sábado, 30 de janeiro de 2010

“NAS NUVENS”, FILME SOBRE DESPEDIMENTOS ... A FICCÇÃO E A REALIDADE

A FICÇÃO

Fui ver, há dias, o filme “Nas Nuvens”, em inglês “Up in the air”, que trata do tema sério dos despedimentos. Partindo da realidade, embrulhado nos condimentos da ficção, apresenta este tema actual de um modo agradável, amaciado pela teia do romance subjacente e pela extraordinária capacidade de representação dos actores.

Ryan Binghan (George Clooney) passa os seus dias a viajar de avião, de cidade em cidade, pondo em prática a sua especialização profissional que é, nem mais nem menos, despedir trabalhadores. Esta é, em qualquer empresa, uma tarefa dolorosa, a que todos os da casa tentam fugir. Por isso, contratam a empresa de Bingham e ele lá vai para, de uma maneira fria e impessoal, dizer aos trabalhadores listados: “Está despedido!!!”

Ouvi dizer que o realizador do filme usou, para o desempenho dos papéis passivos de despedidos, actores ocasionais que mais não eram do que pessoas que tinham passado por essa situação humilhante. E nada interessou dizer que sempre serviram a empresa de alma e coração durante dezenas e dezenas de anos. Que não sabiam fazer mais nada. Que tinham a família para sustentar...

A resposta era sempre a mesma: “Está despedido! Tem um dossier na sua frente com as informações necessárias. Vá buscar as suas coisas e deixe o seu espaço de trabalho livre quanto antes.”

Alguns ainda perguntavam: “E se tiver dúvidas?” A resposta então era: “Todas os elementos de que precisa estão no dossier e os contactos também. De qualquer modo quando telefonar já não estarei aqui e será atendido pelo call center da sede da minha empresa...”

Ocorre-nos perguntar onde estavam os patrões desta gente. E logo vemos que estavam cobardemente escondidos atrás da figura autoritária e fria de um despedidor profissional.

A certa altura entra em cena uma ajudante e aprendiz do Binghan, aliás bem jovem e bonita. Ganhou acesso na empresa porque propôs um novo método, ainda mais frio e distante, para despedir. Esse método consistia no uso de um simples computador. Os listados eram chamados a uma sala onde estava um ecran com uma cara que, a partir de um call center situado a muitos quilómetros de distância, lhes dizia secamente: “Não é mais necessário na empresa e, por isso, está despedido. Tem à sua frente um dossier com a informação de que precisa.”

Antes de o novo método ser adoptado, a ajudante teve de acompanhar o despedidor experiente para aprender os seus truques e segredos profissionais. Também ela conseguia ditar de modo frio e impessoal as sentenças. Contudo, por lapso, perguntou a uma senhora o que iria ela fazer a seguir. E ela respondeu simplesmente que se ia atirar da ponte abaixo. O ar cândido da figura desta senhora não deixou preocupados os despedidores que pensaram que ela estava a brincar para os divertir em estilo de humor negro. Mais tarde chegou-lhes a notícia de que a senhora tinha posto em prática aquilo que candidamente lhes tinha revelado. Eles fizeram o que puderam para não acreditar que isso era verdade.

O filme tem um enredo amoroso interessante e até divertido que o torna agradável. Contudo não é esse ângulo que quero abordar aqui e agora.

A REALIDADE

Na empresa onde trabalho está em curso um despedimento colectivo. Faz parte do meu dia a dia ouvir falar da lista dos trabalhadores a despedir. E isto não é a ficção de um filme, é a realidade nua e crua da vida actual.

É certo que a minha empresa não recorreu a despedidores profissionais. Há alguém que, por ela, dá corajosamente a cara. E também é certo que empresa está a tentar minimizar os efeitos dramáticos oferecendo melhores condições compensatórias. Mas há dramas que são em tudo semelhantes aos apresentados no filme que acima mencionei.

Um dos trabalhadores listados quis partilhar comigo as suas angústias e contou que, certo dia, foi chamado ao gabinete do director. Não sabia para quê. A mensagem foi súbita, seca e clara. Ia haver um despedimento colectivo e ele estava entre os listados.

Não podia acreditar. Entrou para a empresa com dezasseis anos e tem agora cinquenta e três, com trinta e sete anos ao serviço da casa. Angustiado perguntava-se como iria ser o seu futuro e o da sua família. A sua mulher perdeu o emprego há já bastante tempo e ainda não conseguiu arranjar outro. Ele aprendeu a distribuir cartas numa mesa de jogo e não sabe fazer mais nada. Com a idade que tem ninguém o vai admitir para um trabalho para o qual não estará minimamente preparado. Com a prestação da casa para pagar e com a filha a estudar no quarto ano de direito...  só pode ver um futuro muito sombrio.

O diálogo com a empresa tem fronteiras bastante fechadas para as soluções possíveis. O que este amigo ouviu é que os critérios foram cegos e ele teve a pouca sorte de ser abrangido por eles. Será inevitavelmente despedido, a não ser que encontre alguém que, interessado na generosa oferta compensatória da empresa, queira trocar com ele...

E agora outro caso.

Ouvi contar que uma senhora listada, quando soube da má notícia, se meteu no carro e acelerou para uma das falésias da costa para se libertar da aflição num voo sem regresso. Em certo momento, contudo, teve o impulso de telefonar a uma pessoa querida para ouvir a sua voz pela última vez. A sua ansiedade deixou abrir o livro onde estava o seu plano e dessa pessoa veio a observação de que quem acabara de vencer um cancro merecia ter melhor destino. E que, afinal, a experiência mostra que, quando uma porta se fecha há sempre outra que se abre.

É assim amigos. Agora compreendem por que razão sinto calafrios quando ouço falar de listas.

Neste caso particular, desejo a todos os listados que, quando saírem desta porta que se fecha, encontrem outra muito melhor e bem aberta para os receber..

domingo, 24 de janeiro de 2010

UM ADEUS AO TÓ LUXO, O DOUTOR...

(O Tó Luxo em foto recente tirada por um nosso conterrâneo)

Na minha Aldeia, a Capinha, acontecem, por vezes, pequenas coisas que nos tocam e nos deixam a pensar.

Soube ontem, 23-01-2010, que o comboio da vida de um conterrâneo, um pouco mais novo do que eu, que toda a gente conhecia por "Tó Luxo, o Doutor", chegou à estação final.

Lembro-me bem do pai dele e vou recordá-lo para explicar a origem de "O Luxo".

Estávamos no fim dos anos quarenta, no período a seguir à segunda guerra mundial. Em toda a Beira Interior havia ainda a febre do volfrâmio. Grupos de pessoas, às vezes famílias inteiras, saíam para as encostas dos montes a esgravatar a terra areosa, cheia de micas brilhantes, seixos brancos e por vezes de quartzos, à procura do volfrâmio, esse minério fabuloso, o ouro preto daquele tempo, usado no fabrico de material de guerra, mais propriamente na chapa anti-bala. Como os terrenos eram alheios, saíam pela calada da noite com candeeiros de mineiro que funcionavam com água e carboneto. Uns ficavam de vigia e outros trabalhavam. A terra era transportada em talegos, às costas ou à cabeça, até ao Ribeiro das Poldras. Aí era areada em pratos largos até se ver no fundo o pó negro, por vezes com alguns grãos mais grossos, do precioso volfrâmio. Com alguma frequência apareciam também pepitas de ouro que eram guardadas até se obter uma quantidade que valesse a pena para serem vendidas aos ourives ambulantes, que, nesse tempo, passavam regularmente pela localidade. Há nos montes adjacentes à aldeia locais onde ainda podemos identificar os poços e minas que foram feitos nesse tempo. Muitos dos habitantes conseguiram então amealhar o suficiente para comprarem uma nova casa ou terras.

Pois ouvi contar que o pai do Doutor foi um explorador bem sucedido e sentiu a felicidade de ter os bolsos cheios de dinheiro. Tinha prazer em comprar os artigos mais vistosos para a sua família, como sejam sedas coloridas, relógios, correntes e fios de ouro, que os ostentava com orgulho. Também ouvi contar que, no fim de semana, costumava ir para a taberna e que, para espanto de todos, pagava rodadas sucessivas e ousava fazer cigarros usando notas de banco como mortalha, que fumava com desafiante postura à frente de todos, como se fossem saborosos charutos cubanos. E, por tudo isso, o povo lhe passou a chamar "O Luxo".

O Tó, o Doutor, ainda terá vivido algum tempo nesse ambiente de abastança e presenciado os excessos do pai, herdando o título de "Luxo". Contudo, terá passado a imitá-lo, no pior deles, o prazer pela bebida.

Mas creio que, para ele, beber não era apenas um vício. Era também uma filosofia de vida. Com o álcool sentia-se feliz e de cabeça liberta. Mais, sentia-se com autoridade para falar de coisas sérias e dar conselhos aos outros, que, casualmente, pareciam opiniões de pessoa culta. E por isso lhe chamavam o Doutor.

Mesmo alcoolizado ele era cordial e inofensivo. Embora com família, nomeadamente mulher e muitos filhos, preferia viver na mais severa solidão.

Ainda no passado dia 10 de Janeiro, estive a falar com ele junto ao Coreto da aldeia. Andava eu a tirar fotografias ao nevão que, nesse dia, cobriu a terra com um manto branco. E deu-me o conselho de ir ao café em frente do Largo de Santo António porque estava lá um boneco de neve, muito bem feito, que até tinha um boné e uma cenoura na boca em jeito de cigarro. Parecia mesmo que estava a fumar.

Soube agora que o Doutor sucumbiu, provavelmente de coma alcoólico, à porta da taberna onde habitualmente arranjava combustível e inspiração para as suas tiradas filosóficas. Estava aí marcada a paragem final para o comboio da sua vida. Aí terá caído, pura e simplesmente como uma árvore cortada, resvalando pela parede em que se encostava, até parar nas pedras frias da calçada, inanimado para sempre. O Inem, quando chegou, já nada pôde fazer.

Isto já aconteceu há uma semana, mas soube apenas ontem. Fiquei triste.

Aos seus filhos, creio que são onze, e outros familiares, deixo aqui estas palavras de simpatia, registadas no fabuloso mundo da internete, em memória do seu Pai, meu amigo, que o povo, com carinho, conhecia por "O Doutor".


Ó Tó! Eu sempre fui fotografar o boneco de que me falaste!!!

domingo, 3 de janeiro de 2010

HÁ QUEM DIGA QUE NÃO AS HÁ ... AS BRUXAS..

Nas vésperas de Natal decidi aderir ao amplamente publicitado múltiplo e super pacote MEO. Mas...

Estava, no dia 29 de Dezembro, a tirar dúvidas para o call center da PT – se for para isto marque 1, se for para aquilo marque 2, se for...marque... marque... marque ... - até que apareceu um operador que transferiu a chamada para outro operador e ainda para um outro que, no fim, achou que não sabia se era possível resolver o meu problema... E se tinha mais alguma questão...

Já não tinha e desliguei...

A partir daí as ditas começaram a trabalhar...

O meu telemóvel apagou-se... liguei-o de novo mas o teclado estava morto. Mudei o cartão para outro aparelho de telemóvel e aí funcionou. Só que os dados do cartão estavam apagados na totalidade. A memória estava livre a 100%.

Isto só podia ter sido obra das ditas.

No dia 30, vieram os homens do super MEO e fizeram as instalações. Era suposto ficar com o mesmo número de telefone da rede fixa e com chamadas gratuitas para todos os números da rede começados por 2. Só que o meu número de telefone ficou silencioso durante a passagem de ano e no dia de Ano Novo o que, no meu caso, me pareceu estranho. Até que fiquei a saber que as pessoas ligavam para o meu número que começa, como todos os da rede fixa de Lisboa, por 21... E ninguém atendia.

Obviamente que não era greve da minha parte ao atendimento de telefone. Os nossos familiares e amigos merecem-me todo o respeito.

Até que liguei a uma familiar que viu no écran do seu telemóvel um número que começava por 275. A seguir experimentou ligar para um meu outro número de uma casa que tenho na zona da Covilhã e que começa de facto por 275. E aqui tocou o meu telefone com o número que começa por 21.

Isto só pode ter sido obra das ditas.

Na verdade os senhores do Meo pareceram-me tão competentes e despachados que nunca fariam um erro desses.

Já fiz todas as reclamações possíveis. Os senhores técnicos do Meo já me mandaram ligar aparelho e desligar o aparelho e ontem, dia 2 de Janeiro de 2010, um deles confessou-me que, em dez anos de PT, nunca tinha visto uma avaria assim.

E hoje, já no fim do dia 3 de Janeiro, a situação é esta:

Quem marca o número da minha casa de Lisboa faz tocar o telefone da casa que tenho na zona da Covilhã. E quem marca o número desta faz tocar o telefone na minha casa de Lisboa. No primeiro caso marca 213... e vê no écran o numero 275... e no segundo caso marca 275... e vê no écran 213....

Como muito pouca gente sabe desta história continuam a marcar o 213.. e acreditam que eu estou de facto fora ou que é má vontade minha em relação ao telefone, o que não é verdade.

Também tenho a notícia de que nem toda a gente consegue ligar para o meu número de telemóvel. Este dá sinal de que toca, mas não no meu aparelho.

E, pelo meu lado, gostava de ligar para algumas pessoas que não pude contactar no Natal, mas os números foram-se no apagão.

Tudo isto terá sido obra de quem?

Só podiam ter sido elas ... as ditas ... BRUXAS!!! Os senhores da PT nunca fariam uma coisa destas...

Só mais uma achega para adensar a confusão: instalei o pacote Meo com a vanguardista fibra óptica. E na minha aldeia só há a rede cobre.... Por que razão as bruxas se lembraram de ir lá buscar o número 275......?

Só tenho uma resposta: para confundir o progresso com o seu discreto toque de bruxaria.