segunda-feira, 20 de setembro de 2010

OS ENCANTOS DA NOSSA PRAIA (2)

Em Armação de Pera, nos meses de Agosto e Setembro de cada ano, os veraneantes são surpreendidos por duas festas religiosas com uma raiz popular muito antiga. São as festas de Nossa Senhora dos Navegantes, em meados de Agosto, e de Nossa Senhora dos Aflitos, em meados de Setembro. Faz sentido haver esta festa em Setembro, pois é, na verdade, um mês de aflição para muita gente, por ter que arranjar dinheiro para pagar a segunda prestação do IMI e a conta do IRS.

A festa de Nossa Senhora dos Aflitos ocorreu no passado fim de semana.

A bonita imagem da Senhora dos Aflitos

No primeiro dia da festa, uma colorida procissão com o andor de Nossa Senhora dos Aflitos, saiu da capela de Santo António da Fortaleza, construída em 1720 em honra do Padroeiro desta fortificação, para a Igreja Matriz. No domingo, ao fim da tarde, a procissão fez o caminho inverso, passando pela praia, dando-lhe um aspecto diferente e colorido, surpreendendo os banhistas que gostam de aproveitar a praia até ao pôr do sol.

A Praia da Fortaleza iluminada pelo fogo de artifício

À noite, houve uma prolongada sessão de fogo de artifício, que, durante mais de vinte minutos encheu o céu da praia com sucessivas e explosivas rosáceas luminosas de várias tons, para admiração dos muitos veraneantes que se juntaram na Fortaleza e na Marginal até à Praia dos Pescadores. Por breves segundos a Praia aparecia cheia de estranhas formas e sombras, como num conto de fadas.

A Praia da Fortaleza iluminda pelo fogo de artifício (2)

O tempo esteve excelente durante todo o fim de semana.

domingo, 19 de setembro de 2010

OS ENCANTOS DA NOSSA PRAIA (1)

Há mais de trinta anos que considero a praia de Armação de Pera como a nossa praia preferida. Durante este longo período, vimos aparecer muitas modificações, quase sempre para melhor. Numa postagem anterior, já reportei as modificações ocorridas na zona marginal, salientando as saudades que sentimos do Minigolfe. Mas há muitos pormenores que se mantêm e que dão a esta praia um ambiente agradável. Por exemplo, apesar de todas as transformações, numa das ruas que dão acesso à Fortaleza, continua um convite, com um elevado toque de filosófico romantismo, para descansarmos.


"Está Cansado? Sente-se e relaxe. Olhe que a vida é curta."

Estas cadeiras são uma gentileza de um dos residentes, mas já gozam de imagem pública e merecem ser preservadas pela autarquia.

Por outro lado, no extremo nascente da praia, a Lagoa é um rico viveiro de aves.


Gaivotas e garças

Há quem a queira ver aterrada alegando que, imaginem, é um viveiro dos incomodantes mosquitos. Porém a verdadeira razão é a ambição desmedida da especulação imobiliária.

A Lagoa dá cor à paisagem.

Ainda há poucas semanas, vimos uma cegonha misturada com as gaivotas.

Encontramos facilmente garças e mansos pica-peixes, que quase se aproximam de nós.

Pica peixe

E, ainda, permite-nos ver de vez em quando, a passar ou a pastar por ali, cavalos e vacas, dando um aspecto bucólico à paisagem junto à praia.

Manada de vacas a pastar


Já não será fácil encontrar em Portugal muitas praias tão bonitas como esta.

Passeio a cavalo

Está cansado? Venha até à Praia de Armação de Pera e, com uma bebida fresca num dos restaurantes perto da Lagoa, aprecie estes encantos da natureza. Olhe que a vida são dois dias!

domingo, 12 de setembro de 2010

AS TAPEÇARIAS DE PASTRANA

“A Invenção da Glória, D. Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana” é o título de uma exposição temporária que, há já alguns meses, está a ser divulgada pelo Museu Nacional de Arte Antiga para o período de 12 de Junho a 12 de Setembro de 2010. (Prazo agora alargado até ao próximo dia de 3 de Outubro!).

Portanto, hoje seria o último dia da exposição e eu ficaria com pena se não a fosse ver. Parece impossível que, estando o Museu a 10 minutos a pé da minha casa, eu tenha deixado esgotar o prazo com o risco de perder a oportunidade de ver estes tapetes históricos.

Porque, no último dia, costuma haver muita gente, decidi ir mais cedinho. Valeu a pena.

As quatro tapeçarias expostas são, na verdade, um monumental retrato colorido de duas importantes acções militares de D. Afonso V: 3 respeitam à tomada de Arzila, em 24 de Agosto de 1471 e a quarta retrata a ocupação de Tânger, poucos dias depois, em 28 de Agosto. O Rei e o seu filho primogénito, futuro D. João II, são aí enaltecidos.


Tapeçaria do cerco

São tapetes enormes, em lã e seda, com cerca de onze metros por quatro e com uma diversidade cromática que nos encanta. Por outro lado, há um sem número de personagens equipados com armas e bagagens conforme o uso daquele tempo.

Segundo a explicação que nos foi dada, as tapeçarias foram confeccionadas poucos anos depois dos referidos acontecimentos, o que faz aumentar o seu valor como documento histórico. Até então, não era costume reproduzir em tapeçarias factos da história coeva. O uso era confeccionar lindas tapeçarias com cenas bíblicas ou mitológicas.


Pormenor da tapeçaria do assalto

Embora sejam conhecidas como Tapeçarias de Pastrana, não se sabe quem desenhou os cartões que terão servido de molde aos tecelões da oficina Passchier Grenier, de Tournai, da Flandres. No entanto, parece certo que o artista era flamengo, pois Arzila e Tânger aparecem desenhadas com toque da arquitectura flandrina. As características distintivas introduzidas, apenas alguns minaretes, terão resultado de informação oral.

Pastrana é a localidade onde se encontram guardadas, a 200 kms de Madrid, na Igreja da Colegiada de Nossa Senhora da Assunção, sendo propriedade da Diocese local. Não se sabe sequer se alguma vez já tinham estado em Portugal.

Um pormenor interessante é o facto de a tapeçaria do desembarque apresentar um elevado número de mortos amontoados pelo mar junto às muralhas, havendo outros a flutuar. Segundo as crónicas, no desembarque, perderam-se cerca de 200 homens dos 30.000 da expedição, mais por imprudente precipitação do que por outras razões. É certo que o mar estava agitado, mas o Rei, impaciente, decidiu entrar num bote e remar para terra. E uma boa parte do exército decidiu fazer o mesmo, entrando à molhada nos botes de desembarque, alguns dos quais, sobrecarregados, logo se afundavam com o movimento das primeiras ondas.

Nas tapeçarias todos os milhares de figurantes são representados de modo diferente. Não conseguimos ver nelas dois bonecos iguais.

D. Afonso V no seu cavalo

Quem terá encomendado estas tapeçarias? Quem as terá pago? Por que razão não vieram para Portugal? Como foram parar à propriedade da Igreja Espanhola? Estas são algumas das muitas questões relativas às Tapeçarias, para as quais ainda não há resposta.

Em certo momento, nem sequer lhe atribuíram grande valor, uma vez que duas delas foram mutiladas longitudinalmente para se ajustarem ao espaço em que foram dependuradas. Ainda há poucos anos estavam em muito mau estado de conservação, com buracos que, nalguns casos, atingiam vinte centímetros de diâmetro. Foram recentemente primorosamente recuperadas pela Fundação Carlos Amberes e espera-se que, quando regressarem à casa de origem, aí já possam encontrar um espaço com as devidas condições de conservação.


A entrada em Tânger

Um boa notícia final: a Guia que nos acompanhou na visita informou-nos de que o prazo da exposição foi prolongado até ao dia 3 de Outubro.

É uma oportunidade a não perder. Depois já só será possível ver estas tapeçarias no estrangeiro.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

PAULA REGO, UMA ESTRELA NO CASINO ESTORIL

Já referi várias vezes a importância social que o Casino Estoril dá aos eventos culturais, quer organizando alguns, quer apoiando outros.

Na tarde do passado dia 8, tive a oportunidade de participar no importante evento da entrega do prémio “Personalidade do Ano” atribuído pela Associação de Imprensa Estrangeira (AIEP) à pessoa ou instituição que, em cada ano, mais contribui para a divulgação e prestígio do bom nome de Portugal no estrangeiro. Este ano, a laureada foi a pintora Paula Rego, pessoa que eu desejava conhecer pessoalmente para ver a fonte verdadeira de uns quadros que me impressionam muito pelas cores agressivas e pelas posições e expressões ousadas das figuras femininas. Fiquei muito surpreendido quando a vi em pessoa, pois imaginava-a muito diferente. É pequenina, apresenta-se simples como é, sem mascarilhas. Fala descontraída e sem complexos. Os seus olhos vivos e as rugas da cara falam, com a sua expressão, mais do que as próprias palavras. Com estas, pouco mais disse que

 "Dêem mais apoios à cultura, inventem um Euromilhões para a apoiar" e



“Isto tudo acontece por causa deste Senhor” e indicou o Presidente da Câmara, António Capucho, “por me ter dedicado um espaço em Cascais. Obrigada.”

Foi um privilégio para mim ter tido a oportunidade de ver esta grande Senhora da cultura portuguesa em pessoa, e, para além disso, ao lado da nossa bonita Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, também ela artista.




Parabéns à AIEP, na pessoa da sua simpática Presidente, Adriana Niemeyer, pela escolha que fez e aos organizadores do evento por terem conseguido convencer a Paula Rego a ceder algum do seu tempo para ir ao Casino Estoril receber o Prémio.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

No Auditório dos Oceanos, a arte e o talento na vivificação de máscaras

Estreou-se ontem no Auditório dos Oceanos, no Casino Lisboa, um tipo de comédia a que não estamos habituados. Um só artista desdobra-se continuamente numa série de personagens do mundo do entretenimento e da política, vivificando com mestria as respectivas máscaras, como se estivéssemos a ver passar as páginas de um livro para crianças, em que o boneco de cada página acorda e nos canta uma canção, desdobrando-se ele próprio no boneco da página seguinte.

Mesmo sabendo que o cartaz refere um nome masculino, levamos algum tempo a perceber se o comediante é, de facto, homem ou mulher, uma vez que ele imita perfeitamente os movimentos das máscaras de qualquer dos sexos, mesmo quando há personagens em dueto, como acontece na canção “Let’s call the whole thing off” de Louis Amstrong e Ella Fitzgerald.

Apesar de o número de canções passadas em play back total ser elevado, não sentimos os olhos a querer fechar. Mesmo cansados ficam abertos até ao fim do espectáculo sem dificuldade. Para isso contribui a variedade dos temas e dos géneros, da música ligeira à clássica, onde nem sequer falta, imaginem, um pequeno apontamento de música de ópera chinesa e um aparecimento breve de Mao Tsé Tung. Há também três apontamentos da música ligeira portuguesa.

O artista chama-se Ennio Marchetto, tem 50 anos e é natural de Veneza. O seu talento na representação e a sua arte na criação e apresentação cómica das máscaras permitem-nos ter um excelente serão, em que não damos conta do tempo a passar. É assim: começa, respiramos, chegou ao fim. Foi bonito. Passou sem darmos por isso.

Vale a pena ir ver este “The Man and the Show” pela arte e talento na vivificação de um considerável número de personagens, algumas das quais nos trazem recordações de saudade.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O QUE OS PUTOS SOFREM PARA VER O SOL DA FAMA N'OS ÍDOLOS DA SIC

O dia 1 de Setembro chegou ao fim e a noite, mais fresca do que tem estado nos últimos dias, vai avançada. Já é uma da manhã e as luzes do Casino Estoril, as próprias e as muitas reflectidas pelas suas paredes de vidro, dão ao ambiente uma luminosidade que permite ver bem as pessoas que vão circulando descontraídas. E já, na porta principal do Pavilhão de Congressos, se começam a juntar jovens que formam um grupo que vai crescendo a olhos vistos. A bicha formada, numa frente de nove ou dez pessoas, começa a dobrar a esquina num abrir e fechar de olhos. Vêm em pequenos grupos. Alguns trazem guitarras e ensaiam baixinho pequenas cantigas. Outros vão-se sentando no chão junto à parede e aconchegam-se com os agasalhos que trouxeram.

São dez da manhã. A fila é extensa. É uma multidão de jovens, talvez milhares, rapazes e raparigas, dos “teens” e dos “twenties”. Há operadores de câmara a filmar, a varrer com as câmaras aquela massa de gente, passando por cima dela dois grossos microfones com filtros felpudos, suportados por operadores que vão circulando segurando os longos cabos.


Há jovens que vão saindo e outros que vão chegando segurando pacotes com sandes e bebidas.


À uma da tarde, a bicha já é menor e está concentrada no outro lado do Pavilhão. Tomo, com um amigo, um café na esplanada próxima e vejo jovens a chegar e a sair com pacotes de comes e bebes. Numa mesa mesmo ao lado, senta-se um pequeno grupo. Um os jovens acompanha-se à viola, trauteando insistentemente a mesma canção. Ao fim de algum tempo desabafa: “Ainda nem sequer sei a letra toda!”.



Às quinze horas já quase não há bicha no exterior do Pavilhão. Embora os caixotes para depósito de lixo estejam a abarrotar, o espaço exterior está limpo.

Estes putos que vêm em multidão, que passam a noite numa fila para conseguirem ter a oportunidade de ver o sol da fama e que deixam o espaço ambiental limpo são de ouro. São surpreendentes. Merecem ser todos Ídolos.