja do Primado

Já mencionei que, na margem direita do mar da Galileia, em localidades não muito distantes umas das outras, aconteceram alguns dos factos mais importantes da vida pública de Cristo. Por isso, num só dia, pudemos visitar e lembrar vários episódios muito significativos para os que professam o cristianismo.

No último apontamento, contei como foi a vivência do passeio de barco pelas águas serenas do Lago Tiberíades. Depois do passeio, mal entrámos no autocarro, o nosso guia Sebastião informou que iríamos ver o local onde Cristo instituiu o papado. Aí existe uma pequena igreja conhecida por Igreja do Primado, Igreja da Mesa de Cristo (Mensa Christi) e Igreja da Pesca Milagrosa.

A viagem desde o local em que estava o barco que nos transportou no passeio até à Igreja do Primado é relativamente curta. Mal deu para o guia Sebastião explicar o que era a Igreja do Primado.

Os autocarros parqueiam num espaço a eles reservado em forma de um grande círculo. Os peregrinos e visitantes vão pelo seu pé por uma passagem pedonal que desce a colina até ao mar. Essa passagem não é muito larga e está ladeada por grades de ferro de ambos os lados. Há árvores que dão sombra ao percurso tornando-o mais agradável. Não é muito extensa essa via. Tem talvez umas três centenas de metros.



A certa altura há, no lado direito de quem desce, um painel que pode passar despercebido a muita gente por não o verem ou por o tomarem por um simples cartaz publicitário e, por isso, não merecedor de atenção.

Acho que valeu a pena ter parado uns minutos para fotografar e filmar esse painel.

É que nele estão as imagens e brasões de todos os papas, desde S. Pedro até ao nosso bom Papa Francisco. É uma mão cheia de pequenas imagens. Francisco está no cantinho direito da fila rentinha ao chão. Segundo os livros ele e é o número 266.







Após vermos este painel, seguimos mais umas dezenas de metros até à Igreja da Mensa Christi. É uma pequena igreja em pedra escura de basalto, mesmo junto ao mar. Logo nos apercebemos de que há muitas pessoas que se molham nas água do Lago, andando descalças com alguma dificuldade numa areia preta, grossa.



O Sebastião encaminhou-nos logo para a igreja, deve ter agendado a nossa visita com o guardião franciscano para essa hora.



Sentamo-nos por uns minutos e o nosso bom P. Artur, pousando o seu livrinho no pódio das leituras, leu-nos a passagem bíblica em que Jesus proporciona a Simão Pedro e companheiros uma pesca milagrosa. E no seguimento da qual lhe diz Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja (Tu es Petrus et super hanc petram edificabo eclesiam meam). Este foi um momento alto para a igreja católica pois é nesse momento que é instituído o papado.



À entrada do altar mor da pequena capela, há uma rocha vedada com uma corda. À frente dessa rocha há uma pequena placa com a cruz de Jerusalém e com as letras MENSA CHRISTI (Mesa de Cristo). Os peregrinos inclinam-se perante essa rocha sagrada, tocam-na com as mãos ou beijam-na conforme a sua motivação.

Chegou o momento de irmos até à praia.

Num primeiro momento preferi observar os peregrinos que já lá estavam. Havia um homem de meia idade que, com a água até aos joelhos, fazia um inflamado discurso apostólico perante uma câmara de filmar profissional. Havia um grupo de jovens raparigas descalças e sentadas na areia com os pés na água e havia muita gente a filmar e a tirar fotografias. Muitos mais a olhar para as águas calmas do Lago. Eu, e mais uns tantos, dei-me ao trabalho de me descalçar e entrar na água e molhar as pernas até aos joelhos. Depois com as mãos não resisti a molhar a cara e a cabeça. É claro que não fiz isto apenas para a fotografia, mas também. E ela aqui está para documentar.



Senti-me estranhamente eufórico naquele local ao imaginar Cristo a fazer a primeira aproximação aos apóstolos. Não deve ter sido fácil àqueles homens simples deixarem a vida que tinham sem terem nada visível em troca. Apenas tinham uma promessa vaga de serem pescadores de homens. E de certeza que não se aperceberam logo do que isso queria dizer. Mudar de vida assim sem mais nem menos só me parece ter sido possível por virtude de uma enorme força persuasiva de Cristo.

Tentei observar e registar tudo e não me escapou uma placa castanha com letras brancas afixada perto da parede lateral, do lado do mar, da Igreja do Primado.



Lendo-a melhor verifiquei que tem um pequeno poema escrito em inglês e alemão e que tento reproduzir agora em português.

O murmúrio das ondas está a anunciar a hora,
A mais importante que alguma vez existiu.
O Senhor vai descer do céu de novo.
As árvores, as flores e a beleza da luz,
As ondas estão a chamar mais alto.
Clamam: "Está cumprida a promessa,
O dia do Senhor chegou.
Oh! Vem, vem de novo Senhor Jesus!"


Tive o privilégio de estar naquele local onde tudo parece elevado e rodeado de um suave perfume místico. Senti vontade de permanecer ali por mais tempo sem nada fazer. Só a olhar, a sentir e a pensar. Senti ensejo de remover a impossibilidade prática de trazer tudo aquilo comigo. Não o podendo fazer, apanhei uma mão cheia de pedrinhas que trouxe comigo e que guardo religiosamente.


Por estas escadinhas terão passado várias vezes Cristo e os Apóstolos antes e depois de pescarem no Mar da Galileia.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 – 6. Dia 25 de Abril, em Tiberias. 6.3.

6.3. No Mar da Galileia

A visita à Igreja e ao Monte das Bem-Aventuranças foi com os minutos contados. Esses minutos foram suficientes para ver mas não para estar. Não tardou que os nossos guias começassem a insistir connosco para regressarmos ao autocarro. Só depois compreendi porquê. É que há locais que se visitam com marcações prévias para determinada hora e há que estar lá a tempo conforme o combinado.

Desta vez a viagem de autocarro foi relativamente curta. Demorou o tempo necessário para descermos a colina do Monte das Bem-Aventuranças e nos dirigirmos para o ponto da margem do Mar da Galileia em que existe uma ponte de embarque. Durante a descida o nosso guia Sebastião explicou que iríamos dar um passeio num barco construído ao modo do tempo de Jesus, segundo uma réplica bem conservada que os arqueólogos recuperaram do fundo do mar em 1986 e que está guardada por ali perto, no Kibbutz Guinosar, num museu junto à ponte onde iríamos iniciar o passeio de barco. Gracejou dizendo que esperava que ninguém tentasse andar sobre as ondas como Jesus, pois garantia ele que, se o fizesse, iria seguramente ao fundo e ele não tinha os poderes de Jesus para o salvar como fez a Pedro, estendendo-lhe a mão e perguntando Homem de pouca fé, por que duvidaste?

O Mar da Galileia ou Mar de Tiberíades é, afinal uma lago com 21 kms de comprimento e 9 kms de largura. Está a 212 metros abaixo do nível do mar. E desde os tempos bíblicos mais remotos e até aos dias de hoje há relatos que confirmam o fenómeno da abundância de peixe. É alimentado pelo Rio Jordão que entra a norte e escoado pelo mesmo rio a sul. Nem sempre é um mar de águas calmas. Por vezes geram-se tempestades provocadas por fortes redemoinhos de ventos vindos das montanhas à volta que se cruzam e enfurecem.



Antes de chegarmos à ponte propriamente dita, encontrámos um muro no lado direito, relativamente extenso, serpenteante, com uma capa lateral e cimeira sobre a qual há um mural com diversos motivos da zona representados em azulejo alicatado, multicolor. Logo à entrada, tem uma frente de uns três a quatro metros onde está escrito em inglês, em hebraico e em árabe que se trata de uma obra artística criada e trabalhada conjuntamente por jovens de cultura judaica e árabe. É bonito lermos isto.



Entre os motivos distinguimos uma fila de camelos e um grupo de salamandras e cenários com montes, árvores, água e ondas marinhas.



À esquerda há uma construção de linhas modernas por onde passaremos no regresso, em que se situa o museu que guarda, entre outras coisas, o barco antigo do tempo de Jesus. Além da loja de recordações é aproveitado pelos turistas para utilizarem as casas de banho.




Fomos direitinhos para a ponte, no fim da qual, no nosso lado direito, estava um barco à nossa espera. O barco tinha uns dez metros de comprimento. A proa era oval com espaços reservados à frente, onde estava o mastro para as bandeiras, e atrás onde se sentava o capitão e havia uma mesa de som, com colunas. No resto, de um lado e do outro, havia bancos corridos fixos com extensão suficiente para se sentarem todas as trinta e cinco pessoas do grupo. O convés tinha uma cobertura que me pareceu ser em zinco canelado e que protegia as pessoas do sol.




Foi o Sebastião que, em nome do capitão e da tripulação nos deu as boas vindas. E como o grupo que estava ali era português, havia que identificar o nosso país de origem, içando, no mastro, a bandeira portuguesa ao lado da de Israel, cerimónia que iria ter forma solene ao som do hino nacional português.



Foi muito emocionante este pormenor. Era, como já referi, o dia 25 de Abril, feriado em Portugal. E sei, por experiência própria, que, quando as pessoas e as coisas que nos são queridas estão longe, adquirem para nós mais valor sentimental. A minha Mãe, que criou seis filhos, costumava dizer aos filhos presentes que gostava mais daquele que estivesse doente e dos que estavam ausentes. Hoje compreendo melhor o que ela queria dizer. Como vivi mais de uma dezena de anos em Macau, era com saudade que via lá filmes que, provavelmente, em Portugal nunca teria paciência para ver. Refiro-me ao Costa do Castelo, à Aldeia da Roupa Branca, à Maria Papoila, ao fado de Estudante e outros.

Por isso não fiquei surpreendido ao ver toda a gente a pôr-se de pé quando das colunas de som saiu a primeira nota de A Portuguesa. E mais. Toda a gente encheu bem os pulmões para cantar Os Heróis do Mar…

Não tenho dúvida de que Cristo e todos os apóstolos ouviram bem os ecos do nosso canto a serem repetidos pelas montanhas à volta, de Israel, da Jordânia e da Síria.

Depois foi a altura de, sentados, olharmos para a paisagem ambiente e gozarmos a placidez daquele local místico. A certa altura, o nosso bom P. Artur puxou do livrinho e leu a passagem bíblica de S. Pedro a caminhar sobre as águas na direção de Jesus e afundar-se já quando estava perto dele que lhe estendeu a mão e o puxou chamando-lhe Homem de pouca fé .

Durante o percurso houve tempo para ouvirmos e cantarmos diversas canções, entre as quais a do chamamento Tu fixaste os meus olhos…, a Põe tua mão na mão do meu Senhor da Galileia e Shallon .

A tripulação tinha a sua loja de recordações que apresentou com bastante poder persuasivo. Eu comprei um mapa plastificado ilustrado com os milagres de Jesus à volta daquele mar, para poder explicar melhor esta minha visita às minhas netas. O mapa estava está escrito em português. Posso dizer agora que este objetivo foi cumprido pois elas logo tomaram conta dele para o levarem para a escola, para explicarem aos professores e colegas a viagem dos avós.

O barco foi lentamente até ao meio do lago e regressou ao local de partida.

Ainda, junto à ponte, pude observar e fotografar diversas garças brancas que estavam junto à água.



Passámos depois pelo tal edifício de linhas modernas para vermos, de fugida, o tal barco antigo, irmos às casas de banho e, para quem quis, comprar alguma recordação.

sábado, 14 de junho de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 – 6. Dia 25 de Abril, em Tiberias. 6.2.

6.2. Monte das Bem-Aventuranças

O dia 25 de Abril de 2014 ficará para sempre ligado às minhas recordações porque nesse dia visitei vários lugares santos começando pelo Monte da Bem-Aventuranças ou das Beatitudes como dizem os ingleses.

O autocarro estacionou num parque próprio no cimo do Monte, permitindo-nos entrar logo numa loja de compra de recordações e depois numa pequena alameda ajardinada, vendo-se o Mar da Galileia, ao fundo no lado esquerdo e, à frente, uma igreja construída com basalto escuro e com os recortes das janelas, arcos, pilares e portas em pedra branca.

Foi desenhada pelo famoso arquiteto italiano António Barluzzi autor dos projetos de várias igrejas da Terra Santa. Foi construída em 1939 pelas irmãs franciscanas, com o apoio do governo italiano então dirigido por Mussolini. A igreja tem uma planta octogonal em consideração das oito bem-aventuranças. Fica no topo do Monte Ermos local em que Jesus terá proferido o seu Sermão da Montanha para um elevado número de pessoas.

Logo à entrada da alameda está um arranjo de pedras de rio redondas brancas, com dois peixes de S. Pedro desenhados no meio com pedras pretas. À cabeceira do arranjo está uma mesa com cinco pães, tudo também em pedra. Isto levar-nos-ia a pensar que o que iríamos ver seria a igreja da multiplicação dos pães e não a igreja das bem-aventuranças. Mas, na verdade, a igreja da multiplicação dos pães não é ali, embora não se encontre muito longe.

Foi interessante ver como este arranjo chama a atenção dos visitantes, pois acotovelam-se para tirar fotografias e filmar.

À frente, talvez aí uns cem metros, deparamos com a igreja das bem-aventuranças, que tem um alpendre com arcos circulares em toda a volta. O adro é espaçoso.


Uns cinquenta metros à frente da igreja há um edifício residencial que, creio, será destinado ao pessoal que guarda este local e aos seus convidados.



Entrámos na igreja onde nos sentámos por alguns momentos, não só para admirar os oito vitrais em roda na abóbada tendo cada um a inscrição de uma das oito bem-aventuranças, mas também para imaginar Jesus Cristo ali, há dois mil anos atrás, a falar a uma multidão numa linguagem profundamente filosófica.



Há quem diga que ele falou do cimo do monte para a multidão que se encontrava pela colina abaixo e há quem diga o contrário: que estava lá em baixo, junto ao mar a falar para a multidão. Na minha opinião, face as condições acústicas deste tipo de locais, far-se-ia ouvir melhor falando lá de baixo para a multidão espalhada por aquele anfiteatro natural.

O nosso bom P. Artur fez uma introdução para nos levar ao ambiente dos tempos remotos em que Cristo assim falou:

1.Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus;
2.Felizes os mansos porque herdarão a terra;


3.Felizes os aflitos porque serão consolados;
4.Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados;
5.Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia;
6.Felizes os puros de coração, porque verão a Deus;
7.Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados Filhos de Deus;
8.Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.

Uma vez feita a introdução, abriu o seu livrinho de capa preta, arredou ligeiramente o marcador e começou a ler a parte do evangelho de Mateus em que o sermão das bem-aventuranças é narrado.



Admirada a igreja e feita uma pequena reflexão saímos para dar uma olhadela ao local. Aqui e ali pela encosta havia vários grupos de peregrinos ouvindo as explicações dos seus guias, rezando em conjunto e havia um que cantava.