segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014. 9. 28 de Abril. Em Jerusalém. 9.2.

9.2. A Igreja do Pai Nosso

Saímos da Igreja da Ascensão e seguimos a pé para a Igreja do Pai-Nosso, a poucos minutos de distância.

Assim, após um curto passeio, deparámos com um muro com uns quatro a cinco metros de altura e bastante extenso. Apareciam por detrás dele, algumas copas de ciprestes.

Fomos conduzidos para uma porta que tinha gravada, por cima, a palavra PATERNOSTER. Ao lado, em azulejo, estava a palavra ELEONA, que, na sua raiz grega, significa das oliveiras.
 

Entrámos e vimos um espaço amplo, a um nível inferior, para o qual descemos por uma rampa em forma da letra u, ladeada de roseiras floridas, de pequenos arbustos decorativos e de ciprestes.
 

O espaço está murado e tem, em toda a sua extensão, retângulos de azulejos com as inscrições do Pai Nosso em mais de setenta idiomas.

Logo senti a curiosidade de ir ver onde estava o painel com o Pai Nosso em português. Não foi difícil, pois uma das companheiras já o tinha localizado e indicou-me qual era. Detive-me por uns instantes a ler a oração na nossa língua. Com surpresa minha, está numa versão bastante antiga que, de imediato, me trouxe a recordação dos meus pais, pois era a versão que eles rezavam e que me ensinaram.
 
 
O meu pai, quando se deitava, rezava sempre Um Padre Nosso pelas almas das nossas obrigações. E, a certa altura, dizia perdoai- nos as nossas dívidas assim como nos perdoamos aos nossos devedores. Herdei o costume de rezar o Padre Nosso pelas almas das nossas obrigações, mas não consigo passar sem dizer a versão moderna das ofensas e de quem nos tem ofendido.
 
 
Visto o pátio e o claustro, fomos encaminhados para uma porta que dá para uma gruta que tem gravados por cima os seguintes dizeres latinos: SPELUNCA IN QUA DOCEBAT DOMINUS APÓSTOLOS IN MONTE OLIVETI (Lugar em que o Senhor ensinava os Apóstolos no Monte das Oliveiras).
 

É uma gruta bastante ampla que tem uma janela gradeada para um pequeno recanto onde está a indicação de que é espaço privativo das freiras carmelitas.

Como de costume, o P. Artur leu os trechos bíblicos relacionados com o local, após o que nos convidou a cantarmos o Pai Nosso. Embora o começo fosse titubeante e desafinado, logo foi encontrada a sintonia e a oração saiu com um calor redobrado bem sentido nas nossas mãos que se espertavam umas às outras.

 
Também por aqui andou Santa Helena, mãe do imperador Constantino, que em 326 da nossa era mandou construir uma igreja a que chamou ELEONA. No tempo das cruzadas, a igreja foi reconstruída três vezes, mas acabou por chegar aos nossos dias destruída.  O espaço foi comprado no século dezanove por uma nobre senhora francesa que o doou ao seu país para o preservar como lugar santo. Foi essa senhora, a princesa de La Tour d'Auvergne, que entre 1868 e 1872 fez construir a igreja anexa ao local, juntamente com o atual mosteiro Carmelita.
 

Todo o espaço se encontra bem cuidado.  Apreciei a quantidade e variedade policroma das roseiras que libertavam para o meio ambiente um discreto perfume, aliás muito agradável.
 

Em 1920 foi restaurada a gruta do Pai Nosso. Porém a igreja antiga, que cobriria o espaço atualmente a céu aberto, nunca chegou a ser restaurada, embora haja planos para isso, que, ao que me disseram, aguardam que sejam reunidos fundos suficientes.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 - 9. Em 28 de Abril. Em Jerusalém - 9.1.

9.1. O local da Ascensão

A manhã de 28 de abril de 2014 começou com as rotinas próprias de um dia de turismo em grupo. O morning call, o pequeno-almoço, a reunião no autocarro. Tudo normal. Apenas reparei numa novidade. O vidro do autocarro que havia sido partido por uma pedrada de garotos quando vínhamos do Norte estava finalmente reparado.

Seguiu-se uma jornada de intensa atividade turística com passagem breve por alguns dos lugares santos de referência junto a Jerusalém, fora das muralhas.

Começámos por ser conduzidos para o cimo do Monte das Oliveiras. Já lá tínhamos estado para observar a Cidade Santa. E até descemos o Monte a pé. Mas agora o objetivo era visitar dois lugares santos qua aí se encontram, bem perto do miradouro com vista sobre a cidade e próximos um do outro: o lugar da Ascensão e a Igreja do Pai Nosso.

Curiosamente, ao procurar num guia turístico a Igreja da Ascensão, o índice não me respondeu por esse nome, mas sim por Mesquita da Ascensão. Fiquei interessado em saber a razão do nome mesquita.

Ao chegarmos ao local deparámos com um espaço amplo, cercado por um muro alto. No meio do espaço está uma pequena capela. É essa a capela da Ascensão.






O chão do espaço é de lajes de pedra e está limpo e bem conservado. Observando melhor, vemos junto ao muro circundante, em diversos pontos, várias bases de grossas colunas de pedra o que dá a entender que ali já existiu uma grande igreja.



Por detrás do muro, no lado esquerdo de quem entra no espaço, aparece o minarete alto de uma mesquita.



Na verdade o espaço onde está a capela da Ascensão faz parte da mesquita e está sob administração muçulmana, que, em certas datas e sob determinadas condições, autoriza a realização de atos de culto a outras religiões, nomeadamente à católica romana.

Dentro da capela há um pequeno retângulo no chão delimitado por uma moldura de pedra, onde é visível uma pegada humana gravada na rocha que os crentes aceitam como sendo de Jesus Cristo e junto da qual usam deixar velas acesas, papelinhos com votos ou donativos em dinheiro.




A história do local como memorial da Ascensão remonta aos primeiros tempos do cristianismo. E, cerca de 390, foi ali construída uma imponente basílica financiada por uma rica mulher romana. Esta basílica foi destruída em 614 pelos persas sassânidas. Foi mais tarde reconstruída e pouco tempo depois novamente destruída. Chegaram os cruzados que a reconstruíram novamente. Mas chegaram os muçulmanos de Saladino que a voltaram a destruir, deixando apenas a estrutura octogonal existente, com cerca de doze metros por doze.
 
O local e terrenos adjacentes foram adquiridos por emissários de Saladino em 1198 e, desde então, mantêm-se como propriedade muçulmana, fazendo parte do complexo da mesquita. O local abre para visitas do público durante um horário anunciado no local e nos guias turísticos. Por cima da porta de entrada estão indicados os números de telefone para marcação de visitas.

Dentro da capela pudemos ouvir o P. Artur a ler os textos bíblicos que descrevem a Ascensão de Cristo.

Conta Marcos que, após a ressurreição, Jesus se manifestou aos onze quando estavam à mesa. Disse-lhes então para irem por todo o mundo e pregarem o evangelho a toda a criatura.

Por seu lado, Lucas diz que Jesus conduziu os discípulos até Betânia, no Monte das Oliveiras, e, levantando as mãos, os abençoou. Enquanto os abençoava ia-se afastando deles e foi elevado ao céu. E eles, tendo-o adorado, voltaram para Jerusalém com grande alegria.

Também os Atos dos Apóstolos descrevem o mesmo fenómeno. Após se referirem à instrução dos discípulos concluem: tendo dito estas coisas, foi Jesus elevado à vista deles e uma nuvem o recebeu e ocultou aos seus olhos. Apareceram então dois homens vestidos de branco a dizer-lhes que aquele Jesus que, de entre eles, foi elevado ao céu virá um dia do mesmo modo que o tinham visto partir.

O ponto alto da nossa visita ao local foi quando o nosso grupo, em coro, cantou o ide por todo o mundo e anunciai a boa nova. Foi emocionante ver o entusiamo de alguns dos nossos companheiros que, como já tinham feito noutros lugares, enchiam bem os pulmões para cantarem. Até parecia que queriam que as suas vozes ficassem gravadas nas pedras à volta e aí ecoassem para sempre.

O local é também venerado pelos muçulmanos. Para eles, Jesus Cristo é um profeta e acreditam também que foi ali que ele ascendeu aos céus.

Após a visita, saímos do espaço muralhado e descemos a avenida a pé até à igreja do Pai Nosso.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 - 8. 27 de Abril de 2014. Em Jerusalém. 8.7

8.7. Basílica da Natividade

A viagem do Campo dos Pastores para a Basílica da Natividade foi relativamente curta. O autocarro acabou por parar num parque num dos pisos abertos de um grande edifício urbano, que me pareceu ser o mesmo onde estacionou durante o período do nosso almoço. Fica bastante perto da Basílica e o percurso até lá demora uns escassos minutos a percorrer a pé.
Chegámos à Praça da Manjedoura que logo reconheci, pois tinha estado a ver fotografias no Google.
O edifício da Basílica é surpreendente pelo seu aspeto antigo e pela originalidade de não ter uma grande porta de entrada, nem uma fachada decorada a preceito.


É uma das mais antigas igrejas da cristandade, pois está ali, com muitos aspetos originais, desde o ano 326 da nossa era. Mandada construir pelo imperador Constantino, foi reconstruída pelo imperador Justiniano no ano 530. Resistiu, desde então, a todas as investidas e devastações das ondas e marés da história. Conta-se que, numa delas, a de Saladino, esteve quase para ser destruída. Mas aqueles que iam com a missão de não deixar pedra sobre pedra, depararam-se com pinturas onde havia uma caravana de camelos e homens com trajes e utensílios usados pelos árabes. Eram os reis magos. A notícia chegou a Saladino que decidiu que aquela igreja não iria abaixo por ter sinais da sua própria cultura.
Um outro aspeto que impressiona é o facto de a porta de entrada ser minúscula, ao ponto de termos de nos baixar e muito para podermos entrar nela.


Chamam-lhe a porta da humildade. Vêem-se, na fachada, os vestígios do grande portal original, com um arco agudo em cantaria trabalhada. A razão da porta ser assim é meramente defensiva e foi reduzida ao tamanho atual no período otomano. Os árabes, quando dominadores, usavam fazer investidas rápidas e de surpresa pelos lugares de culto dos cristãos, montados nos cavalos, aproveitando para decepar as cabeças daqueles que apanhavam a jeito. Por outro lado, aproveitavam para introduzir as carroças nas igrejas para carregarem mais facilmente os produtos dos saques. Com a porta assim reduzida, tinham de se inclinar para entrarem. E então, quando se baixavam os intrusos ficavam logo com a cabeça a jeito para ficarem sem ela.

Uma vez entrados na igreja, sofremos a primeira impressão sobre a Basílica.
 
 
Um espaçoso ambiente escuro com múltiplos andaimes armados junto a todas as paredes e colunas. Parecia mais um estaleiro de obras do que uma igreja célebre. Estavam a decorrer importantes trabalhos de manutenção.
 
Mas fomos logo encaminhados para uma porta que se encontra ao fundo da basílica no lado esquerdo de quem entra. E fomos dar a um bonito claustro que nos fez lembrar os claustros de alguns conventos do norte de Portugal. Este lindo espaço, que tem quatro canteiros verdes, um em cada canto, tem ao centro uma coluna relativamente alta com a estátua de S. Jerónimo no cimo. É conhecido por Claustro da Igreja de Santa Catarina.
 

Foi construído em estilo dos cruzados em 1948, tendo sido aproveitadas algumas das colunas e capitéis de um mosteiro agostiniano que aqui fora construído no século XII, em substituição de um outro que ali existira desde o século V, associado à longa estadia no local de S. Jerónimo.

Passámos depois à igreja de Santa Catarina que foi construída pelos franciscanos em 1880. Esta igreja é muito bonita. Está decorada sobriamente e muito bem iluminada. Destaca-se por baixo da mesa do altar, uma vitrina com uma linda imagem do Menino Jesus que parece ter vida.

Entrámos numa espécie de catacumbas por baixo da igreja.


São várias grutas ligadas entre si, onde se diz que S. Jerónimo se retirou durante um longo período para meditar e escrever a sua Vulgata, um texto bíblico em latim, que passou a ser conhecida a partir do ano 404. S. Jerónimo procurou responder ao desejo do papa de então para que fosse usada na Igreja Católica a Bíblia num único texto e em latim. S Jerónimo era um sábio veneziano com um espírito de viajante aventureiro. Estabeleceu nestas grutas o seu posto de trabalho. Podia, por uma comunicação no fundo, aceder diretamente à Gruta da Natividade. Nós, para chegarmos a essa Gruta, tivemos de ir à volta e fazer o percurso inverso do que nos levou até ali.

Regressámos à Basílica da Natividade e fomos logo juntar-nos à fila de peregrinos que aguardava pelo ingresso na Gruta da Natividade.

O tempo médio de espera é de cerca de uma hora, mas nós tivemos sorte pois só esperámos uns vinte minutos. Uma vez na fila, aproveitámos para observar e ir tirando fotografais a algum pormenor que nos chamou a atenção.
O interior da Basílica, com três naves, é de luz muito sóbria, de profunda religiosidade, com a decoração própria dos templos ortodoxos. Tem muitos turíbulos suspensos do teto e muitos quadros com pinturas, representando a Virgem Maria e o Menino Jesus. As naves são suportadas por quarenta e quatro colunas, tendo algumas, que são lisas, pinturas de santos. Provavelmente os trabalhos de manutenção irão cuidar, nomeadamente, de tornar estas pinturas mais visíveis, pois já se encontram meio apagadas.


A fila formou-se e foi avançando na nave do lado direito de quem está virado para o altar-mor. Os guias tiveram o cuidado de convidar as pessoas mais idosas para se irem sentar nos bancos da nave central, mais perto do altar-mor e aí esperarem pela vez de entrarem na Gruta. Durante o tempo de espera não deu para pôr conversas em dia, pois os avisos para o silêncio são bem visíveis. Quando os avisos não eram respeitados, os guias chamavam a atenção dos mais descontraídos e distraídos. E se isso não bastava, vinha alguém incumbido da guarda da igreja fazer uma repreensão mais severa.
 

Chegou o emocionante momento de descermos os degraus que dão acesso à Gruta, que está por debaixo do altar-mor da Basílica.

 
É relativamente pequena, diria que tem cerca de metade da área da Gruta dos Pastores ou da Gruta do Getsémani, mas suficientemente ampla para as pessoas estarem de pé e se movimentarem. O ponto de referência principal é o recanto onde supostamente Jesus teve a sua primeira caminha e que está assinalado com uma estrela de prata, com catorze raios, com um vidro opaco redondo no centro, depositada em cima de uma chão de mármore claro.

 
 

Devota e respeitosamente baixei-me, ajoelhei e toquei os raios dessa estrela e o mármore do chão com as duas mãos e chamei ao pensamento a minha querida Família. Formulei um pedido de proteção divina para ela e de agradecimento por tudo o que tenho conseguido. Acredito sinceramente que muitas cosias boas só me aconteceram porque Deus esteve por perto.
Fiquei feliz por passar a fazer parte dos muitos milhões de pessoas que ali estiveram e tocaram os raios daquela estrela com o mesmo estado de espírito que eu senti.

O tempo ainda deu para observar mais em detalhe a Gruta e registar alguns pormenores mais interessantes.
Subimos os degraus da saída para a Basílica, no lado oposto à entrada.
 

Surgiu então a oportunidade de podermos passear e ver o interior, muito obnubilado pela densidade dos andaimes.

Não tardou a passarmos novamente pela porta da humildade e estarmos na Praça da Manjedoura. É bastante ampla. O chão está coberto com lajes de pedra. É surpreendente o minarete da mesquita que se ergue no outro lado. E mais surpreendente nos pareceu quando os seus altifalantes começaram a difundir o convite para a oração dos crentes muçulmanos.
 
O regresso ao autocarro já foi quase em corrida.

A viagem de regresso foi interrompida pouco depois de ter começado para pararmos numa loja de recordações de uma família cristã, onde os nossos guias já são bem conhecidos e onde aproveitámos para usar as casas de banho. Como habitualmente, só compra quem quer, mas nem sempre resistimos à tentação de comprar mais uma pequena recordação. Eu comprei apenas um pequeno presépio trabalhado, em madeira de oliveira, que me pareceu interessante.
Uma vez no autocarro, comecei a rever o que tinha visto e em que medida é que tudo se encaixa na informação que tinha sobre a história da Natividade.

Quando estava no seminário das missões fazíamos a novena do Natal. E então cantávamos um salmo profético do velho testamento, em latim, que comecei a cantarolar baixinho:
Bethlehem, civitas Dei summi, ex te exiet Dominator Israël,et egressus ejus sicut a principio dierum æternitatis, et magnificabitur in medio universæ terræ,et pax erit in terra nostra dum venerit.

Cantei-o tantas vezes em pequeno, que nunca mais o esqueci.
Depois lembrei-me da história da Natividade contada por S. Lucas:

Naqueles tempos apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Este recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria. Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade.

Também José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida.

Estando eles ali, completaram-se os dias dela.

E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria.

Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite.

Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor.

O anjo disse-lhes:

Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura.

E subitamente ao anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia:

Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objetos da benevolência (divina).

Depois que os anjos os deixaram e voltaram para o céu, falaram os pastores uns com os outros: Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou.

Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura.

Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino.

Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores.

Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração.

Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito.

Quando isto aconteceu, o território que hoje é Portugal fazia parte também do império romano. Será que na província da Lusitânia alguém se terá preocupado com o Decreto de César Augusto? Haverá por cá alguma referência histórica a esse documento tão importante?
A sagrada Família vivia em Nazaré. Desde lá até Belém são cerca de cento e sessenta quilómetros pelas estradas modernas.

Naquele tempo, havia apenas caminhos mal assinalados por montes e vales e cheios de perigos múltiplos. Uma viagem em jumento, por mais ágil que ele fosse, demoraria mais de uma semana. Acresce que, na Terra Santa, os invernos não são muito suaves, caindo neve com alguma frequência. Como é que o pai da família, José, ousou empreender uma viagem destas conhecendo bem o estado de gravidez avançada de sua mulher? Simplesmente para se recensear? Podia fazer isso muito tempo depois, e, então, já poderia recensear o Menino também.
Só o podia ter feito por insondáveis desígnios. De outro modo poderíamos dizer que foi um empreendimento assumido com elevada irracionalidade.

Ou será que não haverá aqui um equívoco universal? Perto de Nazaré, a vinte e cinco quilómetros, há uma outra cidade de Belém, muito mais ao alcance de uma viagem num burrinho, mesmo levando uma mulher grávida. A diferença fundamental está em que, na Belém perto de Jerusalém nasceu o rei David e aí foi coroado. E da cidade de Belém perto de Nazaré quase ninguém fala.
Estava eu nestas considerações quando os companheiros da parte da frente do autocarro suscitaram um pequeno alvoroço a dizer que o vidro ia cair. O condutor encostou à berma e foi verificar, tendo ajustado melhor a fita-cola que segurava os encaixes da borracha. Regressou e parou um pouco mais à frente junto a uma loja tipo drogaria. Veio de lá com um novo rolo de fita-cola, acompanhado pelo lojista que o ajudou a refazer a colagem p

Um rapazinho com uns treze anos estava a chegar a casa com a mochila às costas e quedou-se junto ao portão da casa para observar a reparação. Em certo momento o seu olhar cruzou-se com o meu e vi-o libertar um sorriso encantador a partir de um rosto moreno e de uns olhos largos com duas pupilas muito negras, tipo azeitonas pretas.
Feita a reparação, retomámos a nossa viagem para Jerusalém, para o Hotel Olive Tree, onde chegámos ao começo da noite.

domingo, 12 de outubro de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 - 8. Em 27 de Abril. Em Jerusalém. 8.6


8.6. Campo dos Pastores

A ideia de poder visitar o campo onde os anjos anunciaram o nascimento de Cristo aos pastores fez-me viajar ao passado, aos meus tempos de criança e de adolescente. Isto porque nos presépios que fui conhecendo, as figurinhas de pastores, de ovelhas, de cães de guarda e de carros de bois atraíam-me muito, pois via nelas um encanto muito especial por me permitirem reviver lugares e costumes da minha aldeia natal. Lá, o presépio, grande, era sempre armado junto ao altar de S José. Tinha muitas figuras e luzes e representava, em miniatura, altos montes, encostas e planícies com muitos tons verdes. Participei várias vezes na apanha do musgo e ainda hoje sinto o aroma do cheiro húmido da terra e do húmus.

Durante os dois anos que passei no Convento de Cristo em Tomar, seminário das missões, de Outubro de 1957 a Julho de 1959, era obrigatório passar lá o Natal. O presépio era então feito no Cruzeiro, ou seja, no local onde os dois maiores corredores do convento se cruzam e onde está, ainda hoje, uma imagem de Cristo coroado de espinhos que, na altura do Natal, era encoberta. Lembro-me de que, um dos padres tinha especial jeito para montar o presépio, animando-o por vezes com figuras em movimento. Recordo em especial um moinho branco com velas que se moviam no cimo de um monte e um minicurso de água verdadeira. Os pastores e as ovelhas tinham sempre, nesse presépio, um lugar de destaque. E recordo a linda imagem de um pastor, um pouco maior que os outros, que tinha dependurada do ombro uma miniatura de uma verdadeira flauta de cana.

No Seminário das Missões de Cernache do Bonjardim, o presépio era feito junto a uma das portas ao meio do refeitório. Era lá que fazíamos todos os dias uma pequena cerimónia em que cantávamos canções da época.

Em todos os presépios era habitual haver a expressão latina GLORIA IN EXCELSIS DEO, normalmente em letras douradas, sobre a gruta onde estava o Menino Jesus.

Depois vi presépios e alusões ao Natal nos mais variados sítios e lugares.

Num certo ano, na Tailândia, o Pai Natal chegou montado num enorme elefante para distribuir os presentes aos hóspedes do hotel. Ainda estávamos sentados à mesa do jantar que decorrera num ambiente húmido e abafado junto a uma larga piscina toda iluminada.

De outra vez, em Sânia, no sul da China, o Pai Natal chegou vestido a preceito, ao som de canções de Natal tradicionais portuguesas porque o gerente me pedira antes se eu tinha música de Natal. Eu emprestei-lhe uma cassete que tinha levado para lá e foi a música que se ouviu nas partes comuns do hotel, pelo menos enquanto nós lá estivemos. E digo pelo menos porque o gerente não me devolveu a cassete. Veio antes pedir-me desculpa por ele a ter perdido. Mas o surpreendente dessa noite de Natal foi o facto de o Santa Christmas ter chegado vestido a rigor e distribuído chocolates quando estávamos à volta de uma pista de dança. E depois da distribuição de chocolates fez uma espetacular demonstração de saltos mortais. Parecia mesmo um boneco de borracha.

Com raras exceções, nos hotéis do oriente não há presépios. Estes são substituídos por arranjos de coloridos embrulhos de compras. E a frase Gloria in Excelsis Deo é substituída por esta mais genérica: "Season's  Greetings"!

Atualmente em Portugal, posso dizer, o presépio que mais me tem impressionado é o do Centro Comercial das Amoreiras, porque consigo ver lá a mística de todos os presépios que mencionei.

Podia continuar aqui a fazer referências e a contar histórias de Natal interessantes. Mas já chegam estas para identificar a colorida aguarela do espírito de Natal que eu esperava encontrar em Belém da Judeia, na terra onde Jesus Cristo nasceu e onde aconteceu o verdadeiro presépio, que por ser real, foi o primeiro.

Fomos ao Campo dos Pastores.

Li que há em Belém três locais diferentes identificados pela convicção de que foi lá que aconteceu o anúncio da boa nova aos pastores.

Um primeiro guardado pela igreja ortodoxa grega, em Kanisat al Kuwat, onde se situam as ruínas de uma antiga igreja bizantina dedicada à boa nova dos pastores. Esse local, por se situar mais na linha informativa dos vários monumentos que foram sendo destruídos, é dado por muitos como o local mais provável do acontecimento.

Há um segundo local, confiado à guarda de uma igreja protestante, conhecido por YMCA of Beit Sharam, onde também se crê que a boa nova possa ter acontecido.

O terceiro lugar é aquele que fomos visitar, Khirbat Siyar al-Ghaim, e que está confiado à custódia dos franciscanos.

Posso dizer que este correspondeu, em muitos aspetos, ao cenário que os diferentes presépios foram criando no meu espírito.
 
 

O local está vedado por um muro em pedra não muito alto. A porta de entrada tem um arco onde podemos ler a expressão latina GLORIA IN EXCELSIS DEO. Depois seguimos uma centena de metros por um passeio cimentado com jardim de um lado e do outro. Chegamos a um pequeno largo com um chafariz em pedra com uma coluna no meio passando pelo centro de três pias em pedra que vão perdendo dimensão de baixo para cima. A mais baixa está apoiada em figuras de ovelhas, quase de tamanho natural, em pedra trabalhada. As duas superiores estão apoiadas também em motivos pastoris. A água desce em queda da pia mais alta, passando pelas outras duas, até cair no reservatório do chafariz.


Olhando para a direita, vemos uma espécie de tenda em pedra, que, afinal, é mais uma das igrejas que o arquiteto italiano António Barluzzi desenhou para a Terra Santa.


Dirigimo-nos para essa igreja e vemos que tem suspenso na fachada um grande anjo em bronze. Entramos na igreja e temos a impressão de ter entrado numa enorme tenda de campanha. A luz que vem da abóbada, das janelas e da porta de entrada fazem-nos sentir no campo. O ambiente próprio do dia da Natividade apodera-se de nós quando olhamos para a pintura em fresco que está na parede por detrás do altar-mor.



 
 
É particularmente bonito este quadro pelas cores, pela expressão das figuras, pela naturalidade do ambiente que nos consegue transmitir. Está ali a história da Natividade com uma força tão impressiva que nem muitas mil palavras nos conseguiriam transmitir.

Saímos da igreja e somos encaminhados para uma gruta que se encontra por detrás dela.


É um espaço bastante amplo que tem um altar para celebrações e que está decorada com motivos relativos aos pastores e à Natividade. Achei particularmente interessantes os objetos expostos no canto esquerdo de quem entra na gruta, principalmente as bilhas, com muitos séculos de história, que se encontram muito bem conservadas. Foram encontradas nas escavações feitas a uns trinta metros da gruta.


Fomos dar uma olhadela ao local das escavações que estão a trazer para a luz do dia aquilo que se supõe ter sido um convento do século IV, que estava preparado e equipado para a sobrevivência dos ocupantes a partir da atividade pastorícia e agrícola.


Feita a visita damos uma última olhadela ao complexo e aos campos em redor e tentámos imaginar como será ali uma noite estrelada.
 
Vemos que a construção urbana foi contida bastante a tempo de deixar este cenário com o seu aspeto rupestre. Por aqui poderiam pastar ainda hoje os rebanhos bíblicos. E podemos concluir que este cenário corresponde perfeitamente àquele em que foi cantada pela primeira vez o GLORIA IN EXCELSIS DEO. Os ecos far-se-iam ouvir pela encosta abaixo e seriam repetidos vezes sem fim pelas colinas em redor.

Com a gruta que visitámos em mente e com a linda vista que se alcança a partir do Campo dos Pastores somos levados a pensar que, afinal, a Natividade de Cristo poderia mesmo ter ocorrido nessa gruta.