quarta-feira, 27 de maio de 2015

Viagem à Terra Santa em 2014. 10. Em 29 de Abril. Em Jerusalém. 10.9.

10. 9. Aim Karim ou Ein Kerem ou a terra natal de João Baptista

Deixámos o parque de estacionamento do Museu de Israel, ou o Museu das Terras da Bíblia, ou o Santuário do Livro, e seguimos durante alguns minutos na direção norte até chegarmos a uma via mais larga onde virámos à esquerda. Estávamos na estrada número 386 e seguíamos para sudoeste.
 
Há muitas casas brancas em todo o percurso, se bem que apareçam também grandes manchas de vegetação e, por vezes, terrenos áridos, sobretudo nas terras mais altas. Também há manchas de pomares com as árvores verdes e baixas todas alinhadinhas em filas.

 
A estrada desenrolava-se num suceder de curvas e contracurvas e num desce e sobe. Passados cerca de vinte minutos, saímos dessa estrada principal e começámos a descer para a povoação que se encontra no fundo do vale e que iríamos visitar. É a terra natal de João Batista.

O autocarro estacionou num parque não muito amplo. E a primeira observação que fiz, mal pus os pés em terra, foi olhar para as colinas em volta, muito arborizadas, e imaginar-me a fazer uma caminhada matinal por ali. Ou então seguir a pé pelo vale até à terra mais próxima que se via lá ao fundo.


Mas não houve tempo para pensar nisso por muito mais tempo porque os nossos guias já iam puxando pelo grupo. Tinham atravessado a estrada num sinal de semáforo e já se perdiam por uma rua a subir, não muito larga e com lojinhas de um lado e do outro. Acelerei o passo para os apanhar. Senti o coração a bater com força, sinal de que a subida ainda é algo acentuada.

Não tardou a chegarmos a um portal de pedra.
 
A bandeira branca com as cinco cruzes vermelhas içada no topo foi o primeiro sinal de que estávamos a entrar num recinto sagrado sob a administração da Custódia da Terra Santa. Por cima da vista do portal aparecia uma torre sineira alta, fina e branca. Estávamos a entrar no espaço em que foi erguida no século XVII uma igreja dedicada a S. João Baptista, sobre as ruínas de duas outras: uma erguida na época bizantina e outra na época cruzada.

No portal chamam-nos a atenção dois emblemas em pedra, um de cada lado por cima da porta.

 
O do nosso lado esquerdo contém dois antebraços e duas mãos, ambas feridas, que se erguem para uma cruz. Uma é a mão de Cristo que foi perfurada e a outra é a de S. Francisco de Assis, que foi estigmatizada. Este emblema é da ordem franciscana. No outro lado está o emblema da Custódia Franciscana com uma cruz maior e quatro cruzes pequenas, ocupando os cantos da cruz maior. Não consegui saber a razão de o nicho central estar vazio.


Entrámos no recinto e seguimos na direção da igreja.
 
 
 
 
Subimos uma escadaria e entrámos. Parecia que estávamos dentro de uma igreja de uma das nossas aldeias nortenhas.

 
 
Não é muito grande e tem três naves. No altar-mor há uma imagem de Nossa Senhora, num retábulo, com um manto de cor azul.

Na nave do lado esquerdo de quem está virado para o altar-mor há uma entrada para uma gruta.
 
 
Descemos uns degraus e vimos um bonito altar trabalhado em mármore branco.
 
Por baixo da perda do altar há um sol trabalhado no mármore que identifica o local onde, segundo a tradição, terá nascido S. João Baptista.
 
 
 
  
Depois de nos determos por uns minutos em recolhimento na gruta, saímos para olharmos mais uma vez a igreja, sentados num dos bancos de madeira.



 
 
Nas paredes revestidas de azulejos há algumas telas que fazem lembrar Murilo, o que me levou a pensar que talvez os frades ali residentes sejam de origem espanhola.

Não pode passar despercebido este lindo vitral que se encontra numa das paredes, para dar luz à igreja.
 
 
Outros grupos foram entrando e sentimo-nos como que empurrados para sair, para que eles pudessem tomar os nossos lugares.

Em frente da igreja há um adro com um muro alto em que estão painéis de azulejos, em várias línguas, acho que são vinte e quatro, com os versos bíblicos atribuídos a Zacarias, pai de João, em oração para agradecer o nascimento do filho, que como é sabido, já veio um pouco tarde em relação à idade da mãe Isabel.

 
Entre os painéis há um em língua portuguesa.
 

Ao longo do muro, por baixo dos painéis, há um longo banco em pedra que, no momento, estava à sombra. Sentámo-nos aí para ouvir as explicações dos nossos guias. Falaram-nos da igreja que tínhamos visitado e da história daquela povoação, deixando-nos a imaginar como teria sido a infância de João Baptista por aquelas colinas e quais terão sido as insondáveis forças propulsoras que o arrancaram de uma terra tão bonita para o inóspito deserto para se preparar para a sua pregação. Afrontou o poder ao ponto de este exigir a sua cabeça que foi levada ao palácio real numa rica bandeja, para verificação e como oferta a uma distinta senhora da corte de Herodes.

Existem em Ein Kerem outros monumentos. O mais importante é a Igreja da Visitação, não muito distante dali, mas que não chegámos a visitar. A igreja que estava à nossa frente é do Século XVII. A da Visitação foi erguida em 1955, segundo desenho do arquiteto António Barlucci, já mencionado em apontamentos anteriores, a propósito da Igreja da Agonia (Dominus Flevit) e da Capela da Flagelação.

Li que na fachada da Igreja da Visitação há um painel em mosaico representando a visita de Maria a sua prima Santa Isabel no início da gravidez tardia de João Baptista. E que dentro da igreja há também uma gruta natural, com vestígios da época romana. Segundo a tradição, Santa Isabel ter-se-á escondido aí com o menino para escapar à matança dos santos inocentes ordenada por Herodes. E que em frente da igreja há também um muro com painéis em azulejo com o Magnificat em diversas línguas.

Foi pena não termos ido visitar esta igreja.

Estávamos nós a ouvir os nossos guias e a trocar impressões, quando alguém deu pela falta de algumas companheiras do nosso grupo.

Feitas as buscas dentro da igreja e nas proximidades, não as conseguimos localizar. Por isso, os guias decidiram regressar mais apressados ao autocarro, tendo o cuidado de ir vendo se elas não se encontrariam perdidas nas lojas do percurso, eventualmente distraídas com as compras. Uma vez chegados....

Lá estavam elas sentadas dentro do autocarro, tristes, silenciosas e pesarosas. E na primeira oportunidade não se inibiram de fazer os seus desabafos com sentidas recriminações aos guias e aos companheiros do grupo por as terem deixado para trás e por terem perdido a oportunidade de visitar o local onde nasceu S. João Baptista.
 

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