sábado, 7 de julho de 2012

A temível solidão absoluta

1. Era o meio da tarde do dia de S. Pedro de 2012, sexta-feira, quando cheguei à minha aldeia. Logo me disseram que ia haver um funeral. Perguntei de quem era mas ninguém me soube dizer ao certo. Era de uma senhora de que ninguém sabia o nome e que, após alguma insistência, me identificaram como sendo a mãe de Fulano tal. Não identificavam o Fulano pelo nome próprio mas sim pela alcunha. É que, na minha aldeia, há o estranho costume de as pessoas serem reinventadas, ou clonadas, através de alcunhas. Assim todas as pessoas passam a ser vistas como se fossem actores disfarçados numa peça de teatro ou vistas numa imagem de espelho. Se o funcionário do registo civil viesse fazer a conferência das pessoas pelos dados do registo e perguntasse onde está o senhor que foi registado no dia tal, ninguém lhe saberia dizer quem é. Ele teria de escrever “desconhecido” ou mesmo “já não existe”. E teria razão porque, na verdade, só são conhecidos os clonos das pessoas que deveriam existir.

2. É costume as pessoas da aldeia acompanharem os seus conterrâneos à última morada, mesmo que não os conheçam bem. Ao princípio, eu pensei que o faziam por desinteressada solidariedade. Mas depois convenci-me de que o fazem também por interesse próprio. Querem ter a certeza de que ainda podem andar esse caminho pelo próprio pé.

3. Já se começa a ouvir ao longe um rumor de coro de oração colectiva no tom de mi da escala central. É o funeral. Vem debitando Avé Marias em que a primeira parte é dita por uma só voz e a segunda por um coro relativamente numeroso de vozes femininas, acompanhado num tom mais baixo pelo ronronar do motor da carrinha mortuária. Em apenas três minutos, chegam ao ponto em que me encontro. Os homens vêm à frente organizados em pequenos grupos que, por sua vez, falam entre si das coisas mais diversas. Vem a seguir um outro grupo, com mais mulheres do que homens, que, vestindo opas pretas, erguem a cruz processional e as bandeiras das confrarias. Junto-me ao grupo dos homens que seguem à frente nas suas conversas, alheios à prece colectiva. É um instante enquanto se chega à porta da capela do cemitério. Os senhores da funerária levam a urna para dentro. Uma parte dos acompanhantes entra. A maioria fica cá fora. Lá dentro forma-se um círculo à volta da urna que é colocada a meia altura sobre dois suportes. Mais algumas Avé Marias pela alma da nossa defunta irmã e por todas as almas que repousam neste cemitério. Que descansem em paz, ámen. O Padre oficiante tira a estola roxa e dobra-a em jeito de livro e sai e a quase totalidade das pessoas saem com ele. O verdadeiro funeral acabou ali. Os senhores da funerária levam agora a urna para o local onde vai ser enterrada. Mas isso já não é funeral, é o inevitável enterramento.

4. Fiquei a pensar nos funerais de antigamente. Vinha uma campainha à frente. Havia a caldeirinha e água benta e o hissope. O livro dos ritos que o Padre abria duas ou três vezes em pontos de paragem obrigatória. Era aí que as orações eram feitas, algumas delas em latim. Recordo-me de ouvir o simbólico “De profundis” que o Padre recitava enquanto aproveitava para passar a vista pelas pessoas que ali estavam à volta. Era costume o Padre acompanhar os defuntos até estes descerem à terra. Várias vezes pegava no hissope, molhava-o na caldeirinha e benzia a terra e a urna. E tudo acabava com uma última bênção, após o que solenemente anunciava: podem cobrir. Sucediam-se automaticamente os gritos e sentidos prantos dos entes queridos. Os funerais de antanho eram a sério. Agora até os funerais já são de plástico.

5. À saída da capela estava o filho da senhora defunta facilmente distinguível por vestir uma camisa preta. Cumprimentei-o com os formais sentidos pêsames e perguntei-lhe que idade tinha a mãe. Ele fixou-me e balbuciou um tremular de lábios acompanhado por um instantâneo enrugar da face. Mas não foi capaz de responder. Uma mulher veio em seu auxílio e disse:

“Tinha 97. Eu nem sabia que esta mulher ainda era viva. Desde que o marido morreu, e isso já foi há anos, nunca mais quis sair de casa. Fechou-se lá e não abria a porta a ninguém. Nem as senhoras do Centro de Dia conseguiram fazer nada dela. Só o filho é que lá conseguia ir de vez em quando. Ontem ele foi lá e já a encontrou gelada. Estava morta há vários dias. Já cheirava.”

  6. Como terão sido os dias e as noites desta mulher que optou pela solidão absoluta? Para ela talvez não houvesse tempo com dias e noites. Talvez apenas uma ideia fixa, quem sabe, a imagem do último momento de felicidade que terá tido com o seu defunto marido.

  Como foi possível isto acontecer nos tempos actuais? Na verdade é temível a solidão absoluta.

terça-feira, 27 de março de 2012

Em terras muito distanciadas, a mesma data e uma mesma motivação

1. O começo do século XVII foi muito agitado e marcante em toda a Europa. Estava-se no auge das grandes cisões da cristandade com o aparecimento de diversos ramos de protestantes, habilmente aproveitados pelos senhores da política e da guerra para fazerem valer o seu poderio. Os papas eram os grandes senhores da religião e da política. Mantinham em curso a construção do Vaticano, obra rica e gigante que ia avançando à custa do dinheiro que ia chegando de todo o mundo, muito dele obtido com a venda de indulgências. As lutas entre cristãos, católicos e protestantes, eram ferozes, com matanças mútuas e frequentes. Ficou célebre a tenebrosa “Noite de S. Bartolomeu” em que muita gente, incluindo mulheres e crianças, foi brutalmente sacrificada. Em 1618, estalou uma das mais longas e sangrentas guerras europeias: a Guerra dos Trinta Anos. Estava no poder do Vaticano o Papa Inocêncio VIII que ficou conhecido, nomeadamente, por ter preenchido a cúpula da direção da Igreja Católica com familiares seus, sobrinhos e irmãos, feitos cardeais à pressa, para assegurar o controlo do vasto poderio religioso e político de que então gozava. Foi durante o seu pontificado que Galileu foi afrontado pelos tribunais da Inquisição, tendo escapado à morte por pouco. Não se livrou, contudo, da prisão perpétua, amenizada por ação direta do Papa na forma de desterro com residência fixa e proibição de manifestar publicamente as suas ideias científicas. Apesar dessa opinião desfavorável, para nós portugueses, este Papa foi um amigo, pois, por influência direta do nosso poderoso Bispo de Coimbra, canonizou-nos, em 1625, a Rainha Santa Isabel.

Muitos dos católicos, mantendo-se fiéis à Igreja e à sua crença, procuraram a sua forma de indignação contra os exageros através da redenção pelo isolamento, a pobreza e a austeridade. Assim aconteceu com um grupo de homens que acabou por fundar uma ordem religiosa no cume da montanha bíblica de Elias, o monte Carmelo. Esse grupo de religiosos, hoje tido como uma ostensiva face expiatória dos excessos da Igreja, espalhou-se rapidamente por todo o mundo, chegando também a Portugal. E não foi casualmente que se dirigiram ao Bispo de Coimbra, que logo os acolheu e lhes cedeu uma das montanhas dos seus domínios, a montanha do Bussaco.

E aí eles construíram um convento com ar austero, nas alturas da serra onde a flora era variada e generosa. No cimo da serra, ergueram uma grande cruz. E até essa cruz traçaram uma sinuosa vereda, onde dispuseram ermidas com as várias estações da Via Sacra, com figuras de madeira ou barro de quase tamanho natural.


O General Wellington, em 27 de Setembro de 1810, pernoitou numa das salas reconditas desse Convento quando delineava a estratégia para repelir o invasor francês Massena.


Por cima da porta do Convento deixaram, para a posteridade, inscrita a data de 1628.


2. A partir da Cruz Alta da Serra do Bussaco, saiamos num voo imaginário no sentido de Espanha. Passemos por cima da Serra da Caramulo e depois da Serra da Estrela. E poisemos nessa pequena aldeia que me é especialmente querida: a Capinha.

Como seria a vida lá no começo do Século XVII?

Em Portugal dominava o regime filipino (Filipe III cá e IV em Espanha). Sabemos que o povo estava a ser sacrificado com impostos excessivos e com obrigações de serviço público e militar muito gravosas. Para o poder dominante, todos os caminhos eram bons se fossem dar a Espanha. A Ponte da Meimoa é disso um exemplo e é uma obra filipina dessa época.

Mas como era a vida do bom povo de então? É seguro dizer que a aldeia tinha muito mais gente do que tem hoje. E que, nessa época, teve um grande desenvolvimento ao ponto de ser capaz de erguer a bonita igreja matriz que hoje podemos admirar. Com três naves, elegantes, colunas interiores em granito bem trabalhado e com vistosos altares em talha dourada. Estes têm uma expressiva decoração que, de certo modo, regista o espírito da época e dessa gente trabalhadora e humilde com notável fé e temor religioso.


No lado direito do arco granítico da capela-mor da Igreja deixaram registada a data de 1628.


3. 1628, uma mesma data, registada em locais bem distantes do nosso Portugal, em obras erguidas com uma mesma motivação: a fé religiosa.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Um excelente vinho que é da minha terra mas que não gosta de o ser.

O suplemento de classificados do Diário de Notícias do passado dia 19 de Março de 2012 tinha quase toda a primeira página dedicada a um excelente vinho que é produzido a dois quilómetros do centro da minha terra, mas cujo produtor sempre tem evitado qualquer referência a ela.
Na primeira página desse suplemento, podemos ler em título destacado
“Do coração de Portugal para o mundo”
E depois lemos em jeito de artigo informativo:
“Com uma área de 130ha, a Quinta dos Currais está situada no coração de Portugal, entre as serras da Gardunha e da Estrela, estendendo-se pelas terras de Currais e pela encosta de Santana até à Ribeira da Meimoa, que a delimita a sul.”
Alguém consegue identificar onde se situam essas terras dos Currais? Com uma informação tão deficiente nem com o recurso ao Google se lá chega.
Vá lá que, ao menos, no rótulo é mencionado o Fundão.
A quinta dos Currais e a Encosta de Santana, esta ainda recentemente mencionada neste blogue, estão dentro dos limites da freguesia da Capinha que, na informação dos produtores e promotores do vinho em causa, tem sido deliberadamente omitida.
Parece claro que o Vinho Quinta dos Currais, embora sendo produzido nos limites da freguesia da Capinha, linda aldeia beirã, tem vergonha de pertencer a essa terra. Assim seria melhor que se mudasse para outra.

A página do Diário de Notícias

A fragilidade da paz

1. Muito perto da empresa onde trabalho, havia um conhecido Restaurante onde eu e um amigo costumávamos, de vez em quando, cruzar talheres e pôr as conversas em dia. Posso dizer que já éramos fans quase assíduos de um saboroso pargo no forno que os simpáticos senhores do restaurante preparavam para nós sob encomenda prévia. Numa das últimas vezes que lá fomos, sentámo-nos e, durante bastante tempo, éramos os únicos clientes do restaurante. O meu amigo, jornalista, figura pública, comentou:
- Que sossego! Que paz! Está-se bem aqui!
Passados uns dez minutos entrou no restaurante um casal de duas figuras públicas, que se foi sentar no outro canto da sala. Porém, como o espaço não era muito, não ficaram assim tão longe. Parecia que tinham vindo para um almoço familiar pacífico. Não tardaram, porém, a envolver-se numa discussão da qual, apesar de ter decorrido em surdina, foi impossível não ouvir algumas palavras. Por três vezes a senhora, bonita, que tem sido várias vezes capa de revista, foi à casa de banho abafando soluços e lágrimas, voltando de lá a tentar limpar os olhos húmidos com as costas das mãos. A discussão deste casal levou o meu amigo o corrigir o que tinha dito antes:
- Afinal falei cedo de mais. A paz que tínhamos era, como se costuma dizer, uma paz podre.

2. Gostava de ir a esse restaurante. Os empregados, todas pessoas com muita experiência, tratavam-nos sempre com muita deferência e afabilidade. Há muitos anos que ali trabalhavam, gozando de estabilidade e de paz. Só que, há umas semanas atrás, quando eu e o meu amigo estávamos a marcar o nosso próximo pargo no forno,soubemos da notícia de que, um dia antes, quando os empregados iam começar a sua rotina normal de um dia de trabalho tinham o patrão à espera para lhes dizer que o restaurante estava definitivamente fechado. E disse-lhes para irem para casa que, mais tarde, os haveria de contactar para os compensar conforme os seus direitos. E soube depois que, no mesmo dia, fez o mesmo em mais dois restaurantes de referência que tinha no Concelho de Cascais. Falta dizer que este patrão tinha tido, uns dias antes, uma inesperada espera quando ia abrir o restaurante onde me costumava encontrar com o meu amigo. Três indivíduos que se deslocaram de motorizada e que usavam capacete integral agrediram-no violentamente e roubaram-lhe todos os valores que tinha consigo. Passou alguns dias no hospital.

Afinal a paz era só aparente. Esta restauração de que gostávamos, há muito que estava a ser minada por uma insondável guerra larvar. A paz era só aparente e falámos dela cedo de mais.

sábado, 3 de março de 2012

Justificação

Há algumas amigas que, sempre que me encontram, me dizem que gostam muito de ler o Dicforte. Que escrevo bem. Mas lamentam que eu escreva tão pouco.
Quanto ao escrever bem, é bondade delas. Quanto ao escrever pouco, têm toda a razão. O Dicforte é, na verdade, um blogue excessivamente silencioso. Mas isso não chega a ser defeito. É feitio. Alguns dos meus amigos já me ouviram dizer por várias vezes que eu gosto de ouvir o silêncio. Não é verdade Zé Freire?
E acham piada.
O Dicforte não é um blogue de jornalismo, de intervenção, um fazedor de opinião ou de outro tipo que exija a assistência diária. Está muito longe da assiduidade e da importância de um “Cocó na fralda” ou de um “31 da Armada”.
Tem a ver com a minha pessoa. E eu considero-me um afinador de silêncios. Os meus posts, ver, por exemplo os dois últimos (A memória da minha ama-de-leite e o Que nos valha Sant'Ana) não são mais do que silêncios afinados.
Esta é a justificação.
Nota: A expressão “afinador de silêncios” não é minha. É do Mia Couto (Ver em Jesusalém, pág. 107)

"O silêncio é uma travessia. Há que ter bagagem para ousar essa viagem... Como se pode burilar um silêncio com tanto zumbido na cabeça?" Ibidem, pág. 192.

quinta-feira, 1 de março de 2012

À memória da minha ama-de-leite

Sou o quinto filho de uma família de seis, nascido nos tempos difíceis do auge da Segunda Guerra Mundial. Catorze dias depois de eu entrar neste mundo, foi posto fora dele o Adolfo Hitler.

Nos dias de hoje em que, constantemente, ouvimos falar de crise, não conseguimos imaginar como a vida era difícil no ano de mil novecentos e quarenta e cinco. Na minha aldeia ainda não havia luz, água canalizada ou gás. As habitações não tinham casa de banho. Tudo o que alimentava a vida era genuinamente natural e biológico. Havia a febre social do volfrâmio e as famílias desfaziam-se em esforços para descobrir um filão algures no campo. Se descobriam um, guardavam sobre ele o maior segredo. Iam explorá-lo com familiares e amigos de confiança pela calada da noite.

Nasci de uma Mãe desvelada, generosa. Contudo, por qualquer razão insondável, não conseguia gerar o leite suficiente para me amamentar. Nesse tempo, ainda não havia leite em pó ou farinhas industrialmente preparadas para alimentar bebés. Havia o leite das duas cabritas que faziam parte do património da família. Mas era por natureza sazonal e durava escassos meses.

Nesse ambiente de grande carência, valeu-me a generosidade de uma mulher da aldeia, oito anos mais nova que a minha Mãe, que tivera uma criança na mesma altura em que eu nasci.

Foi ela, a Ti Felícia, a minha ama-de-leite.

Sempre senti por ela uma ternura muito especial. Quando a encontrava, gostava de ouvir as suas calorosas narrativas dos tempos difíceis em que me alimentou. E, em todas as conversas, havia um ponto comum. Aquele em que ela, socorrendo-se de um profundo suspiro, dizia:

“Eras tu de um lado e o meu Chico do outro … Os dois a mamar ao mesmo tempo…”

Esta mulher franzina, humilde, trabalhadora, com o saber de uma vida intensamente vivida, lutadora, duas vezes viúva, auto-suficiente e esclarecida até ao limite final dos seus dias, foi a sepultar no passado Carnaval. Completara noventa e seis anos no começo de Janeiro.

À memória de Maria Felícia dos Santos (1916-2012) aqui deixo estas linhas com os protestos da minha admiração e gratidão. Deixo também um abraço de muita estima aos seus filhos Chico e Alzira, bem como aos seus Netos.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ai a seca!... Que nos valha Sant'Ana!!!

Na minha aldeia, a Capinha, existiu, em tempos remotos, uma capela dedicada a Santa Ana, a avó materna de Jesus Cristo. Ficava a cerca de um quilómetro da igreja matriz, num local ainda hoje conhecido por Santana.

Segundo a informação que recebi dos meus pais e avós, essa capela era muito importante para a população local, na medida em que a Santa a que era dedicada desempenhava o papel moderador em todas as necessidades metereológicas dos habitantes, ao ponto de poderem, se a fé fosse suficientemente forte, ter sol na eira e chuva no nabal.

Sempre que havia uma seca prolongada, o povo ia em procissão até à capela e conduzia a imagem até à igreja matriz. Após os dias suficientes para a novena, a chuva aparecia para colmatar as necessidades. E quando havia invernias com períodos longos de chuva, ao ponto de tudo ficar inundado e não deixar fazer nada nos campos, repetia-se a devoção com o pedido adequado, que tinha o esperado sucesso.

A capela foi destruída, talvez na segunda metade do século XIX, e dela não ficou pedra sobre pedra. Não consegui qualquer notícia sobre as razões do seu abandono e destruição.

Há quem aponte determinadas pedras, nomeadamente colunatas, que foram incluídas na construção de um lagar de azeite situado bastante perto do local onde supostamente a capela se encontrava, como tendo a esta pertencido. O lagar está, por sua vez, em ruínas, mas é possível identificar algumas pedras que se distinguem. Observando-as bem, até parece que pertenceram à capela.

No que respeita à antiga imagem da Santa venerada na capela, essa foi preservada religiosamente na Igreja Matriz. É aliás uma imagem muito bonita, onde Santa Ana está com a sua menina ao colo, de livro aberto, como que a querer explicar-lhe o seu destino.


Para debelarmos a seca que nos começa a atormentar, dava jeito podermos ir à Capela de Santana e levar a Santa titular para a Igreja Matriz. Segundo a fé dos antigos, a chuva não tardaria a aparecer.

Bem, pelo sim e pelo não, na passada sexta-feira, 24 de Fevereiro de 2012, a missa paroquial da Igreja da Capinha foi em honra de Santa Ana. Foi encomendada pelo Povo para… pedir chuva.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Será que os chineses antigos já tinham telemóvel?

Está na moda falar-se dos Chineses. A entrada deles na EDP tornou-os ainda mais vedetas entre nós. Qualquer assunto onde possam ser mencionados serve para chamar a atenção do público, às vezes com o insondável interesse de aumentar a desconfiança em relação a eles.

Vem esta introdução a propósito da crónica publicada pelo Diário de Notícias de hoje, 9 de Janeiro de 2012, intitulada

“Quem vai proibir chineses de roubar praias da Guiné?”

E que começa assim:

“Quando Nuno Tristão navegou até à Guiné em 1446, a China tinha desistido de explorar a costa de África havia uma dúzia de anos. O almirante Zheng He chegara quase até Moçambique, mas os juncos receberam ordem dos Ming para regressar e nunca contornaram o, para nós, Cabo da Boa Esperança.”

Deduzida a dúzia de anos, temos a informação de que, em 1434, o almirante Zheng He estava quase a chegar às costas de Moçambique, mas que o imperador Ming o mandou regressar imediata e definitivamente à terra natal.

Ora, as costas da China e de Moçambique ficam tão longe uma da outra que são precisos muitos dias de arriscada viagem marítima para percorrer a distância entre elas.

Conta-se que o almirante He terá podido estabelecer uma significativa base de apoio na região de Malaca, que fica a meio do caminho entre as duas referidas costas, após presentear o sultão local com uma corte de lindas mulheres chinesas. Além disso, fala-se em Malaca de sete hipotéticos poços que o almirante Hang He terá feito abrir para abastecer a sua frota de água potável, alguns dos quais ainda hoje estarão activos.

Mas entre Malaca e Moçambique, a distância é quase infinita e muito mais o era naquele tempo.

É exagerado dizer-se que, em 1434, os Chineses só não chegaram à costa de Moçambique porque, quando estavam quase a conseguir essa proeza, receberam ordem do imperador Ming para regressar a casa.

Se assim fosse como é que então a ordem lhes terá sido transmitida? Só uma ordem dada por telemóvel poderia ter tido tão imediato e drástico efeito.

Por outro lado, só por exuberância de expressão se pode falar, na invocada crónica, em chineses a roubar praias na Guiné.

Estamos a falar de Chineses.... Como precisamos deles é prudente tratá-los bem...