Estes três
lugares santos fazem parte de um mesmo edifício
situado nas traseiras da Igreja da Dormição.
E são, no meu
entender, o melhor exemplo do que foram as sucessivas ondas de ocupação, destruição e reconstrução através da história.
No rés-do-chão está sepultado, segundo
a tradição, o
Rei David. Assim, a santificação
do local começou
pelo menos mil anos antes de Cristo. O
arqueólogo
americano Edwin Thiele localizou o nascimento do Rei David no ano 1040 antes de
Cristo e a sua morte no ano 970.
E, no primeiro piso, encontra-se a sala do Cenáculo, onde terá ocorrido a última ceia.
E, com o acesso através
desta sala, mas a um nível
ligeiramente superior, após
subirmos alguns degraus, encontramos a sala do Pentecostes onde o Espírito Santo terá descido sobre os
discípulos de
Cristo em forma de línguas
de fogo.
O nosso grupo saiu da igreja da Dormição praticamente em passo de corrida. O
destino era o mencionado edifício
dos três
lugares santos. De repente reparei que esvoaçavam,
relativamente baixas, várias
cegonhas e aproveitei para as filmar e fotografar.
Uma das companheiras do
grupo ficou ao meu lado a fazer a mesma coisa. Foram uns breves instantes. Mas
quando retomamos o nosso caminho já
não
vimos mais ninguém
do nosso grupo. Estávamos perdidos.
Bem. Eu gracejei comigo próprio
dizendo para os meus botões
que ninguém se
perde com uma estrela ao lado. A companheira que estava comigo chama-se Estrela
e, por isso, fui atrás
dela. Ela dirigiu-se para o autocarro. Lá
não havia ninguém
do grupo a não
ser o motorista. Voltámos
para trás e
pensámos que
talvez tivessem ido agora ao Cenáculo,
onde tínhamos
tentado ir logo quando chegámos.
As coisas contadas agora parecem bastante simples. Mas na
realidade foram bem diferentes. É
que por estes lugares, em dias de funcionamento normal, há verdadeiras multidões, e, num grande
ajuntamento e com o nosso espírito
perturbado, é difícil distinguir as
pessoas. A não
ser que se use um meio que, pela sua dimensão,
nos permita encontrar facilmente o que procuramos. E foi assim que entrando
para o beco de acesso ao Cenáculo
vimos a mancha dos bonés
cor de laranja que o Grupo de Cucujães
usava nesse dia. Alguns dos companheiros ainda tiravam fotografias à estátua do Rei David
tocando arpa, que ali se encontra.
E foi assim que retomámos a normalidade aproveitando para
fotografar este monumento, o que, dado o elevado número de pessoas que estavam a fazer o
mesmo, não foi
lá muito fácil.
O nosso guia encaminhou-nos, após
uma breve explicação,
para uma entrada no rés-do-chão que dá acesso ao local
onde judeus, cristãos
e muçulmanos
admitem que tenha sido sepultado o Rei David. E, na verdade, chegámos facilmente a
uma câmara, não muito ampla, onde
está um túmulo em pedra
coberto com um pano roxo com inscrições
em hebraico.
Estava eu a fotografar o túmulo quando um jovem rabino, vestido segundo o rigor da tradição e com um ar de intelectual, se aproximou de mim e me perguntou de onde é que eu era. Eu disse de Portugal e ele logo gritou Ronaldo e "You are Portuguese, you are my friend. Let me bless you and pray for you and your family" e pôs-me de imediato na cabeça a estola às riscas que tinha sobre os ombros, o talit, e começou a rezar em voz audível e aparentemente concentrado e de olhos fechados. Manteve-se assim cerca de três minutos, enquanto eu pensava se o devia afastar ou não. Mas acabou por dominar o sentimento de que quem reza assim por mim mal não me faz. E assim senti-me bem.
Quando acabou disse mais umas palavrinhas de simpatia para, a
seguir, me perguntar junto ao ouvido, se eu não
podia dar um contributo para ajudar. Dei-lhe uma nota de dez euros e ele ficou
muito contente e voltou a pôr-me
o talit na cabeça
e a dizer nova sessão
de orações
tendo começado
e agora "para que Javé
abençoe
os seus negócios...
"
A seguir ofereceu-se para me tirar uma fotografia junto ao túmulo, o que me
permitiu ficar com esta recordação.
Gostei de visitar o local. Apesar de estar repleto de gente, a
maior parte evidenciando o ortodoxismo judaico, não
me senti como um visitante estranho naquele espaço.
Mas não chegámos a ir ao piso superior para entrar no Cenáculo e na sala do Pentecostes. Tive de fazer posteriormente uma visita cibernética aproveitando a muita informação que podemos encontrar disponível na net. E já vi tanta coisa que, por momentos, tenho dúvidas sobre se já lá fui ou não.
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