Como passo, por razões profissionais, uma boa parte do meu tempo nos casinos, quero dar uma ajuda para levar as pessoas dominadas por essa crença a dispensarem a estes estabelecimentos um olhar mais benevolente e a verem neles outros aspectos socialmente interessantes. É que ontem tive o privilégio de assistir à entrega de dois prémios literários criados e geridos pelo Casino Estoril: o Prémio Literário Fernando Namora, criado em 1988, que distingue a melhor obra literária escolhida, de entre muitas, por um júri distinto e exigente, e o Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís, criado há apenas dois anos, destinado a motivar os jovens com menos de 35 anos que se aventurem a experimentar a nobre arte de juntar letras, palavras e frases de um modo disciplinado ao ponto de formarem um livro cujo conteúdo possa ser considerado pelo júri uma surpreendente revelação literária.
Em cerimónia ocorrida no Casino Estoril, presidida pelo Senhor Presidente da República, foram ontem entregues estes prémios ao escritor Mário de Carvalho, pela publicação do livro “A Sala Magenta” e a Raquel Ochoa, pelo seu romance “A Casa Comboio”.
Vasco Graça Moura, Raquel Ochôa, Prof Aníbal Cavaco Silva e Mário de Carvalho
É a segunda vez que Mário de Carvalho recebe o Prémio Literário Fernando Namora. A primeira, foi em 1996, com o romance “Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde”.
Foi dito pelo Júri que a obra deste escritor ontem premiada foi escolhida “devido às suas elevadas qualidades estilística e narrativa e à humanidade do olhar que lança sobre o universo da criação artística e da existência”.
O romance "A Casa-Comboio" conta a história de uma família na Índia, com origens portuguesas. A escritora fez, a certa altura, uma viagem àquele país asiático e não imaginava que se iria cruzar com as informações que deram origem ao livro onde conta a vivência de várias gerações da família Carcomo, que atravessa as histórias de Portugal e da Índia.
Gostei muito de ver a cara bonita e feliz da Raquel Ochoa, de 32 anos, sentada ao lado do Senhor Presidente da República, deliciada a ouvir o que sobre ela disseram Vasco Graça Moura, em nome do Júri, e o escritor mais velho e experiente Mário de Carvalho.
A dissertação feita na cerimónia por Mário de Carvalho teve um vasto e variado conteúdo. Gostei da parte em que salientou a influência do Casino Lisbonense em escritores do Século XIX e das referências ao ambiente dos casinos na produção cinematográfica internacional.
Do discurso da Raquel impressionaram-me, em especial, dois momentos:
- Aquele em que disse que “quando um idoso morre leva consigo uma imensa biblioteca”; e
- O momento final em que, pegando no prémio, estendeu o braço, se dirigiu emocionada para o pai, como se ele estivesse presente na sala, e disse: “Pai, este prémio é para ti!”
Após a cerimónia da entrega destes prémios literários tive ainda a sorte de poder jantar ao lado da escritora Teolinda Gersão, que, em 2002, ganhou também o Prémio Literário Fernando Namora, com a obra “Os Teclados”. Foi muito interessante esta aproximação à pessoa desta reconhecida escritora e compreender melhor como é a vida privada de uma profissional da literatura e descobrir ainda, em relação ao seu marido, uma vasta gama de referências a valores e vivências comuns.
Uma curiosidade final: ambos os escritores ontem premiados são licenciados em Direito.