Na cidade de Jerusalém
convivem quatro comunidades, acantonadas nos respetivos bairros: a comunidade
cristã, a
judaica, a arménia
e a muçulmana.
O nosso tempo de permanência
na cidade não
foi suficiente para compreendermos bem o modo de vida das quatro comunidades,
nem o seu modo de relacionamento e regras de convivência.
Enquanto nós
lá estivemos
respirava-se um espírito
de convivência
pacífica e, em
momento algum, nos sentimos inseguros e, muito menos, ameaçados.
A nossa vivência
na cidade foi mais rica no bairro cristão.
Aí pudemos
participar na via sacra e visitar alguns dos lugares santos, com referência especial aos
três
considerados como sendo os mais importantes da cristandade: o Calvário, o Santo
Sepulcro e a Pedra da Unção.
Vi num guia turístico
que, no bairro cristão,
há quarenta
lugares santos. Se aí
forem consideradas as estações
da via sacra podemos dizer que vimos uma boa parte deles.
Não
tivemos oportunidade de visitar o bairro muçulmano.
E se eu gostava de ir lá
para visitar a Mesquita da Rocha. Mas não
se pode ter tudo.
Além
do bairro cristão,
passámos pelo
bairro judeu, onde pudemos visitar o
Muro das Lamentações,
e também pelo
bairro arménio,
onde almoçámos.
Feita esta introdução
vou retomar a narrativa no ponto em que a deixei no apontamento anterior.
Tínhamos
acabado de sair da basílica
do Santo Sepulcro e aproveitei para recolher mais algumas imagens do pátio amplo junto à sua entrada.
Os nossos guias convidaram-nos a segui-los. Detiveram-se num
ponto de fácil
referência num
dos gavetos que dão
para a Via Dolorosa. Aí
deram-nos rédea
livre por meia hora para passearmos à
vontade e fazermos compras se quiséssemos.
As ruas são apertadas e totalmente ladeadas de pequenas lojas de frutas, bebidas e recordações turísticas. Por vezes estão cobertas por arcadas abobadadas.
Os lojistas
pareceram-me muito simpáticos, mas
poucos falam inglês.
Por isso, a comunicação é
sobretudo gestual. Ao contrário
do que acontece nas ruas de lojistas do oriente, sobretudo Hong Kong e Macau, não se vê uma loja de
artigos electrónicos.
Eu precisava de comprar um novo cartão
para a minha máquina
fotográfica e
não localizei
nenhuma loja. Depois perguntei ao guia Sebastião
onde haveria uma e ele disse que no bairro arménio.
Daí que
o nosso passeio livre para pouco mais deu que revermos a rua por onde tínhamos passado
durante a via sacra, então mais preocupados com
a participação
nesse ato piedoso. Agora podíamos
apreciar o meio ambiente e reparar noutros imóveis
com aspecto monumental.
O tempo de retorno ao ponto de encontro chegou depressa. Por
isso apressámo-nos
para estarmos lá à hora
combinada.
Ninguém
se perdeu nem houve atrasos significativos.
Reiniciamos o nosso percurso seguindo os guias. O objetivo agora
era irmos ao Muro das Lamentações.
Durante alguns minutos percorremos ruas estreitas. Mal tivemos
tempo para tirar uma fotografia ou outra aos edifícios
e outros pontos que nos chamavam a atenção.
Não
demorámos a
chegar a um ponto de controle de segurança
do tipo dos que temos de passar quando embarcamos em aviões. Os guardas pareceram-nos simpáticos e não nos criaram
quaisquer dificuldades. Pareceu-me que o nosso guia Sebastião já lhes era uma cara
familiar pelo modo como se dirigiram a ele.
Entrámos assim no bairro judeu.
Passados uns minutos, estávamos
numa praça
bastante ampla que logo reconheci como sendo a praça do Muro das Lamentações que estava ao
nosso lado esquerdo. Ao fundo via-se um troço
da muralha de Jerusalém.
Os guias reuniram-nos junto a uns chapéus de sol abertos e explicaram-nos
como devíamos
proceder para visitar o local.
O primeiro espaço
que ali estava a jeito era reservado à oração dos homens. Lá mais ao fundo
havia outro mais pequeno, reservado às
mulheres. Entre os dois espaços
havia um tabique separador relativamente alto.
Eu aproveitei para fazer um momento de recolhimento com as mãos no muro e lembrar todos os meus. Afinal o Deus dos judeus é também o Deus dos Cristãos, só que um pouco mais velho. E há toda a probabilidade de, nos meus antepassados remotos, terem existido devotos judeus. Pelos meus entes queridos atuais e ausentes e pelos meus antepassados das gerações mais próximas e mais antigas e por todos os meus amigos já falecidos, e pela humanidade em turbulência, encostei as mãos religiosamente àquela grande muralha.
Vi que havia pessoas que deixavam nas fendas das pedras papelinhos com os seus desejos. Talvez assim Deus os ouça melhor.
Pude, nesse momento, como que por intuitiva inspiração, sentir a
grandiosidade e significado daquela muralha assente em pedras de tamanho monumental.
Seria interessante ter mais tempo para estar ali e imaginar as
muitas histórias
que aquelas pedras enormes terão
para contar desde o tempo em que ali foram mandadas colocar por Herodes o
Grande, algumas dezenas de anos antes da era de Cristo. Nessas histórias destacam-se
certamente os horrorosos dias dos anos setenta em que o templo foi destruído, aliás como toda a
cidade de Jerusalém.
Após
o momento de recolhimento, pudemos ir, eu e os companheiros que estavam comigo,
visitar as instalações
anexas, cobertas, junto à
muralha.
São
um misto de espaço
de oração,
museu, biblioteca, escola, e são
muito amplas. Há grandes
estantes cheias de bojudas lombadas de livros de todos os tamanhos. Há vitrines com
livros muito antigos expostos. Há
outras que têm
toras semiabertas. Há
homens trajando segundo o rigor judaico com as mantinhas às riscas nos
ombros, os cabelos em trancinhas com caracóis, camisas brancas e colete e calças
pretas. Há outros
que lêem os
livros sagrados, sentados ou em pé,
fazendo sucessivas vénias
e liberando ladainhas em surdina.
Nós
pudemos olhar, fotografar e ir a todos os recantos sem ninguém se preocupar
connosco. Mostraram-se completamente indiferentes à nossa presença e até
cheguei a perguntar-me se, por milagre, nós
não nos teríamos tornado invisíveis para eles.
Saí daquela
sala ampla, que, na verdade é uma sinagoga, e regressei ao recinto. Vi que podia tentar, colocando-me em cima de
umas pedras que estavam junto ao tabique de separação
dos espaços
homens e mulheres, estendendo o braço,
fotografar o lado de lá.
E acho que consegui, mesmo sem ver o que fotografava.
Regressámos
ao ponto de que tínhamos
partido, ou seja aos chapéus
de sol abertos junto ao limite da Praça
das Lamentações.
Os companheiros e companheiras iam chegando. Alguns não se inibiram de libertar os seus
desabafos para dar conta das sensações
que tinham experimentado.
Uma vez reunidos, os nossos guias informaram-nos de que iríamos seguir para o bairro arménio para aí podermos almoçar. Convidaram-nos a segui-los.
Saímos
da Praça das das
Lamentações
para o exterior da muralha. Andámos
algumas dezenas de metros a pé
e voltámos
a entrar na cidade, pela porta de Jafa.
Recebeu-nos uma praça
ampla.
Aí o
Sebastiao foi comigo espreitar uma loja onde haveria artigos fotográficos. Porém o espaço estava fechado e
a loja já não existia. Por isso
continuámos o
percurso entrando numa rua estreita com fachadas monumentais
de um lado e do outro. Chegámos
finalmente a um restaurante amplo onde as nossas mesas estavam reservadas e
onde nós fomos
sentados.
Ao lado estava um grupo bastante maior do que o nosso com o qual os
poucos empregados estavam totalmente ocupados. Foi difícil dispensarem-nos
alguma atenção
inicial. Só passados
longos minutos é que
começaram a
servir-nos. Mas foi tudo tão
lento e demorado que chegámos
ao fim com a sensação
de nem sequer termos chegado a almoçar.
Isto porque a comida que nos serviram, ao gosto arménio, tinha mais jeito de aperitivo e
demorava muito a chegar. A certa altura eu já
estava ansioso por sair dali para a rua.
No fim houve companheiros que fizeram questão de chamar o
gerente e de lhe endereçarem
os seus protestos pela pouca atenção
que nos dispensaram e pelo deficiente serviço.
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