Depois de sairmos de Jifna retomámos
o caminho na direção
de Jerusalém.
Como Jifna fica a norte de Ramallah uns dez quilómetros,
significa que iríamos
passar novamente por esta cidade, se bem que não
pelas ruas centrais.
De Jifna a Jerusalém
são cerca de
30 quilómetros
o que fazia prever que iríamos
chegar ao destino ainda com muito sol. Mesmo fazendo uma pequena paragem para
saborearmos as melancias da Palestina que o nosso guia e o condutor haviam
comprado para nos presentear. Como estava muito calor iria saber bem comer uma
boa talhada. O nosso guia também
estava entusiasmado com a ideia e, provavelmente, já tinha algum local em mente. Mas o que
ele não
suspeitava é que
o nosso lanche de melancia iria ter lugar numa esquadra da polícia de Israel.
A viagem estava a ser calma e serena.
O autocarro rodava por uma
estrada bastante larga. Alguns companheiros dormitavam enquanto outros iam
olhando descontraídos
para a paisagem.
Num dado momento, quando o autocarro descia uma colina
ligeiramente inclinada, ouvimos um grande estrondo no lado direito.
Todos demos
um pulo de surpresa e susto nos nossos assentos, receosos e curiosos por saber
o que teria acontecido. Os companheiros do lado da frente direita do autocarro
levantaram-se num ápice
e chamaram a atenção
para o vidro da janela lateral direita que se tinha partido. Um dos
companheiros disse que tinha visto na encosta da serra dois garotos furtivos
que lançaram
uma pedrada contra o autocarro com uma funda.
O Itam, o nosso condutor, abrandou a marcha lentamente e
encostou mais à frente.
Saiu calmamente para ver o que se tinha passado.
O vidro da primeira janela
panorâmica da
frente do lado direito estava estilhaçado.
Estávamos
junto a um entroncamento em que há
uma saída
para uma estrada secundária
que passará numa
pequena povoação
que aparecia na encosta da colina, muito perto do local de onde os garotos terão lançado a pedra. O
Itam, fora do autocarro, telefonava para reportar o incidente à sua empresa e para
obter orientações
sobre o que deveria fazer.
Tinham passado poucos minutos e apareceu um jipe militar que, após se inteirar do
acontecido, partiu em grande velocidade pela dita estrada secundária.
Ainda estivemos ali algum tempo, parados e a conversar dentro do
autocarro, tentando adivinhar as razões
do incidente. Pudemos então
verificar que as janelas do autocarro têm
vidro duplo e que só se
tinha quebrado o vidro do lado de fora, pelo que o autocarro podia continuar a
sua marcha sem risco nem incómodo
para os passageiros.
Ainda foi longo este compasso de espera em que o Itam não tirou o telefone
da orelha. Entrou finalmente no
autocarro e pô-lo
em marcha. O guia esclareceu então
que tínhamos
de ir ao posto de polícia
mais próximo
para participar o incidente, formalidade que era necessária, nomeadamente, por imposição da companhia
seguradora.
Retomámos
a marcha. Alguns quilómetros
à frente, o
Itam virou para a esquerda, para um conjunto de edifícios que estavam no cimo do monte.
Pelos procedimentos de segurança
e controlo para entrar, concluímos
que era o tal posto de polícia,
mas, verdadeiramente, parecia mais um grande aquartelamento militar do que uma
esquadra policial.
Tinha uma amplo parque de estacionamento e o Itam pôde estacionar o
autocarro à vontade,
já perto de
uma entrada para o edifício
principal, junto ao limite do parque, com uma larga vista sobre toda a paisagem
circundante. E foi aí
que fizemos o nosso piquenique, comendo umas boas talhadas de
melancia que estavam relativamente
frescas.
O Itam, coitado, lá
foi com a sua carteirinha de documentos na mão para o interior do edifício, onde iria
demorar muito, muito tempo.
Nós
acabámos o
lanche e ficámos
por ali a conversar em grupos ou a fazer pequenos passeios individuais para
respirar o ar puro que vinha das montanhas em redor e para ver o pôr-do-sol que se
estava a aproximar. Outros companheiros, poucos, optaram por regressar ao
autocarro e fechar os olhos em relaxe.
Como já
tinha passado muito tempo desde a hora do almoço, e ainda mais com os efeitos da
melancia, verdadeira água
diurética,
senti urgência
em ir à casa
de banho, pelo que me atrevi a seguir as pegadas do Itam até encontrar alguém. Entrei no pátio do edifício e vi dois
homens vestidos à civil
junto a uma porta iluminada. Perguntei-lhes em inglês se haveria por ali uma casa de
banho. Eles responderam-me num inglês
impecável,
perguntando de onde eu era e a razão
da minha estadia ali. E logo me conduziram ao interior da esquadra onde havia
uma sala de trabalho no lado esquerdo, com alguns polícias fardados a olhar para ecrãs de computadores.
No lado direito havia um gabinete fechado com porta de vidro, onde estava um
agente sentado a uma secretária
e, numa cadeira em frente, estava o Itam, com os cotovelos apoiados no tampo,
lendo uma folha de papel.
Os agentes indicaram-me a casa de banho. Quando saí reparei que o Itam
ainda estava a ler a folha de papel, mas prossegui pensando que já não demoraria muito
tempo, pois não
tardaria a assiná-la.
Já estava a
escurecer e toda a gente estava já
dentro do autocarro. O bom P. Artur ia falando e contando histórias, no seu papel
de, numa situação
destas, encher chouriços
para contrariar a ansiedade das pessoas.
O Itam acabou finalmente por regressar e antes de ligar o motor
do autocarro trocou algumas palavras com o guia e com o P. Artur, que, logo a
seguir, usando o microfone, informou que a polícia
já tinha
identificado os miúdos,
que estes eram judeus e que muito provavelmente os respectivos pais iriam ser
obrigados a pagar os prejuízos.
Aqui comecei a ficar com pena dos garotos porque me pus a especular sobre a
dureza dos corretivos que iriam receber dos pais.
Nós,
no incidente, tivemos sorte e os garotos também.
Pior teria sido se tivessem atingido o autocarro de frente, ou cabeça de alguma pessoa.
Foi com um tiro de funda que o pequeno David atirou por terra o gigantão do Golias.
Chegámos finalmente a Jerusalém já muito em cima da hora de jantar.
Finalmente o hotel à vista em Jerusalém.
O nosso guia na Palestina, Denisson, despediu-se de nós com palavras calorosas e lágrimas nos olhos. Que tenha muita sorte no seu trabalho pois esforçou-se para a merecer.
O check-in no Hotel Olive Tree foi rápido porque já estavam com tudo preparado à nossa espera. A
recomendação
foi que fôssemos
rapidinhos para ainda podermos jantar. E assim fizemos.
O jantar servido em bufet estava bem ao nível da categoria do hotel, um quatro estrelas. Pude acompnanhá-lo com um bom vinho tinto local, um Barkan, 2012.
Jamais me esquecerei do dia 26 de Abril de 2014, por tudo aquilo
que me foi dado viver e conhecer.
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