8.5. Os Túmulos dos Patriarcas
No apontamento anterior visitámos
a Igreja da Agonia. Estávamos
no começo da
tarde e como começámos
o dia de trabalho turístico
cedo já sentíamos necessidade do
almoço.
Retomámos o autocarro. Ao
entrar reparei que as lascas residuais do vidro partido no dia anterior ameaçavam cair a todo o
momento, pois estavam seguras com fita-cola algumas e a maior parte delas
estavam presas nos encaixes da janela, mas por pouco.
Uma vez dentro do autocarro, o guia Sebastião começou a explicar o
programa que se iria seguir. Iríamos
passar para uma zona sob o controlo da Autoridade Palestiniana, creio que
zona A, na qual ele, por ser judeu, não
poderia entrar.
Por isso, lá,
seríamos
acompanhados por um outro guia local. Almoçaríamos e iríamos a Hebron
visitar os túmulos
dos Patriarcas. Depois visitaríamos
o Campo dos Pastores e Belém.
Após o que
regressaríamos
ao hotel em Jerusalém.
Ele estaria à nossa
espera por volta das oito da manhã
do dia seguinte para recomeçarmos a nossa peregrinação.
No momento próprio,
ainda com a muralha de Jerusalém
à vista, o
autocarro parou e o Sebastião
desceu despedindo-se até
amanhã.
O P. Artur aproveitou a deixa e deu-nos algumas informações sobre os locais
que iríamos
visitar a seguir.
Não
tardou a aparecer a barreira que separa a Palestina de Israel. Placas em betão, com a altura de
nove metros, formando uma vedação
compacta impossível
de ser transposta por uma pessoa sem apoios especiais para o fazer.
Apareceu o posto fronteiriço
e o autocarro seguiu sempre o seu caminho. Não
foi objeto de qualquer controlo visível.
Embora o guia Sebastião
nos tivesse dito para levarmos os passaportes à
mão, os
mesmos não
chegaram a ser necessários.
Nem aqui nem em qualquer outro posto de controlo dentro da Terra Santa, a não ser no aeroporto,
à entrada e à saída de Israel.
Seguramente que os guardas dos diversos postos de controlo já tinham toda a
informação
necessária.
Uma vez transposto o posto de controlo, passámos a ver um
ambiente urbano com as características
dos territórios
árabes, com as
legendas em árabe,
e, por vezes, também
em hebraico e em inglês.
O motorista foi-nos conduzindo para o local do restaurante.
Parou num edifício
com vários
andares. Os mais baixos eram utilizados como parque de estacionamento.
Estacionou num piso reservado a autocarros. Descemos do autocarro e subimos em
escadas rolantes para uns dois pisos acima, com várias
lojas e com um restaurante, tipo varanda, com vista para um vale que se
estendia pela encosta abaixo.
A tarde estava com muito sol, quente, e a
paisagem era agradável.
O aspeto do restaurante era arejado. O teto estava coberto com
veludo amarelado com efeitos de pequenas abóbadas.
Da zona central do teto pendiam cachos de uvas azuis, que pareciam ser de jade.
A comida foi servida rapidamente. Estava ao nosso gosto
ocidental. As batatas fritas tinham um gosto muito semelhante ao das nossas. E
até a carne
servida em espetadas tinha paladar que nos agradava.
Havia, como noutras ocasiões,
pratinhos com picadinhos diversos que escorregavam muito bem com vinho ou
cerveja. Eu pude comprar uma garrafinha de vinho tinto local de qualidade média, de que gostei.
O serviço do
restaurante foi razoável.
O período
do almoço
passou depressa. Como acontece com os nossos centros comerciais, as casas de
banho servem todo o piso. Mas estavam limpas e houve que aproveitar pois não sabíamos o que iríamos encontrar a
seguir.
Descemos pelas escadas rolantes para o autocarro onde o condutor
Itam já estava
à nossa espera
e, com ele, o nosso novo guia, o Vladimir. Simpático
muito se esforçou
para falar um português
que pudéssemos
entender, para explicar o nosso próximo
local de visita, o Túmulo
dos Patriarcas e das Matriarcas, na cidade de Hebron que fica a trinta quilómetros de Jerusalém. Ao contrário do que o seu nome
dá entender, o
Vladimir não tem ascendência russa. Explicou que tem ascendência
espanhola pelo lado da mãe e o pai, palestiniano, resolveu chamar-lhe Vladimir por ser um grande admirador de Lenine.
O local do Túmulo
dos Patriarcas é também conhecido por
local das sepulturas duplas (Me-arat Hamachpelah), por incluírem patriarcas e
matriarcas. Segundo a tradição
encontram-se ali sepultados Adão
e Eva, Abraão
e Sara, Isaac e Rebeca e Jacó
e Lea. É um
lugar sagrado para as três
religiões
monoteístas.
Fica a sudoeste da Cisjordânia,
no coração da
antiga Judeia. A sua segurança
é presentemente
assegurada pelas Forças
de Defesa de Israel. Os muçulmanos
têm ali um dos
seus principais lugares santos, a Mesquita de Ibrahim. Foi nela que, em 25 de
fevereiro de 1994, um médico
israelita, Baruch Goldstein, conseguiu entrar armado e, de súbito, começou a disparar
matando várias
dezenas de pessoas ali presentes. Acabou por ser também ali morto pelos sobreviventes. Hoje é um sionista
radical louco para uns e um herói
para outros. Este episódio
dá uma ideia
do que é a vivência do dia-a-dia
para os duzentos mil habitantes de Hebron. A maior parte da população é árabe. Mas há também cristãos e judeus. No
entanto, li que as relações
entre as comunidades não
são fáceis, havendo
potenciais pontos explosivos que, uma vez acionados, nunca se sabe até onde podem chegar.
Isto é
o que pude concluir de alguma informação
que li. Mas, na verdade, devo dizer que não
foi isso que observei durante a nossa visita. Para além dos militares armados que faziam
guarda ao recinto e ao edifício
do local dos patriarcas, não
vi mais nada que pudesse permitir uma leitura de tensões latentes. Aliás, os guardas
israelitas foram muito simpáticos,
perguntando-me, mal transpus a porta do edifício
que dá acesso
ao local de onde é que
eu era, num inglês
perfeito, de quase nativo. Quando eu mencionei Portugal, os três militares que ali
estavam exclamaram ao mesmo tempo: "oh! Ronaldo! " e chamaram-me a
atenção para o
facto de haver informação
sobre o local nos cacifos ali ao lado, podendo eu levar gratuitamente um
folheto na língua
que me interessasse.
O local impressiona-nos pelo ambiente antigo, pelo aspeto e
atitude de judeus ortodoxos que por ali estão,
alguns lendo livros, outros rezando e fazendo múltiplas
pequenas vénias.
As estantes que revestem as paredes têm
imensos livros com aspeto de serem muito antigos.
Os verdadeiros túmulos
estão na gruta
sobre que se ergue o edifício.
Há, no
entanto, em câmaras
não muito
iluminadas e cobertas por panos de cor dourada, grandes esquifes muito tostados
pelo passar dos tempos. Estando ali, sentimo-nos ser invadidos por sentimentos
de respeito e de admiração
por estes lugares terem resistido a múltiplas
investidas dos homens e da natureza. As tormentas passaram ao lado, pelo menos
nos dois últimos
mil anos.
É justo
que façamos
uma referência
especial ao facto de os judeus não
se sentirem nada perturbados com a nossa presença
nos seus santuários.
Aconteceu isso aqui e noutros lugares que pudemos visitar livremente, incluindo
o Muro das Lamentações.
Saí daquele
local com a sensação
de ter folheado um livro com muitos milhares de páginas,
documentando muitos milhares de anos.
Já no
pátio tirei as
últimas
fotografias do local, incluindo da paisagem que se alcançava, do edifício
da Mesquita de Ibrahim e das barreiras de controlo que, no momento, estavam
completamente inativas.
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