quinta-feira, 26 de junho de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 - 6. 25 de Abril, Tiberias. 6.5

6.5. Cafarnaum

Da Igreja do Primado seguimos para Cafarnaum, a uns três quilómetros de distância. Por isso a viagem de autocarro foi relativamente rápida. Mas ainda houve tempo para o nosso guia Sebastião dar algumas indicações sobre o que iríamos ver. Um dos locais mais importantes seria a Casa de Pedro. E então lembrou o milagre em que Cristo, condoído pela tristeza do seu amigo, ouviu o seu pedido e lhe curou a sogra. E aqui o nosso guia sorriu dizendo que agora compreendia por que razão Pedro negou Cristo três vezes. Uma vingançazita pela cura da sogra.

Bem, quando a minha sogra faleceu, houve um amigo que me perguntou primeiro se me devia felicitar ou dar os pêsames. E porque a minha sogra era uma santa não gostei nada do gracejo dele. Estou certo de que S. Pedro também não gostou da brincadeira do Sebastião. Mas de certeza que o desculpou porque a sua intenção era apenas pôr-nos bem dispostos.





Logo à chegada reparamos que Cafarnaum é um espaço vedado. Somos informados por uma placa em língua inglesa que ali era a terra de Jesus. Daí que os arqueólogos se tenham preocupado em identificar a sua casa, mas, até agora, sem sucesso.

O primeiro ponto de interesse em que o nosso guia nos reuniu, foi junto às ruínas da Casa de Pedro. Aí deu mais algumas informações sobre a história de Cafarnaum, aproveitando a sombra da basílica que se ergue sobre o que resta da casa.



Essa basílica tem formato octogonal e está assente em fortes colunas de betão sobre os limites das ruínas da Casa de Pedro.



O nosso bom P. Artur aproveitou o momento para nos ler a passagem bíblica em que Jesus cura o servo do centurião. Este facto, para além de inegável importância religiosa, tem também interesse histórico, pois permite-nos concluir que Cafarnaum tinha uma guarnição militar romana comandada por um centurião, a centúria tinha cerca de 100 militares, o que demonstra a sua importância estratégica. Também as várias referências bíblicas nos permitem concluir que tinha um posto alfandegário. E dizem os livros que por ali passava o caminho comercial que ligava a Síria e o Líbano ao Egito, que os romanos conheciam como Via Maris.

Enquanto ouvíamos as explicações dos nossos guias, decorria dentro da basílica uma cerimónia com um coro de excecional qualidade, com muitas vozes a cantar afinadas em vários tons e acompanhadas de diversos instrumentos. Ainda tentei subir a escada para ir espreitar o interior da basílica, mas não consegui porque estava reservada para a organização que a estava a utilizar. Fiquei com pena. Só a partir de várias fotografias que procurei na internet é que pude imaginar o seu interior. Parece-me ser espetacular o chão da nave em vidro transparente que permite às pessoas que estejam dentro da basílica ver em baixo a ruínas da Casa de Pedro.



Seguiu-se a visita ao relativamente vasto recinto em ruínas, do que resta da cidade onde Jesus viveu o tempo mais longo da sua curta vida e onde começou a sua vida pública.







Impressionou-me o conjunto arquitetónico da Sinagoga, construída com materiais que me parecem não ser da região. Tem altas colunas de mármore, redondas e com bases e capitéis, o que demonstra ter sido construída durante o período da presença romana, disseram-me que no século IV. Chamam-lhe a Sinagoga Branca e há uma placa no local a informar que foi construída sobre as ruínas da antiga Sinagoga de Jesus. Ao lado das ruínas da sinagoga está uma amostra de uma rua, dada como sendo do tempo de Jesus.



Foi emocionante para mim estar a imaginar que Jesus passou seguramente por ali muitas vezes durante os anos que viveu naquela cidade. Há nas ruínas mós diversas e vários potes em pedra o que indica que naquela cidade se produzia azeite e moíam cereais. Aliás, eram o azeite, o trigo e peixe e a fruta os principais recursos económicos dos habitantes de então. A cidade era relativamente vasta, terá uns trezentos por duzentos metros, vendo-se ao fundo um bom trecho da muralha primitiva. No entanto, na teoria dos arqueólogos, esta cidade não teria mais de mil e quinhentos habitantes no tempo de Jesus.

As escavações arqueológicas descobriram uma primitiva igreja cristã bizantina, octogonal e com batistério. Descobriram também vários vestígios dos peregrinos do período bizantino, como sejam pequenas cruzes e inscrições e marcações pessoais. Era então muito visitada. Mas depois, com a dominação árabe a partir do século VI, a cidade foi progressivamente abandonada e esquecida, ao ponto de ter sido totalmente escondida pela natureza. Foi já no fim do século XIX que a organização franciscana Custódia da Terra Santa comprou aquela extensa propriedade coberta de arbustos silvestres e começou as escavações arqueológicas que duraram até 2003. A chamada de atenção foi dada por algumas pedras ainda visíveis da Sinagoga Branca.

Presentemente é um local de constantes peregrinações. Em 1989 / 1990 foi construída a basílica, Memorial de S. Pedro, sobre as ruínas da casa deste. Foi sagrada e aberta ao público em 29 de Junho de 1990.



Há quem diga que a total obnibulação de Cafarnaum durante tantos séculos resultou de uma maldição de Cristo pelo facto de ele não ter sido compreendido pelos da sua terra que nunca deixaram de o ter como o modesto filho do carpinteiro. Eu não acredito nesta versão. Deve ter acontecido com ele o que acontece hoje comigo em relação à minha aldeia, a Capinha, no concelho do Fundão. Conheci-a com muita gente e com muita vida rural. Mas as pessoas emigraram. A natalidade baixou. Restaram uns poucos. E agora com o encerramento das escolas, vai ficar ainda mais vazia e pobre. Os pais vão-se deslocar para mais perto das escolas dos filhos. O resultado é ver "vende-se" por todo o lado e não haver ninguém a comprar. Os telhados caem. As paredes vão caindo com eles. Vêm as silvas e outros arbustos. Em poucos anos já não se verá que ali morou gente. Daqui a poucos séculos a Capinha será um enorme descampado onde só a forma dos cômaros denunciados por uma vegetação mais forte deixará adivinhar por passavam as ruas. Escrevo isto com tristeza. E Jesus que conseguia prever o futuro sentiu isto em relação à sua terra. Apenas uma imensa tristeza nunca qualquer vontade de amaldiçoar.

Quando entramos e saímos nas ruinas passamos por um largo amplo reservado a peões. Nesse largo destaca-se, à direita de quem entra, de costas viradas para o mar uma grande estátua de S. Pedro segurando nas mãos os símbolos do primado: um enorme báculo na mão esquerda e uma espécie de custódia na mão direita.









O sol estava muito quente e os peregrinos cansados e já com sinais de estômagos a dar horas. Por isso os nossos guias encaminharam-nos para o autocarro para nos levarem a um local para nos refrescarmos e almoçarmos.

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