Depois de sairmos da gruta do Gethsemani fomos encaminhados para
o autocarro, ou ónibus
como diz o guia Sebastião.
Da estrada, pudemos ver a frente da Igreja da Agonia, que fica perto do
Gethsemani, à distância de uma pedrada
bem lançada.
A
ideia era subirmos de autocarro para o cimo do Monte e descê-lo a pé para, então, podermos visitar
esta igreja.
Enquanto subíamos,
o Sebastião
aproveitou para dissertar sobre o que distingue um peregrino de um vulgar
turista. A fé,
evidentemente.
Chegámos
ao cimo do Monte e o condutor deixou-nos junto ao miradouro na parte superior
do Monte das Oliveiras onde havia muita gente numa azáfama de tirar fotografias. Algumas
usavam binóculos
para verem melhor um ou outro objetivo. Antes de descermos do autocarro o
Sebastião
aproveitou para nos dizer que daquele miradouro se obtinha a vista mais bonita
da cidade de Jerusalém.
E tinha razão.
O sol brilhava com intensidade sem ser excessivamente abrasador. A cidade
parecia resplandecente debaixo de um céu
com um azul intenso. A dourada cúpula
da Mesquita da Rocha sobressaía
de todo o conjunto, tanto mais que refletia o sol. O Sebastião foi identificando
os principais monumentos.
O pátio
das Mesquitas, a fortaleza antoniana, a Igreja do Santo Sepulcro, os bairros
cristão, judeu
e árabe. E as
vistas não se
limitaram ao que estava dentro das muralhas. Sobretudo lá para o lado sul, a localização da casa de Caifás, colina da porta
de Sião, a
igreja do Cenáculo.
Depois o Sebastião
dissertou sobre a imensa necrópole
que cobre quase toda a encosta do Monte das Oliveiras desde tempos imemoriais.
Vêem-se por
ali abaixo talvez centenas de milhares de túmulos.
E curiosamente não
se veem flores
em cima deles, mas sim pedras. Os judeus não
gostam de usar flores para homenagear os mortos. Entendem que as flores murcham
rapidamente e as pedras não.
O que interessa é o
sentimento e por isso dizem 'dou-te nesta pedra o meu coração' e isso fica
para sempre.
Em dado momento o Sebastião
pediu para nos juntarmos à
volta dele no miradouro. E então
começou a
retirar de um saco copinhos de madeira de oliveira que começou a distribuir. E
ia dizendo que o local justificava um brinde pelo que oferecia os copinhos e o
licor. Não
tardou a tirar do saco uma garrafa. E foi enchendo os copinhos. No fim brindámos ao sucesso da
nossa viagem e à amizade.
O sabor do licor aproximava-se mais da nossa ginjinha do que do vinho do Porto.
Era bastante doce, com um bom teor de álcool.
Depois do brinde deu-nos rédea
livre para tirarmos todas as fotografias que quiséssemos. Só
quando nos viu serenar e com as máquinas
de filmar e fotografar paradas é
que voltou às
suas explicações,
dizendo, de entre outras coisas, que um espaço
para uma sepultura naquela encosta custa mais do que um apartamento de luxo em
Paris. Isto porque muita gente acredita que os mortos ali sepultados serão os primeiros a
acordar no dia da ressurreição.
A seguir convidou-nos a descer o Monte a pé.
Era uma rua alcatroada com uma inclinação muito acentuada. Costuma-se dizer
que para baixo todos os santos ajudam. Mas não
é bem assim.
Eles, às
vezes, em vez de ajudarem, empurram.
E ainda por cima havia no grupo algumas pessoas mais idosas para
quem todos os cuidados eram poucos. Uma
havia que já tinha
caído uma vez
em terreno plano. Chegou a sangrar da cara.
Na descida pudemos observar pessoas judias vestidas de negro,
algumas com os trajes do rigor ortodoxo. Em frente dos túmulos homenageavam os seus mortos
segundo o seu estilo, numa oração
silenciosa acompanhada de vénias
sucessivas.
Logo à
entrada havia uma série
de necrópoles
familiares com restos de vários
túmulos,
alguns de crianças
bem pequenas. Havia sinais evidentes de que arqueólogos
experimentados tinham andado por ali. Que registos terão eles feito dos seus achados? Tinha
curiosidade em saber. Há
seguramente histórias
surpreendentes por detrás
dessas pedras.
Visitaremos a Igreja da Agonia no próximo apontamento.
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