domingo, 22 de junho de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 – 6. Dia 25 de Abril, em Tiberias. 6.4.

6.4. Igreja do Primado

Já mencionei que, na margem direita do mar da Galileia, em localidades não muito distantes umas das outras, aconteceram alguns dos factos mais importantes da vida pública de Cristo. Por isso, num só dia, pudemos visitar e lembrar vários episódios muito significativos para os que professam o cristianismo.

No último apontamento, contei como foi a vivência do passeio de barco pelas águas serenas do Lago Tiberíades. Depois do passeio, mal entrámos no autocarro, o nosso guia Sebastião informou que iríamos ver o local onde Cristo instituiu o papado. Aí existe uma pequena igreja conhecida por Igreja do Primado, Igreja da Mesa de Cristo (Mensa Christi) e Igreja da Pesca Milagrosa.

A viagem desde o local em que estava o barco que nos transportou no passeio até à Igreja do Primado é relativamente curta. Mal deu para o guia Sebastião explicar o que era a Igreja do Primado.

Os autocarros parqueiam num espaço a eles reservado em forma de um grande círculo. Os peregrinos e visitantes vão pelo seu pé por uma passagem pedonal que desce a colina até ao mar. Essa passagem não é muito larga e está ladeada por grades de ferro de ambos os lados. Há árvores que dão sombra ao percurso tornando-o mais agradável. Não é muito extensa essa via. Tem talvez umas três centenas de metros.



A certa altura há, no lado direito de quem desce, um painel que pode passar despercebido a muita gente por não o verem ou por o tomarem por um simples cartaz publicitário e, por isso, não merecedor de atenção.

Acho que valeu a pena ter parado uns minutos para fotografar e filmar esse painel.

É que nele estão as imagens e brasões de todos os papas, desde S. Pedro até ao nosso bom Papa Francisco. É uma mão cheia de pequenas imagens. Francisco está no cantinho direito da fila rentinha ao chão. Segundo os livros ele e é o número 266.







Após vermos este painel, seguimos mais umas dezenas de metros até à Igreja da Mensa Christi. É uma pequena igreja em pedra escura de basalto, mesmo junto ao mar. Logo nos apercebemos de que há muitas pessoas que se molham nas água do Lago, andando descalças com alguma dificuldade numa areia preta, grossa.



O Sebastião encaminhou-nos logo para a igreja, deve ter agendado a nossa visita com o guardião franciscano para essa hora.



Sentamo-nos por uns minutos e o nosso bom P. Artur, pousando o seu livrinho no pódio das leituras, leu-nos a passagem bíblica em que Jesus proporciona a Simão Pedro e companheiros uma pesca milagrosa. E no seguimento da qual lhe diz Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja (Tu es Petrus et super hanc petram edificabo eclesiam meam). Este foi um momento alto para a igreja católica pois é nesse momento que é instituído o papado.



À entrada do altar mor da pequena capela, há uma rocha vedada com uma corda. À frente dessa rocha há uma pequena placa com a cruz de Jerusalém e com as letras MENSA CHRISTI (Mesa de Cristo). Os peregrinos inclinam-se perante essa rocha sagrada, tocam-na com as mãos ou beijam-na conforme a sua motivação.

Chegou o momento de irmos até à praia.

Num primeiro momento preferi observar os peregrinos que já lá estavam. Havia um homem de meia idade que, com a água até aos joelhos, fazia um inflamado discurso apostólico perante uma câmara de filmar profissional. Havia um grupo de jovens raparigas descalças e sentadas na areia com os pés na água e havia muita gente a filmar e a tirar fotografias. Muitos mais a olhar para as águas calmas do Lago. Eu, e mais uns tantos, dei-me ao trabalho de me descalçar e entrar na água e molhar as pernas até aos joelhos. Depois com as mãos não resisti a molhar a cara e a cabeça. É claro que não fiz isto apenas para a fotografia, mas também. E ela aqui está para documentar.



Senti-me estranhamente eufórico naquele local ao imaginar Cristo a fazer a primeira aproximação aos apóstolos. Não deve ter sido fácil àqueles homens simples deixarem a vida que tinham sem terem nada visível em troca. Apenas tinham uma promessa vaga de serem pescadores de homens. E de certeza que não se aperceberam logo do que isso queria dizer. Mudar de vida assim sem mais nem menos só me parece ter sido possível por virtude de uma enorme força persuasiva de Cristo.

Tentei observar e registar tudo e não me escapou uma placa castanha com letras brancas afixada perto da parede lateral, do lado do mar, da Igreja do Primado.



Lendo-a melhor verifiquei que tem um pequeno poema escrito em inglês e alemão e que tento reproduzir agora em português.

O murmúrio das ondas está a anunciar a hora,
A mais importante que alguma vez existiu.
O Senhor vai descer do céu de novo.
As árvores, as flores e a beleza da luz,
As ondas estão a chamar mais alto.
Clamam: "Está cumprida a promessa,
O dia do Senhor chegou.
Oh! Vem, vem de novo Senhor Jesus!"


Tive o privilégio de estar naquele local onde tudo parece elevado e rodeado de um suave perfume místico. Senti vontade de permanecer ali por mais tempo sem nada fazer. Só a olhar, a sentir e a pensar. Senti ensejo de remover a impossibilidade prática de trazer tudo aquilo comigo. Não o podendo fazer, apanhei uma mão cheia de pedrinhas que trouxe comigo e que guardo religiosamente.


Por estas escadinhas terão passado várias vezes Cristo e os Apóstolos antes e depois de pescarem no Mar da Galileia.

Sem comentários: