segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Panamá 2011 - Um Paraíso chamado San Blas

Já disse que o arquipélago de San Blas é composto por cerca de 400 ilhas, mas apenas 48 têm alguns habitantes. Situa-se no Mar das Caraíbas e faz parte da reserva dos índios Kuna.

Foi aí que chegámos por volta da uma da tarde do dia 7 de Fevereiro de 2011.


Esperava ver à nossa espera um panamiano, kuna ou não, de estatura baixa, tronco e membros grossos, quase sem pescoço, tez morena e cabelo muito forte e preto. Por isso, fiquei surpreendido por vir ao nosso encontro um homem branco, com a pele amorenada pelo sol, de óculos escuros e estatura médio-alta que se apresentou como chamando-se Chico. Falava inglês não nativo.

Duas mulheres kunas deixam a pista de aterragem

O Chico cumprimentou-nos a todos delicadamente e ajudou-nos a transportar as bagagens para um pequeno barco de borracha movido a motor, que logo pôs em movimento, antecipando-se, quanto antes, a alguns outros semelhantes que também recolhiam recém chegados.

À nossa esquerda estava o continente panamiano verde e com algumas montanhas. Parecia haver ali o estuário da foz de um rio. Ao lado direito ia-se desenrolando a povoação de Corazon, de casas baixas, na maioria feitas  de madeira. Corazon ocupa duas ilhas ligadas por uma ponte.

A certa altura o Chico disse:

- O meu barco é aquele com as cores branca e amarela. 

E deu mais velocidade ao motor.


Uma vez chegados, subimos para o barco, um catamaran com as letras CHIC bem visíveis. O Chico ajudou-nos nessa tarefa, bem como a colocar as bagagens dentro do barco. E surgiu de imediato a primeira lei para a nossa estadia.

- É obrigatório andarem descalços dentro do barco. Nada de sapatos, chinelos ou o quer que seja a proteger os pés.

Seguiram-se as boas vindas, uma visita guiada ao barco e a alocação dos espaços onde pernoitaríamos e mais algumas explicações sobre a vida a bordo.

E logo começaram os preparativos para começarmos a movimentar-nos. As velas foram içadas, o motor foi ligado, a âncora foi levantada. Fomos informados sobre os locais do barco onde podíamos estar sentados ou deitados, e, sempre que achava conveniente, o Chico pedia a nossa colaboração e explicava como os instrumentos e equipamentos de bordo funcionavam.

Estava uma tarde de sol quente e húmido com muito boa visibilidade. O barco ia-se movimentando, num ligeiro sobe e desce cadenciado pelo ritmo da brisa a passar nas velas e as ondas baixas a bater nas duas quilhas do catamaran. No horizonte havia várias ilhas. Ao princípio eram pinceladas de verde escuro na linha do horizonte, mas, algumas delas iam ficando cada vez mais perto. O barco seguia com o piloto automático e o Chico ia falando connosco procurando obter informações sobre nós que fazíamos o mesmo.

A certa altura, quando já estávamos relativamente perto de uma pequena ilha com alguns coqueiros, rodeada de areia branca, o Chico disse;

- Hoje vamos ficar aqui. 


A água  azulada e muito transparente, a brisa morna, a pequena ilha ali tão perto com meia dúzia de coqueiros e rodeada de uma faixa alva, uma ilha maior ao lado e outras mais distantes onde se encontravam em descanso outros barcos de diversas cores, tudo isto era a prova de que estávamos num paraíso das Caraíbas a que chamam San Blas.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Panamá 2011 - Na Comarca de Kuna Yala

A Comarca de Kuna Yala é uma reserva de cultura índia no lado atlântico do Panamá. Comarca equivale à nossa Região Autónoma. Os índios kunas são, presentemente, cerca de 80.000 indivíduos, dominam uma vasta faixa da parte continental do país e um vasto número de ilhas do Mar das Caraíbas, cerca de 400, das quais apenas 48 têm alguns habitantes. Têm uma ampla autonomia legislativa e política conquistada através da contestação colectiva, por vezes violenta, sendo que os estrangeiros investidores não são bem vindos às suas terras. Contudo, é possível visitar alguns dos seus santuários, desde que se cumpram regras mínimas essenciais, como seja o respeito pela natureza e pelos seus valores culturais. Em 25 de Fevereiro de 1925, foi reconhecida a sua autonomia, após uma violenta revolução dirigida principalmente contra polícias e estrangeiros. Como resultado dos abusos policiais contra as mulheres, é visível uma franja mestiça de indivíduos que se afastam dos padrões da constituição física dos verdadeiros kunas. Por isso, na revolução de 1925, os polícias foram as principais vítimas. O 25 de Fevereiro é dia feriado na Comarca de Ayala.

Feita esta introdução, continuo o relato da nossa viagem.

Verifiquei que fazia parte da estratégia surpreender a nossa aniversariante com um cruzeiro de três dias no Mar das Caraíbas. Tudo estava preparado. Por isso, duvido que a nossa aniversariante tenha sido verdadeiramente surpreendida. Creio que quem foi realmente surpreendido foi o Dicforte.

Era suposto que o avião saísse logo pelas seis horas da manhã do dia sete. Porém, nos voos internos, os horários são uma mera referência, pois o avião só partirá quando estiver cheio ou quase cheio e não houver outras contingências, como voos charter ou más condições atmosféricas.

A Air Panamá foi simpática ao ponto de avisar ainda na véspera, que o voo não se realizaria antes das nove e meia, o que nos permitiu mais algum repouso das canseiras da viagem do dia anterior, a partir de Lisboa.

O checkin foi feito a tempo para o voo das nove e meia. Contudo, só nos chamaram ao meio dia. Uma vez dado o sinal, foi rápido o embarque. Atrás de nós ia uma mulher kuna com os seus trajes tribais, já idosa. Uma mulher mais nova pediu-nos para a ajudarmos durante a viagem, devido à sua idade.



Os trajes tradicionais das mulheres kunas são coloridos, na base do vermelho, amarelo, verde, azul e branco. Constam de um lenço na cabeça, um piercing no nariz, uma blusa e uma saia e umas caneleiras compostas cada uma de duas peças, ajustadas às canelas das pernas por atilhos.

O avião com dois motores a hélice pareceu-nos bem velhinho. Tinha capacidade para cerca de 20 passageiros e estava quase cheio. Tinha dois pilotos. A duração do voo seria de meia hora e o destino era Corazon de Jesus.

Como o tempo estava bom, pudemos distrair-nos a ver a paisagem que era totalmente verde, com algumas montanhas, enquanto sobrevoámos terra. A partir da orla marítima, ficámos encantados pelas cores do mar, que é em tons de azul, variáveis conforme a profundidade das águas. À volta das muitas ilhas, de formas e tamanhos diferentes, a cor é branca.



Embora o voo fosse relativamente curto, pareceu-nos muito longo devido ao aspecto do avião, ao ruído dos motores, às turbulências que se iam sentindo, sempre mais acentuadas quando se passava uma nuvem.



Ao passar por cima de Corazon de Jesus foi possível tirar uma foto das vistas da povoação. E ainda bem porque, por razões insondáveis, só a conseguimos ver a partir do mar.