terça-feira, 14 de abril de 2015

Viagem à Terra Santa em 2014 - 10. Em 29 de Abril. Em Jerusalém. 10.2

10.2. No Santo Sepulcro

Mal acabámos de deixar a cruz da via sacra, iniciámos a caminhada por ruinhas estreitas na direção do Santo Sepulcro. Passados poucos minutos tivemos de passar por uma porta com o lintel bastante baixo que nos obrigou a baixar a cabeça ao nível do peito para podermos passar. Já nos tinha acontecido o mesmo quando entrámos na Igreja da Natividade em Belém.
 
 
Chegámos depois a um claustro bastante espaçoso rodeado por altos muros em pedra.
 
 
 
 
Nesse claustro há uma escadaria no canto no lado direito de quem entra, que parece dar acesso ao nível do corpo do primeiro piso do edifício, onde se encontra a igreja do Santo Sepulcro. Mais concretamente, dá acesso à chamada Capela dos Francos, uma espécie de antecâmara vip da capela do Gólgota, termo hebraico que quer dizer local do crânio, e que os latinos batizaram de Calvário.
 
 
Aí os nossos guias fizeram questão de nos convidar para tomarmos posição nas escadas para uma fotografia de grupo. Os moços que nos tinham emprestado a cruz seriam os fotógrafos e agitavam-se já com as suas máquinas numa posição de preceito, enquanto nós nos íamos arrumando uns mais acima outros mais abaixo.  Nestas situações há sempre quem goste de ficar mais à frente, e lute por isso, e quem procure ficar mais discreto e prefira ficar mais atrás.  O resultado foi esta fotografia oficial do grupo que nos seria entregue nessa noite no hotel.
 
 

A seguir fomos conduzidos para dentro da igreja.

Logo após a porta da entrada há umas escadas em pedra que sobem para o nível de um primeiro andar e onde está a indicação de Calvário. E, uma meia de dúzia de passos mais à frente da porta de entrada, está uma larga laje retangular, assinalada como a pedra onde Cristo terá sido ungido segundo os ritos da altura.

Estávamos nós a tomar um primeiro contacto com o interior do templo, enquanto os nossos olhos se iam habituando à luminosidade discreta do interior, quando o nosso guia Sebastião me pegou literalmente no braço e me fez avançar uns passos para me indicar o fim de uma fila dizendo para irmos de imediato juntar-nos a ela, para aproveitarmos a oportunidade de estar ainda muito reduzida. Foi dando a mesma indicação às outras pessoas do grupo que ia apanhando a jeito. E eu segui o seu conselho e fui ligeirinho juntar-me à fila. À minha frente estavam umas vinte pessoas.

 
 
Aproveitei o tempo de espera para olhar em volta e observar o teto e tive a agradável sensação de estar a entrar na Charola do Convento de Cristo. Se calhar, quando agora voltar a entrar na igreja da Charola irei ter a sensação inversa, de estar a entrar na igreja do Santo Sepulcro.

Este espaço, que nos faz lembrar a Charola e que é designado por Rotunda, é o principal monumento de um complexo mais vasto, onde, para além dos dois monumentos santos que já referi, Calvário e Lage da Unção, tem outros monumentos como sejam a Torre do Sino Cruzada, os restos de um pátio colunado do século XI designado por os Sete Arcos da Virgem, uma grande bacia de pedra conhecido desde tempos imemoriais por Centro do Mundo, a Igreja Cruzada com a sua linda cúpula pintada com uma linda imagem de Cristo, conhecida por Cúpula Catholikon, a capela de Santa Helena a que se acede descendo uma escadaria para um nível bastante mais abaixo, e, ainda num nível mais inferior a Capela Inventio Crucis, onde Santa Helena terá descoberto a cruz de Cristo de entre um montão de cruzes abandonadas que teriam sido usadas pela justiça durante a dominação romana.


Após uns dez minutos de espera estava à porta do local que dá acesso à gruta onde o corpo de Cristo morto foi depositado, depois de ungido e envolto em lençóis brancos de linho,  conforme as formalidades religiosas.  Há uma espécie de antecâmara para a entrada na gruta. Aí  pude observar o clérigo ortodoxo, bastante encorpado e com um assinalável vozeirão, incumbido de coordenar o acesso e estadia ao lugar santo, a dizer quase continuamente em voz alta para os peregrinos que se encontravam lá dentro, enquanto batia com o punho da mão na ombreira da porta: Please, out! No photos!

A porta de acesso ao túmulo é baixa e estreita e só dá para passar uma pessoa de cada vez. Chegou a minha vez de entrar e o senhor clérigo disse em voz bem alta: no photos, no cameras, no mobiles. Entrei e desci um ou dois degraus.

No lado direito, meio iluminada, lá estava uma larga laje de pedra branca, talvez mármore, à altura da minha cintura. À cabeceira dessa lage estava uma mulher toda coberta de preto, ajoelhada e completamente debruçada, imóvel e silenciosa como se já fizesse parte da própria laje.   Só a vi mexer quando uma senhora que entrou a seguir passou por detrás de mim e foi poisar as suas duas mãos na cabeceira da laje. Talvez por não ter visto esse vulto, deve ter pisado a mulher debruçada, obrigando-o a mexer-se e a mostrar o rosto feminino liso e brilhante, talvez na casa dos cinquenta.

Também eu segui o ritual de colocar as duas mãos abertas sobre a pedra na esperança de que fosse para mim uma fonte de enorme energia.  Ao mesmo tempo formulei uma prece de agradecimento a Deus por ali poder estar naquele dia e àquela hora, enquanto que, num filme rápido, no meu pensamento passaram os meus entes queridos, familiares e amigos. Não podia estar mais tempo porque a cabeça do senhor clérigo aparecia agora já dentro da gruta gritando: out, out, no photos.


E saí com muita pena de ali não poder estar mais uns minutos.

Já fora do recinto central da igreja, observei-a mais atentamente enquanto os restantes companheiros faziam a sua visita ao interior da gruta. Então compreendi claramente onde é que os arquitetos da igreja da Charola do Convento de Cristo em Tomar foram beber a sua inspiração.

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