quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

As eleições presidenciais de 2011 e o zodíaco chinês

O zodíaco chinês organiza a contagem do tempo em ciclos de doze anos, cada um deles patrocinado por um animal. Sucedem-se, no reino desse ciclo, o boi, o tigre, o coelho, o dragão, a serpente, o cavalo, a cabra, o macaco, o galo, o cão, o porco, e o rato. Diz a lenda que, um dia, Buda quis fazer uma reunião com todos os animais planetários e que os convocou universalmente, tendo chegado os doze primeiros pela ordem indicada. Os que chegaram depois deles ficaram fora do calendário.

Não pensem que se trata de mera questão abstracta dos signos, à maneira ocidental. Os chineses vivem colectivamente o ano novo chinês com uma intensidade e um colorido fora do comum. É o tempo da verdadeira festa e do espontâneo convívio social e familiar. Não há chinês que se preze que não siga as tradições ancestrais em relação às comidas e não cumpra a tradição de ir queimar fogo de artifício e fazer rebentar panchões junto à água. Panchões são bombinhas presas umas às outras em cordões entrelaçados. Conforme o seu tamanho, demoram segundos ou até minutos a queimar-se com estrondos sucessivos. À medida que rebentam, libertam barulho, fumo e papelinhos vermelhos. Afastam os maus augúrios e atraem a sorte.

Por mera comparação, posso dizer que, em termos de colorido e fogo de artifício, a passagem de ano novo chinês em Macau deixa a um canto modesto a nossa passagem de ano no Funchal.

No próximo dia 3 de Fevereiro, deixa de reinar o Tigre, pois, no dia 4, chega o novo ano chinês, desta vez sob a liderança superior do Coelho.

E é aqui que começo a falar das nossas muito recentes eleições presidenciais.

É que os portugueses perderam a oportunidade de elegerem, para o ano do Coelho, um presidente com esse nome.

Não admira. É a falta dos conhecimentos e da sensibilidade dos orientais.

Mas mostraram também descuido e falta de hábito em reflectirem profundamente sobre os verdadeiros sinais que os nomes dos candidatos podem encobrir.

Vê-se bem que os portugueses desprezaram a necessidade de elegerem um Defensor para presidir à República, que trabalhasse que nem um Mouro, ou antes, que nem uma Moura, para a defender. Também não valorizaram suficientemente um vulgar Lopes, com raízes populares, que saísse em defesa dessas mesmas raízes e dos valores, por exemplo o verdadeiro folclore, que as mesmas ainda podem conter. Entenderam também que a Pátria já não precisa de um Presidente com o nome Nobre que nobremente se proponha representá-la. Além disso, entenderam que não há motivos para pôr à frente do Estado alguém que seja Alegre por nome e talvez por natureza. Os tempos, na verdade, são mais propícios à seriedade, à perplexidade e à tristeza. E foram escolher um Cavaco que, além do mais, é Silva.

Que mau prenúncio, senhores. Temo que seja um sinal de um país escavacado nas suas diversas componentes: economia escavacada, sociedade em cavacos, saúde cheia de escádeas, etc. etc.. E depois com todo o interior desertificado e transformado num imenso silvado.

Dizem os entendidos no zodíaco chinês que os nascidos nos anos em que reina o Coelho são talentosos, afectuosos, calmos e tímidos. E que são compatíveis com os nascidos em anos em que reinaram a cabra, o cão, e o porco. Mas que são absolutamente incompatíveis com os nativos do galo.

E aqui já dá para concluir.

Os portugueses perderam a oportunidade soberana de terem, no ano do Coelho, a presidir à República, um presidente com esse nome. Sendo Coelho de nome, talvez pudesse atrair a influência astral dos nativos desse signo, e então ele seria necessariamente talentoso, afectuoso, calmo e tímido.

Além disso, seria um fenómeno nunca visto à escala global. Não há notícia de, nos muitos milhares de anos da cultura chinesa, o império ou a república terem tido à sua frente, num ano do Coelho, um imperador ou presidente com o nome desse simpático roedor que tanto jeito dá às famílias que ainda vivem no campo.

Resta-me desejar boa sorte ao Presidente eleito, Aníbal Cavaco Silva. E que nada do que referi em relação ao seu nome se confirme.

KUNG HEI FAT CHOI para o Senhor Presidente! Bom Ano do Coelho para todos!

P.S. - Na verdade o Sr. José Manuel Coelho nasceu em 22-07-1952, sendo nativo do Dragão. As pessoas nascidas em ano do Dragão são saudáveis, enérgicas, teimosas e com falta de auto-controlo. Mas são também honestas, sensíveis, valentes e inspiradoras de confiança e de verdade. São mais excêntricas do que quaisquer outras nascidas noutros signos. Não pedem dinheiro emprestado, nem fazem discursos floridos. Tendem  a preocupar-se muito com os outros. São compatíveis com Ratos, Serpentes, Macacos e Galos.

No meu caso, sou Galo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Num ponto remoto da Ilha da Madeira, a surpreendente Casa das Mudas

Lá longe, na Ponta Oeste da Ilha da Madeira, Concelho da Calheta, onde, há alguns anos atrás, era muito difícil chegar, fomos descobrir agora a surpreendente Casa das Mudas, ou antes o “Centro de Artes Casa da Mudas”. É um museu de alto nível, só possível porque há homens que nunca esquecem a terra onde nasceram. Neste caso, é o Comendador Berardo, o mesmo já mencionado neste Blogue a propósito da exótica Quinta dos Budas.

Graças às modernas vias de comunicação, este interessante museu da Ponta do Oeste madeirense alcança-se em meia hora. Por estar tão integrado na paisagem, pode até acontecer que passemos na estrada e não demos por ele. Mas depois de detectado, ficamos estupefactos por cada passo que damos e cada descoberta que fazemos.


Um portentoso e musculado bronze de Brotero aparece como que a querer sair de uma cratera vulcânica.


À medida que nos aproximamos, somos invadidos por sucessivas sensações pelo aproveitamento que é feito do espaço, pelos quadros artísticos que se vão gravando no nosso cérebro, pelas vistas deslumbrantes que se alcançam e pela fabulosa colecção de arte que vamos descobrindo no interior do Museu. Lá dentro chegamos a perder a noção da localização e somos possuídos pela impressão de que estamos numa galeria de uma grande cidade europeia, como Paris ou Londres. Mas não. Postos os pés firmes em terra, estamos numa longínqua coordenada de um dos mais remotos pontos da Ilha da Madeira.


O projecto do edifício, com cerca de 12.000 m2 de área coberta, é da autoria do arquitecto Paulo David, nomeado para a edição de 2005 do prémio de arquitectura contemporânea Mies van Der Rohe.

É um bom exemplo da descentralização da arte.


No interior do Museu, encontramos uma fabulosa colecção representativa da Art Déco que contribuiu para que a vida da classe média dos anos vinte e trinta do século passado fosse menos monótona e desinteressante.



As inovantes formas de publicidade, a criatividade no desenho de mobiliário e utensílios, a procura de soluções de conforto e das coloridas e artísticas formas de representação das figuras de pessoas e animais, com amplo recurso às civilizações antigas do Mediterrâneo, especialmente a egípcia, são perfeitamente reconhecidas na exposição.



Está de parabéns o Comendador Berardo pelo notável contributo que deu para o desenvolvimento da sua remota terra madeirense.


Quem me dera ter posses como ele para poder fazer algo semelhante pela minha modesta aldeia da Beira Interior, cada vez mais desertificada.


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Chegar ao Funchal e sentir um vendaval

Chegámos ao Funchal no passado dia 29 de Dezembro ao começo da tarde. Estava uma ventania muito forte que até nos dificultou a abertura das portas de entrada no Hotel. Já por detrás da vidraça do quarto, pude observar as rajadas fortes da ventania que varriam tudo, agitando os arbustos num rodopio de burburinho. Pude ver um taxista que, mal abriu a porta do carro para ir ajudar uma cliente a sair, ficou sem o boné que foi projectado para longe pelo vento como se fosse um projéctil. E vi algumas pessoas a quererem andar e a não conseguirem sair do mesmo sítio.

E assim pude sentir um vendaval no sentido próprio.

Mas verdadeiramente o que quero deixar aqui registado é outro vendaval que senti, este em sentido figurado.

Eu tinha visitado a Madeira no Verão de 1976 e agora encontrei esta bela Ilha tão mudada, para melhor, como se por lá tivesse passado um muito forte e bom vendaval.

É certo que trinta e quatro anos representam muito tempo. Para a grande maioria das terras, as mudanças nesse período de tempo, até poderão não ter sido muitas. E, em certos casos, as que ocorreram até podem ter sido para pior. Na Madeira não foi assim.

Em 1976, podíamos visitar a Ilha por estradinhas muito estreitas e cheias de curvas, onde a segurança requeria motoristas bem experimentados. Nessa altura, estava ainda em força a propaganda contra os continentais. Havia grafitti a chamar-lhes cubanos e a sentenciar que, para entrarem na Madeira, tinham que ter passaporte válido. Havia a sigla da FLAMA (Frente da Libertação Armada da Madeira) escrita por muitos recantos, aqui e ali acompanhada da bandeira que se dizia ser a da Madeira Independente, muito idêntica à posteriormente adoptada pela Região Autónoma. O Tio Alberto era, na altura, uma pessoa desconhecida. Ou não. Talvez fosse conhecida na clandestinidade.

Estas referências que então observámos não impediram que pudéssemos ter visitado a Ilha livremente. Não sentimos, aliás, qualquer constrangimento. E posso dizer que viemos de lá encantados.

Agora, ao encanto associa-se o espanto pelos importantes melhoramentos encontrados. Não senti o pavor da travagem brusca do avião ao aterrar, pois a pista é muito mais longa. Há extensas vias rápidas com viadutos e túneis.
Via Rápida do Aeroporto para o Funchal

Há teleféricos. Na baixa do Funchal, há muita luz e animação. Apreciei sobretudo as cores e figuras do presépio monumental em frente da Sé. Gostei de visitar a aldeia temática com alguns animais vivos e ver longas bichas de turistas a disputar a característica poncha, licor feito a partir de aguardente de cana. E adorei ver uma banda filarmónica de jovens que, divertidos, tocavam, cantavam e dançavam num palco do passeio marítimo. E, claro, não poderia deixar de mencionar o espectacular fogo-de-artifício da passagem de ano.

Gostei de ir ao Jardim do Tio Alberto. De lá trouxe margem para descontar as afrontas que ele faz aos Silvas continentais. Parabéns para ele. Que Deus lhe dê saúde para continuar a defender e a melhorar a sua terra.