Esta igreja é
também
conhecida como Igreja de Todas as Nações
pelo facto de ter sido fruto de um concertado contributo de benfeitores de um
conjunto de nações,
cujas cores nacionais assinalam a respetiva contribuição. O número
de nações é significativo, mas
entre elas não
figura a nação
portuguesa.
Foi também
desenhada pelo arquiteto António
Barluzzi nos anos vinte. A sua construção,
que ocorreu entre 1919 e 1924, sofreu vários
incidentes, com tentativas de embargo por parte dos vizinhos cristãos ortodoxos russos
e dos judeus, motivados por insondáveis
desígnios. E
ainda bem que foi construída
pois é um templo
excecional sob muitos aspetos: religioso, histórico,
artístico e
monumental.
A igreja atual respeita os alicerces da igreja bizantina. E,
como as anteriores, tem como ponto central uma rocha rasa e larga, talvez com
uns três a
quatro metros de diâmetro,
sobre a qual Cristo terá
orado e suado sangue pouco antes de ter regressado à Gruta do
Gethsemani onde foi localizado e denunciado por Judas para, de imediato, ser
preso.
Foi para mim muito marcante o momento em que nela entrei. Da luz
intensa da rua, própria
de um dia de sol no seu apogeu, entrámos
na igreja e, por momentos, pareceu que não
víamos nada, a
não ser a luz roxa
filtrada pelas janelas. Mas os olhos habituaram-se rapidamente e o cenário caiu sobre nós num esmagamento
surpreendente tornando quase real a atmosfera do sofrimento que se abateu sobre
Cristo. Isto porque deparámos com muitas
pessoas prostradas à volta
de uma rocha com vários
metros de diâmetro,
cercada por uma grade em ferro a imitar uma grande coroa de espinhos. Fomos
envolvidos pelo ambiente de luz ténue
mas intensamente roxa. Os raios que vinham da janela e que passavam muito acima
das nossas cabeças
formavam como que um céu
estranho em que fervilhavam miríades
de minúsculas
partículas
suspensas, também
roxas. A iluminação local era muito discreta e não
perturbava este ambiente de profundo respeito a inspirar sofrimento.
O momento em que nos baixámos e tocámos na rocha da agonia é inesquecível. Eu senti como que uma força estranha a invadir-me, não de desânimo ou prostração, mas de conforto. Pensando bem, já vários milhões de pessoas fizeram o mesmo através dos tempos, depositando ali suspiros de solidariedade com os sofrimentos de Cristo e deixando uma imensa variedade de tipos de súplicas e anseios.
Um outro aspeto que impressiona é
o das cúpulas e o das janelas.
Olhamos para cima e podemos contar doze cúpulas, o que não
deixa de nos parecer exótico,
por ser pouco comum nos templos da nossa tradição
arquitetural religiosa. Estas doze cúpulas
provocam uma sensação
angular e quase que sentimos espinhos a penetrar-nos no espírito trazidos pela luz refletida pelas cúpulas que representam uma noite de céu
bem estrelado.
A densidade do ambiente roxo ficou limitada ao interior da
igreja.
Ao sairmos, olhámos para a frontaria e vimos um colorido quadro
bíblico, em
que Jesus está num
ambiente bem vivo, como que de mediador entre os homens e o céu. Este colorido não é comum em
monumentos do género,
pois o vulgar é termos
estátuas e
baixos-relevos em pedra, mais ou menos trabalhada, monocromática.
O trabalho polícromo
do cimo do frontispício
é em mosaico e
foi desenhado por Bagelli. Por baixo do
quadro colorido da parte superior do frontispício erguem-se quatro colunas,
suportando, cada uma delas, um dos quatro evangelistas, estes sim em estátuas
de pedra.
Ao lado da igreja está um horto cercado por grades de ferro,
não muito altas, onde pudemos admirar algumas oliveiras com
troncos largos e antigos, que provavelmente já existiam no tempo de Jesus. Uma delas, ainda nova, localizada no ângulo
junto à torre sineira, foi plantada pelo Papa Paulo VI.
Tivemos o privilégio de ouvir os sinos tocar em festa
durante alguns minutos provocando-nos sensações bem diferentes das que sentimos no
interior da igreja.
Logo que os sinos se calaram dirigimo-nos para o exterior do
recinto para retomar o autocarro e irmos à procura do almoço.
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