No apontamento anterior visitámos
o Monte do Calvário.
Como verificámos,
talvez a palavra monte seja algo exagerada. Este lugar santo assemelha-se mais
a uma pequena elevação,
que no tempo de Cristo seria uma despida formação
rochosa de pedra branca.
Mal descemos as escadas do Calvário,
estávamos
junto à Pedra
da Unção.
Mapa do corte da Igreja do Santo Sepulcro apresentado na página 91 do guia American Express Jerusalém e a Terra Santa.
Aí detive-me uns
minutos a imaginar como seria aquele lugar no dia em que Cristo foi
crucificado.
Os textos sagrados referem que José
de Arimateia era proprietário
de um horto que estava ali perto. E que aí
tinha escavado na rocha uma gruta para lhe servir de túmulo quando
chegasse a sua hora. E que logo a seguir à
morte de Cristo ele foi ter com Pilatos e lhe pediu o
corpo de Jesus. Pilatos estranhou que Jesus tivesse morrido tão depressa e mandou certificar-se de que tinha mesmo morrido. Ele e Nicodemos foram recolher o corpo e levaram lençóis de linho e
ligaduras, óleos e
perfumes, para o amortalharem segundo os ritos judaicos. E que a seguir o
depositaram nesse túmulo
que José de Arimateia tinha preparado para si e que ainda não
tinha sido estreado.
Mas a minha curiosidade continuava-me a questionar como seria todo
aquele espaço
nesse tempo. Seguramente um descampado sem todas aquelas paredes monumentais
que agora ali se veem.
Houve um pintor francês, James Jaques Joseph Tissot (1836-1902), que foi contratado por uma empresa para pintar quadros bíblicos com vista a decorarem uma edição especial dos livros sagrados. Ele não se fez rogado e foi para a Terra Santa para recolher informação sobre os lugares bíblicos, sentir o ambiente e assim inspirar-se para poder incutir mais realismo às cenas que iria pintar. Produziu várias centenas de aguarelas, muito lindas, coloridas e expressivas, que nos fazem sentir nos lugares reais em que, supostamente, as cenas pintadas aconteceram. Vale a pena guglar o nome deste pintor e dar uma olhadela pelas reproduções que se encontram acessíveis na net.
Senti-me particularmente impressionado por uma pintura em que
representa o Gólgota
e espaços
adjacentes no momento em que Cristo ali estava a agonizar.
Tissot esteve na Terra Santa, inclusive no Monte do Calvário, e também
sentiu a necessidade de imaginar como terá
sido o ambiente local na tarde da primeira sexta-feira santa. E pintou
aquilo que o seu espírito
pôde imaginar,
depois de despir todo aquele ambiente dos milhares de toneladas de pedra que,
no decorrer dos dois últimos
milénios, para
ali foram trazidas para integrarem aquelas paredes e abóbadas monumentais. Representou o ambiente de uma forma magistral e muito ousada, pois
imaginou-o como Cristo o teria visto do alto da Cruz pela última vez.
Para facilidade dos leitores deste blogue, aqui deixo a
reprodução
dessa maravilhosa aguarela, com a devida vénia
ao pintor e a quem agora mantem
direitos sobre ela, a página jamestissot.org.
Dizem os livros que a Laje da Unção
foi ali colocada em 1810. Mas onde terá
sido recolhida? Qual o grau de probabilidade de ter sido essa pedra
grande e fria aquela em que o corpo de Cristo, ainda quente, foi depositado
para ser amortalhado?
Uma coisa é
certa. A pedra está
ali, suntuosa, como testemunho do momento dramático em que o corpo de Cristo foi
ungido para ser sepultado.
E, ao contrário
de outros monumentos sagrados, não
tem qualquer vedação
e não vimos clérigos excitados aos
berros como no Santo Sepulcro. E podemos estar ali o tempo que quisermos
e tocar a pedra ou mesmo debruçarmo-nos
sobre ela sem quaisquer constrangimentos.
Pinturas nas paredes próximas da Pedra da Unção
Suspensas
por cima da pedra, estão
dezassete lâmpadas.
Quatro delas foram oferecidas pelos cristãos
arménios e
treze pelas comunidades coptas, gregas e latinas.
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