Deixámos
o parque de estacionamento do Museu de Israel, ou o Museu das Terras da Bíblia, ou o Santuário do Livro, e
seguimos durante alguns minutos na direção
norte até chegarmos
a uma via mais larga onde virámos
à esquerda.
Estávamos na
estrada número
386 e seguíamos
para sudoeste.
Há muitas
casas brancas em todo o percurso, se bem que apareçam também
grandes manchas de vegetação
e, por vezes, terrenos áridos,
sobretudo nas terras mais altas. Também
há manchas de
pomares com as árvores
verdes e baixas todas alinhadinhas em filas.
O autocarro estacionou num parque não muito amplo. E a primeira observação que fiz, mal pus os pés em terra, foi olhar para as colinas em volta, muito arborizadas, e imaginar-me a fazer uma caminhada matinal por ali. Ou então seguir a pé pelo vale até à terra mais próxima que se via lá ao fundo.
Mas não houve tempo para pensar nisso por muito mais tempo porque os nossos guias já iam puxando pelo grupo. Tinham atravessado a estrada num sinal de semáforo e já se perdiam por uma rua a subir, não muito larga e com lojinhas de um lado e do outro. Acelerei o passo para os apanhar. Senti o coração a bater com força, sinal de que a subida ainda é algo acentuada.
Não
tardou a chegarmos a um portal de pedra.
A bandeira branca com as cinco cruzes
vermelhas içada
no topo foi o primeiro sinal de que estávamos
a entrar num recinto sagrado sob a administração
da Custódia da
Terra Santa. Por cima da vista do portal aparecia uma torre sineira alta, fina
e branca. Estávamos
a entrar no espaço
em que foi erguida no século
XVII uma igreja dedicada a S. João
Baptista, sobre as ruínas
de duas outras: uma erguida na época
bizantina e outra na época
cruzada.
No portal chamam-nos a atenção
dois emblemas em pedra, um de cada lado por cima da porta.
O do nosso lado
esquerdo contém
dois antebraços
e duas mãos,
ambas feridas, que se erguem para uma cruz. Uma é
a mão
de Cristo que foi perfurada e a outra é a de S. Francisco de Assis, que foi estigmatizada.
Este emblema é da
ordem franciscana. No outro lado está
o emblema da Custódia
Franciscana com uma cruz maior e quatro cruzes pequenas, ocupando os cantos da
cruz maior. Não consegui saber a razão de o nicho central estar vazio.
Entrámos
no recinto e seguimos na direção
da igreja.
Subimos uma escadaria e entrámos.
Parecia que estávamos
dentro de uma igreja de uma das nossas aldeias nortenhas.
Não é muito grande e tem
três naves. No
altar-mor há uma
imagem de Nossa Senhora, num retábulo, com um manto de cor azul.
Na nave do lado esquerdo de quem está virado para o altar-mor há uma entrada para
uma gruta.
Descemos uns degraus e vimos um bonito altar trabalhado em mármore branco.
Por
baixo da perda do altar há
um sol trabalhado no mármore que identifica o local onde, segundo a tradição, terá
nascido S. João
Baptista.
Depois de nos determos por uns minutos em recolhimento na gruta, saímos para olharmos
mais uma vez a igreja, sentados num dos bancos de madeira.
Outros grupos foram entrando e sentimo-nos como que empurrados
para sair, para que eles pudessem tomar os nossos lugares.
Em frente da igreja há um adro com um muro alto em que estão painéis de azulejos, em várias línguas, acho que são vinte e quatro, com os versos bíblicos atribuídos a Zacarias, pai de João, em oração para agradecer o nascimento do filho, que como é sabido, já veio um pouco tarde em relação à idade da mãe Isabel.
Entre os painéis há um em língua
portuguesa.
Ao longo do muro, por baixo dos painéis, há
um longo banco em pedra que, no momento, estava à sombra. Sentámo-nos aí
para ouvir as explicações
dos nossos guias. Falaram-nos da igreja que tínhamos
visitado e da história
daquela povoação,
deixando-nos a
imaginar como teria sido a infância
de João
Baptista por aquelas colinas e quais terão
sido as insondáveis
forças
propulsoras que o arrancaram de uma terra tão
bonita para o inóspito
deserto para se preparar para a sua pregação.
Afrontou o poder ao ponto de este exigir a sua cabeça que foi levada ao palácio real numa rica
bandeja, para verificação
e como oferta a uma distinta senhora da corte de Herodes.
Existem em Ein Kerem outros monumentos. O mais importante é a Igreja da Visitação, não muito distante
dali, mas que não
chegámos a
visitar. A igreja que estava à
nossa frente é
do Século
XVII. A da Visitação
foi erguida em 1955, segundo desenho do arquiteto António Barlucci, já mencionado em apontamentos
anteriores, a propósito
da Igreja da Agonia (Dominus Flevit) e da Capela da Flagelação.
Li que na fachada da Igreja da Visitação há um painel em
mosaico representando a visita de Maria a sua prima Santa Isabel no início da gravidez
tardia de João
Baptista. E que dentro da igreja há
também
uma gruta natural, com vestígios
da época
romana. Segundo a tradição,
Santa Isabel ter-se-á
escondido aí com o menino para escapar à
matança
dos santos inocentes ordenada por Herodes. E que em frente da igreja há também um muro com painéis em azulejo com o
Magnificat em diversas línguas.
Foi pena não
termos ido visitar esta
igreja.
Estávamos
nós a ouvir os
nossos guias e a trocar impressões,
quando alguém
deu pela falta de algumas companheiras do nosso grupo.
Feitas as buscas dentro da igreja e nas proximidades, não as conseguimos
localizar. Por isso, os guias decidiram regressar mais apressados ao autocarro,
tendo o cuidado de ir vendo se elas não
se encontrariam perdidas nas lojas do percurso, eventualmente distraídas com as compras. Uma vez chegados....
Lá estavam elas sentadas dentro do autocarro, tristes, silenciosas e pesarosas. E na primeira oportunidade não se inibiram de fazer os seus desabafos com sentidas recriminações aos guias e aos companheiros do grupo por as terem deixado para trás e por terem perdido a oportunidade de visitar o local onde nasceu S. João Baptista.
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