7.4. O poço de Jacó
Ao falarmos do poço
de Jacó o
nosso pensamento vai, inevitavelmente, para o bonito fado de Coimbra "A
Samaritana". E o nosso espírito
passa a reproduzi-lo silenciosamente por algum tempo.
O poço
de Jacó fica
situado em Nablus, a cerca de cem quilómetros
a sul de Naim, mais ou menos a três horas de viagem em autocarro. A estrada está alcatroada, mas é acidentada,
mal sinalizada e, por vezes, estreita.
Após algum tempo em terrenos planos, passámos a ter um sobe e desce constante, com curvas e mais curvas, por encostas que chegam a ter uma altura razoável e uma inclinação bastante acentuada. Contudo a paisagem é variada e bonita.
Após algum tempo em terrenos planos, passámos a ter um sobe e desce constante, com curvas e mais curvas, por encostas que chegam a ter uma altura razoável e uma inclinação bastante acentuada. Contudo a paisagem é variada e bonita.
A certa altura, o Itam, o nosso condutor, um competente e simpático palestiniano, enganou-se no trajeto e teve de inverter a marcha para ir retomar o caminho certo.
Durante a viagem fomos olhando para a paisagem, ouvindo as explicações
do P. Artur que não
se cansou de enaltecer a simpatia do povo palestiniano e a sua abertura para
receberem os turistas. Contou, a propósito,
que o representante da Autoridade Palestiniana em Lisboa mandou uma
carta-circular aos párocos
e organizações
que costumam dirigir peregrinações
à Terra Santa,
pedindo-lhes para não
se esquecerem dos territórios
palestinianos, pois também
eles são
detentores de muitos locais bíblicos
com interesse na história
religiosa da cristandade.
Ao longo da viagem, apareciam terrenos bem cultivados. As searas de trigo estavam com a cor e o aspeto de que
estava a chegar a época
das ceifas.
Havia largas manchas de pomares verdes e grandes armações de estufas.
Havia largas manchas de pomares verdes e grandes armações de estufas.
De quando em quando, víamos pequenas povoações com o alto
minarete da respetiva mesquita a sobressair.
Mas também encontrámos povoações maiores.
Apareciam a seguir serranias com montes multicolores, destacando-se neles, por vezes, manchas brancas de conjuntos de pedras amontoadas, sinal de que ali há pedreiras de onde é extraída a bonita pedra branca da Terra Santa.
Apareciam a seguir serranias com montes multicolores, destacando-se neles, por vezes, manchas brancas de conjuntos de pedras amontoadas, sinal de que ali há pedreiras de onde é extraída a bonita pedra branca da Terra Santa.
A maior frequência
de carros e de pessoas na rua foram a indicação
certa de que estávamos já
no centro da cidade. Chegámos
a um cruzamento e virámos
à direita e
logo vimos as duas torres altas da igreja edificada em cima do poço de Jacó, que se erguia por
trás de um
muro alto de alvenaria.
Desde Naim que não tínhamos guia, pois o Sebastião deixou-nos logo que saímos dessa localidade. O guia local, Denisson (?), só se juntaria a nós em Nablus, à entrada do mosteiro ortodoxo onde se encontra o poço da Samaritana.
A entrada para o recinto murado não
é muito larga.
Uma vez lá dentro,
a primeira preocupação
de muitos dos companheiros foi procurar uma casa de banho, pois as três horas de viagem
de autocarro mais o tempo que durou a passagem por Naim já
pressionavam as pessoas, sobretudo as mais idosas.
Após
algum tempo, entrámos
finalmente na igreja, tendo a porta sido aberta por alguém que estava já à nossa espera.
A igreja tem toda a sumptuosidade decorativa das igrejas ortodoxas,
com muitos candelabros, pinturas e imagens, os sagrados ícones, onde a Virgem Maria aparece múltiplas vezes e
sempre bem em destaque.
O ambiente dentro da igreja é
de recolhimento. A luz entra discreta pelas janelas altas das paredes laterais, fazendo sobressair as cores das telas e das imagens.
O poço
de Jacó está a um nível inferior ao da
igreja e acede-se a ele descendo por uma escadaria.
Descendo para o Poço de Jacó.
Junto ao poço, estava um ancião de barbas
brancas, meio inclinado, que permaneceu imperturbável
no seu trabalho de artesão.
Sobre a mesa em que trabalhava havia várias
peças para
venda aos visitantes.
Como o nosso grupo era relativamente grande, o espaço pareceu-nos
pequeno. Mas deu para alguns companheiros fazerem o gosto aos braços e operarem a
roldana que fazia descer um balde ao fundo do poço
para recolher água.
Todos tivemos oportunidade de provar a água fresca que, há já muitos milénios, tem saciado a sede de residentes e de muitos viajantes.
O poço tem trinta e dois metros de profundidade e é escavado na rocha. Pensou-se durante algum tempo que a água era aí conservada pelo efeito cisterna. Contudo pôde concluir-se que tem uma nascente própria. A água é bem saborosa e muito fresca.
De todos os monumentos da Terra Santa é, talvez, aquele que é mais genuíno, pois, apesar
das vicissitudes dos séculos,
não há dúvida de que se
trata do poço
original. Para além
de ser limpo de quando em quando, não
foi alargado nem aprofundado.
Ao bebermos aquela água
foi fácil
imaginarmos ali Jesus Cristo a pedir água
à Samaritana.
Precisava de o fazer porque não
tinha nem balde nem corda com o comprimento suficiente para alcançar o nível da água no poço.
O episódio da Samaritana é relatado apenas
pelo evangelista João.
Não
muito longe do poço
de Jacó existe
o túmulo de
José, que nós não fomos visitar,
com muita pena nossa. Trata-se de um emblemático
monumento comum às
três religiões monoteístas, que tem dado
origem a diversos confrontos e tumultos.
José, o rei dos sonhos,
é aquele filho de Jacó,
o mais querido de todos, que os irmãos,
por inveja e ciúmes,
venderam a um islamita,
que o levou para o Egipto, e aí ascendeu
a um alto posto na administração
do faraó por
ter interpretado bem o célebre
sonho das sete vacas gordas e das sete vacas magras.
Pediu, no fim, para o sepultarem na sua terra natal, o que foi feito.
Pediu, no fim, para o sepultarem na sua terra natal, o que foi feito.
Retomámos
a viagem e fomos até ao
cimo do monte para vermos bem as deslumbrantes vistas em redor, pelos vales e
planícies
vizinhas.
A seguir retomámos o nosso caminho no sentido de Jerusalém. Mas, até lá chegarmos, ainda iríamos ter diversas
surpresas.
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