Sempre senti uma curiosidade enorme em relação às notas musicais. Na instrução primária, um dos livros tinha uma canção numa das páginas. Estava esperançado que, chegando lá, o Professor explicasse como é que aquilo se interpretava. Como vi que ele ia saltar a página perguntei-lhe:
- Sr. Professor, como se lê a letra de músico?
Ele respondeu tão somente:
- Meu palerma, a letra de músico não se lê, canta-se.
Isto não impediu que, ainda hoje, eu sinta grande atracção por um concerto de filarmónica onde quer que ele ocorra. Como passeio com frequência pelo Jardim da Estrela, detenho-me, por vezes, um pouco, junto ao coreto, imaginando-o a ser utilizado por uma grande filarmónica.
O tecto do coreto do Jardim da Estrela
O Rossio é um dos meus locais preferidos de Lisboa. Adoro sentar-me numa das esplanadas laterais e ver a cidade desfilar à minha frente. Numa tarde quente de verão, é possível observar a passagem de um número interminável de pessoas todas diferentes. Mais vestidas e quase despidas. Cores garridas e cores discretas. Umas elegantes e outras de cinturas avantajadas. Umas de mãos livres, outras segurando objectos dos mais diversos tipos e feitios. É o rapaz maltrapilho que vem pedir uma moeda ou o cigano a tentar vender óculos de sol ou relógios contrafeitos. Vi, a certa altura, passar uma gigantona, talvez americana, tão grande e tão gorda que as banhas ondulavam como um oceano, segundo o movimentos da perna em que se apoiava.
Que cidade tão diferente e tão bonita!
A certa altura apareceu uma jovem tocadora de uma das bandas, com o seu saxofone dependurado ao pescoço, olhando agitada para um lado e para o outro como se andasse perdida e procurasse alguém ou alguma coisa.
E eis que entrou apressada num dos estabelecimentos e saiu pouco depois refrescando os lábios com um valente cone de gelado.
E por cima de toda esta paisagem, abafando todos os ruídos, lá veio o concerto das bandas com numerosos instrumentos e tambores de vários tamanhos, tocando trechos dos mais diversos tipos e ritmos. Mesmo com o trânsito a fluir normalmente, faziam-se ouvir as suas músicas.
Essa nova banda de jovens músicos já tem nome. É o “Com’Paço 10”. O empenho, competência e dedicação que vi nos jovens instrumentistas são sinais prometedores.
Tudo isto foi o III Festival de Bandas de Lisboa. Gostei. Que venha o IV.
Muitos parabéns aos jovens do “Com’Paço 10”.
P. S. - Pena é que a Música da Peroviseu não tenha participado neste encontro.
2 comentários:
Tão giro! Parecia estar a ouvir a banda a tocar. :)
(os teus posts têm o condão de transmitir sons e cheiros de uma forma muito vívida)
Ainda bem que gostas e eu sinto-me feliz só porque gostas. Beij. PT
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