sábado, 9 de agosto de 2014

Viagem à Terra Santa em 2014 - Em 26 de Abril, para Jerusalém. 7.4.


7.4. O poço de Jacó

Ao falarmos do poço de Jacó o nosso pensamento vai, inevitavelmente, para o bonito fado de Coimbra "A Samaritana". E o nosso espírito passa a reproduzi-lo silenciosamente por algum tempo.
 
 Samaritana, plebeia de Sicar, alguém espreitando te viu Jesus beijar,
de tarde quando, foste encontrá-lo só, morto de sede, junto à fonte de Jacó.
 
O poço de Jacó fica situado em Nablus, a cerca de cem quilómetros a sul de Naim, mais ou menos a três  horas de viagem em autocarro. A estrada está alcatroada, mas é acidentada, mal sinalizada e, por vezes, estreita.

Após algum tempo em terrenos planos, passámos a ter um sobe e desce constante, com curvas e mais curvas, por encostas que chegam a ter uma altura razoável e uma inclinação bastante acentuada. Contudo a paisagem é variada e bonita.

 



A certa altura, o Itam, o nosso condutor, um competente e simpático palestiniano, enganou-se no trajeto e teve de inverter a marcha para ir retomar o caminho certo.
 
 No percurso aparece este avião abandonado perto da estrada. Não se vislumbra por ali qualquer aeroporto, tanto mais que o terreno é acidentado.
 
Durante a viagem fomos olhando para a paisagem, ouvindo as explicações do P. Artur que não se cansou de enaltecer a simpatia do povo palestiniano e a sua abertura para receberem os turistas. Contou, a propósito, que o representante da Autoridade Palestiniana em Lisboa mandou uma carta-circular aos párocos e organizações que costumam dirigir peregrinações à Terra Santa, pedindo-lhes para não se esquecerem dos territórios palestinianos, pois também eles são detentores de muitos locais bíblicos com interesse na história religiosa da cristandade.
 
Ao longo da viagem, apareciam terrenos bem cultivados. As searas de trigo estavam com a cor e o aspeto de que estava a chegar a época das ceifas.


Havia largas manchas de pomares verdes e grandes armações de estufas.
De quando em quando, víamos pequenas povoações com o alto minarete da respetiva mesquita a sobressair.

 
 
Mas também encontrámos povoações maiores.


Apareciam a seguir serranias com montes multicolores, destacando-se neles, por vezes, manchas brancas de conjuntos de pedras amontoadas, sinal de que ali há pedreiras de onde é extraída a bonita pedra branca da Terra Santa.


As casas começaram a ser mais frequentes. Depois apareceram lojas e tendinhas junto à estrada e triciclos com frutas para vender.


 
A maior frequência de carros e de pessoas na rua foram a indicação certa de que estávamos já no centro da cidade. Chegámos a um cruzamento e virámos à direita e logo vimos as duas torres altas da igreja edificada em cima do poço de Jacó, que se erguia por trás de um muro alto de alvenaria.
 


 
Desde Naim que não tínhamos guia, pois o Sebastião deixou-nos logo que saímos dessa localidade. O guia local, Denisson (?), só se juntaria a nós em Nablus, à entrada do mosteiro ortodoxo onde se encontra o poço da Samaritana.

A entrada para o recinto murado não é muito larga. Uma vez lá dentro, a primeira preocupação de muitos dos companheiros foi procurar uma casa de banho, pois as três horas de viagem de autocarro mais o tempo que durou a passagem por Naim  já pressionavam as pessoas, sobretudo as mais idosas.




Após algum tempo, entrámos finalmente na igreja, tendo a porta sido aberta por alguém que estava já à nossa espera.




 

A igreja tem toda a sumptuosidade decorativa das igrejas ortodoxas, com muitos candelabros, pinturas e imagens, os sagrados ícones, onde a Virgem Maria aparece múltiplas vezes e sempre bem em destaque.
 

 

 
O ambiente dentro da igreja é de recolhimento. A luz entra discreta pelas janelas altas das paredes laterais, fazendo sobressair as cores das telas e das imagens.

O poço de Jacó está a um nível inferior ao da igreja e acede-se a ele descendo por uma escadaria.
 
 
 Descendo para o Poço de Jacó.
 
Junto ao poço, estava um ancião de barbas brancas, meio inclinado, que permaneceu imperturbável no seu trabalho de artesão. Sobre a mesa em que trabalhava havia várias peças para venda aos visitantes.

 
 
Como o nosso grupo era relativamente grande, o espaço pareceu-nos pequeno. Mas deu para alguns companheiros fazerem o gosto aos braços e operarem a roldana que fazia descer um balde ao fundo do poço para recolher água.


Todos tivemos oportunidade de provar a água fresca que, há já muitos milénios, tem saciado a sede de residentes e de muitos viajantes.


O poço tem trinta e dois metros de profundidade e é escavado na rocha. Pensou-se durante algum tempo que a água era aí conservada pelo efeito cisterna. Contudo pôde concluir-se que tem uma nascente própria. A água é bem saborosa e muito fresca.

 
 
De todos os monumentos da Terra Santa é, talvez, aquele que é mais genuíno, pois, apesar das vicissitudes dos séculos, não há dúvida de que se trata do poço original. Para além de ser limpo de quando em quando, não foi alargado nem aprofundado.

Ao bebermos aquela água foi fácil imaginarmos ali Jesus Cristo a pedir água à Samaritana. Precisava de o fazer porque não tinha nem balde nem corda com o comprimento suficiente para alcançar o nível da água no poço.

O episódio da Samaritana é relatado apenas pelo evangelista João.

Não muito longe do poço de Jacó existe o túmulo de José, que nós não fomos visitar, com muita pena nossa. Trata-se de um emblemático monumento comum às três religiões monoteístas, que tem dado origem a diversos confrontos e tumultos.



José, o rei dos sonhos, é aquele filho de Jacó, o mais querido de todos, que os irmãos, por inveja e ciúmes, venderam a um islamita, que o levou para o Egipto, e aí ascendeu a um alto posto na administração do faraó por ter interpretado bem o célebre sonho das sete vacas gordas e das sete vacas magras.

Pediu, no fim, para o sepultarem na sua terra natal, o que foi feito.

Retomámos a viagem e fomos até ao cimo do monte para vermos bem as deslumbrantes vistas em redor, pelos vales e planícies vizinhas.

A seguir retomámos o nosso caminho no sentido de Jerusalém. Mas, até lá chegarmos, ainda iríamos ter diversas surpresas.

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