sábado, 8 de maio de 2010

ENCONTRAR AMIGOS 40 ANOS DEPOIS.... EM 1 DE MAIO

Já escrevi neste blogue que o mês de Maio é o mês de todos os encontros. Desta vez foi o do Batalhão de Caçadores 2845, em Buarcos, num Restaurante junto à praia. O 2845 embarcou no navio Niassa para a Guiné no dia 1 de Maio de 1968 e regressou, no mesmo navio, em 3 de Abril de 1970. Por mero acaso, eu não viajei nesse paquete. Para a Guiné fui uns dias antes num avião da força aérea, com bancos de francaletes e com um rongue-rongue de hélices que nunca mais acabava, com o 1.º Sargento Santos, para tratarmos da logística. No regresso, vim, uns meses antes, evacuado num avião da TAP.

O Bolo do 42.º Aniversário do Embarque para a Guiné

O reencontro do batalhão foi muito concorrido. Apareceram muitos dos antigos camaradas, quase todos acompanhados por familiares. Foi um arraial de exclamações e de abraços viris, sentidos, com palmadas nas costas que se ouviam a metros de distância, quase sempre seguidos de uma troca de olhares incrédulos, por vezes acompanhados por um passar de mãos pela cara e pelos cabelos, num gesto de incredibilidade, em que as coisas não pareciam ser reais e em que era preciso tocar para crer como fez S. Tomé.

O encontro da Companhia dos Vampiros, a 2367

Assim aconteceu comigo no abraço que dei ao 1.º Sargento Santos que foi o meu companheiro na comissão de quartéis na longa viagem do rongue-ronge do avião da força aérea. Bem disposto e em forma, fez um esforço heróico para ir a este encontro, que a mulher e a filha, amorosas e dedicadas, generosamente lhe proporcionaram. Dizia-me a filha que o conduziu:

- Foi difícil. De Almada até aqui tivemos de parar três vezes nas estações de serviço, mas valeu a pena.


O amigo Sargento Santos com a mulher

E no abraço ao CHE, o alferes Ferreira, que como eu e tantos outros foi arrancado à sua vida civil quando estudava na universidade de Coimbra. Não se inibia de, em todos os momentos, exprimir, à sua maneira, o repúdio pela situação de tropa forçada. Por ser contestatário, o capitão da companhia alcunhou-o de CHE e era assim que era tratado por toda a gente. Poucos o conheciam pelo nome próprio. Ao abraçá-lo, logo me vieram as recordações da frequência com que ele começava a cantar a balada:

Triste vai Pedro Soldado,
Num barco da nossa armada.
Leva o seu nome bordado
Num saco cheio de nada.
Triste vai Pedro Soldado.

Geravam-se quase sempre coros espontâneos que ecoavam como um lamento que ficava no ar. As conversas voltavam, mas logo se quedavam por instantes, dando origem a curtos intervalos de silêncio, que se repetiam cada vez mais curtos até a algazarra se instalar de novo e tomar conta do ambiente. Quando o primeiro momento de silêncio aparecia, era como se todos esperassem que acontecesse qualquer coisa que ninguém sabia o que era.

E o abraço que dei ao Alferes Moutinho Santos que agora é um dos impulsionadores da ONG “Tabanca Pequena” que tem como objectivo angariar fundos para a instalação de sistemas de água potável nas zonas rurais da Guiné (http://tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/).

Admiro o carola organizador deste encontro, o Albino Silva, que desta vez levou um livro todo em verso, intitulado “Armados para a Paz”, onde conta a sua história em 63 páginas. São particularmente interessantes os versos dedicados à Madrinhas de Guerra e às Lavadeiras da Guiné que lavavam a roupa dos militares. Transcrevo a primeira e última quadras desse livro:

Camaradas da CCS
42 anos já lá vão
Quando fomos para a Guiné,
Unidos em Batalhão.

Somos Nós neste País
Que mal nos tem tratado
ORGULHOSOS COMBATENTES
POR TER PORTUGAL HONRADO.

E dou o meu total acordo à conclusão final.

2 comentários:

Mariana Ramos disse...

Já te disse que gostei muito do convívio deste ano?
Bjs.
M

Billy disse...

Que relato tão emocionante! Deve ter sido muito bonito reencontrar os amigos de outros tempos e de outra situação. Ainda bem que o Portugal de hoje é tão diferente, com crise(s) e tudo.

P.S. - gosto muito da forma como contas as histórias!