quinta-feira, 3 de março de 2011

Panamá 2011 - Os três marcos da independência

O Panamá foi conquistando a sua independência total por fases.

O primeiro grande passo foi a libertação da Coroa Espanhola, em 28 de Novembro de 1821. Ficou a integrar, a partir de então, a Colômbia.

Contudo, em 3 de Novembro de 1903, o País conseguiu libertar-se da soberania colombiana com o apoio aberto dos Estados Unidos. Este apoio surgiu porque a Colômbia se opunha à abertura do Canal e os americanos viam grande interesse económico e estratégico em executar essa obra. O Congresso Colombiano rejeitou, de modo categórico, o Tratado Herran-Hay, que permitia aos americanos tomarem conta do empreendimento, e, uma vez concluído, explorá-lo a título perpétuo.

Os panamianos revoltaram-se e proclamaram a independência.

Placa evocativa, existente no Passeio Esteban Huertas, construído por cima da muralha marítima do Casco Antiguo.

No entanto, o processo do  relacionamento com a Colômbia parece ser uma questão mal resolvida. Basta olharmos para o mapa do actual Panamá para verificarmos que a zona da fronteira entre os dois países parece ser uma imensa terra de ninguém. Nenhuma das estradas panamianas chega até à fronteira colombiana e há uma total ausência de povoações relevantes. Parece haver aí um espaço ideal para as insondáveis movimentações da guerrilha e do narco-tráfico.

Libertados da tutela colombiana, o Tratado Herran-Hay foi para a frente. Com ele os americanos ganharam, não só o direito de construir e administrar o Canal, mas também os poderes de soberania, a título perpétuo, sobre toda a zona envolvente, a troco de uma renda anual actualizável. No entanto, na segunda metade do Século XX, tiveram a sua presença muito dificultada devido à contestação popular, com o assassinato de alguns dos seus cidadãos e actos de sabotagem dos seus interesses. Mas a partir da era Carter, os Estados Unidos compreenderam  que as condições tinham mudado e acabaram por abdicar da cláusula da perpetuidade, bem como de alguns dos direitos de administração. E, finalmente, em 31 de Dezembro de 1999, entregaram toda a gestão do Canal aos panamianos e sairam do País.

Agora, as águas turvas dos anos oitenta e noventa já assentaram e o Panamá cultiva, cada vez mais, o apreço pelos americanos e pelo que eles fizeram. E repõem, na praça pública, os ídolos que antes derrubaram.



Precisamente no momento em que passeávamos pela Avenida Balboa, estava a ser ultimado, no local próximo daquele em que se encontra a estátua de Vasco Nuñez Balboa, um monumento à memória do Presidente Roosevelt, cuja placa informativa fala por si.

O Canal está gora em grandes obras de alargamento, onde, curiosamente, há empresas portuguesas envolvidas.

terça-feira, 1 de março de 2011

Panamá 2011 - O que há cá e não há no Panamá

Estamos habituados, na nossa vida quotidiana, a usufruir de uma série de coisas simples de cujo valor só nos apercebemos quando não as temos.

Enumero a seguir uma série de facilidades a que estamos habituados em Portugal mas de que sentimos a falta no Panamá.

- Os táxis não têm taxímetro - Há muitos táxis de cor amarelinha a circular na rua.

Imagem da Avenida Balboa onde são visíveis carros de cor amarela, que são táxis.

No entanto, a maneira de proceder do taxista panamiano é bem diferente da dos taxistas de Lisboa. O custo do trajecto tem se ser discutido e acordado previamente. Não existe o conceito de exclusividade. Podemos ir num táxi já com o preço da viagem acordado e ele pára ao primeiro sinal que lhe fizerem, enquanto tiver lugares disponíveis. É a filosofia do autocarro.


Quando seguimos num táxi, a todo o momento pode entrar mais um... ou mais uma.

Na Avenida Balboa apanhámos um táxi cujo condutor já tinha ao seu lado uma passageira panamiana. Ela tinha o dinheiro pronto na mão que era um dólar e alguns trocos. O custo normal do nosso percurso seria também um dólar e tal. No final, o condutor pediu-nos três dólares, porque éramos três passageiros. O método aplicado foi o do táxi autocarro. Cada passageiro deve pagar o seu bilhete individualmente como o faria se fosse de autocarro. Só que, neste caso, o custo seria bem inferior.

- Os prédios não têm caixas de correio - Isto porque não há distribuição postal. Cada família é obrigada a alugar um apartado na estação de correios mais próxima. Pode ter que aguardar muitos meses que lhe seja adjudicado um apartado. Entretanto, se  estiver à espera de algum correio tem de ir passando pela estação de correios mais próxima para ver se lá há alguma coisa em seu nome na posta restante. Para remessas urgentes terá de recorrer à UPS ou à DHL.

- Não há postos de venda de jornais - Procurámos, por toda a cidade do Panamá, um quiosque ou outro tipo de venda, para comprar um jornal diário. Não conseguimos encontrar nenhum. A certa altura alguém nos informou que no supermercado tal vendiam jornais. Mas esse supermercdo era bastante longe. Apenas conseguimos ler os jornais na Biblioteca Nacional, no Parque Omar.

O diário La Prensa tem um fomato de 56x30 cm o que nos pareceu estranho.

O La Prensa de 20 de Fevereiro de 2011 trazia, na 2.ª página, este apontamento sobre Saramago.

E falava das dificuldades na recuperação do bairro histórico Casco Antiguo.

E enumerava os principais projectos pendentes na recuparação do Casco Antiguo.

Fora isso, só na viagem de regresso é que conseguimos obter no avião um exemplar dos dois diários panamianos: o "La Prensa" e o "Panamá América".

Primeira página do panamá América de 20 de Fevereiro de 2011.

Pelos vistos, o povo panamiano consegue viver bem sem a imprensa escrita.

- Os carros não têm matrícula à frente - Há muitos carros a circular sem matrícula. Na generalidade, têm placa de matrícula apenas atrás. À frente, no lugar da chapa de matrícula, têm o nome da marca do carro, ou não têm nada, ou têm mensagens publicitárias ou de conteúdo religioso como por exemplo "Grande solo Dios". Por vezes têm figuras de santos.

- Não há bidés nem banheiras, nem polibans nas casas de banho -.O chão das cabines de duche  é tão só de cimento ou de azulejo.

- Não há muitos caixotes de lixo na via pública - Mas, mesmo que houvesse, porque é notória uma deficiência de civilidade, o cidadão panamiano joga ao chão os objectos de que se descarta no preciso local em que se encontra. Latas, garrafas, plásticos e papéis aparecem em abundância em qualquer sítio, mesmo nos locais mais cosmopolitas.

A cablagem de eletricidade e comunicações é muito antiquada, fazendo contraste com o aspecto moderno de muitos dos edifícios.


- Não há saneamento na Baía do Panamá - Por isso, quando a maré está baixa, o melhor é não andar na rua nem ter janelas abertas.