No capítulo
56 de Isaías
fala-se do fim do exclusivismo religioso dizendo que aqueles que se converterem
e cumprirem a lei terão
a salvação
como qualquer filho de Israel. Escolhe para exemplo a figura dos estrangeiros e
dos eunucos. Na antiguidade havia homens, no geral bem constituídos, que tinham a
missão de
guardar as mulheres dos outros. Mas para isso eram castrados. Isaías falando em nome
do Senhor, diz sobre estes o seguinte:
"Se um eunuco respeita os meus sábados, decide fazer o que me agrada e
persevera na minha aliança,
dar-lhe-ei no meu templo e na minha cidade um monumento e um nome,
bem melhor que filhos e filhas. O seu nome ficará
para sempre e nunca mais acabará".
Porquê
esta citação?
É que
foi nestes versículos
que o Parlamento Israelita se inspirou para aprovar a Lei do Yad Vashem, de 1953.
De Ein Kerem, terra natal
de João
Baptista, até Yad
Vashem, na solarenga e verdejante colina do Monte Herzl, são uns escassos
vinte quilómetros.
Mal deu para descansarmos um pouco no autocarro.
Yad Vashem é
o local onde se encontra o Museu do Holocausto.
Pensava eu que iríamos
encontrar um ambiente sombrio. Mas não
é assim. Em
vez de museu chamar-lhe-ia eu outra coisa, por exemplo jardins da memória ou algo
assim.
À chegada,
o guia Sebastião
fez-nos uma introdução
breve explicando-nos o que iríamos
ver. Primeiro visitaríamos
o Memorial das Crianças
e depois teríamos
alguns minutos livres para passearmos pelos jardins.
Disse-nos que durante a
visita ao Memorial iríamos
ouvir nomes de crianças
e pediu-nos que cada um de nós
fixasse um.
De um corredor inicial, com fotografias de crianças, chegámos
a uma grande câmara
redonda, de teto abobadado, com as paredes todas cobertas de miríades de luzes que se multiplicam por efeito de espelhos.
Sem fazer pausa, o locutor, numa fita gravada, vai mencionando
nomes. Provavelmente nenhum dos mencionados nesse momento tem a fotografia exposta no Memorial.
Seguimos o nosso percurso até sairmos do outro lado do túnel. À nossa espera estava o Sebastião que, antes de mais, se quis inteirar das nossas impressões. Depois, ao acaso, perguntou a uma das companheiras qual tinha sido o nome que ela fixou. E ela disse o de uma menina, muito jovem, da Polónia.
E disse o Sebastião:
Senhora, o locutor vai continuar a mencionar nomes indefinidamente.
É uma gravação. Mas o nome
dessa menina só volta
a ser mencionado daqui a um ano. Se, então,
estiver novamente aqui pode ser que o ouça
novamente.
Yad Vashem, é
a designação
de uma lei que o Knesset aprovou em 1953 para legitimar a perpetuação deste espaço à memória dos seis milhões de judeus vítimas de violência nazi. Yad
Vashem quer dizer um memorial e um nome, palavras inspiradas nos
versículos de
Isaías que
transcrevi acima. Estes dois substantivos traduzem bem a
impressão que
sentimos enquanto visitámos
aquele espaço.
O objetivo é impedir
que a memória
de seis milhões
de pessoas e a brutal violência
contra elas praticada sejam pura e simplesmente apagadas da face da terra como
se essas pessoas e a violência nunca tivessem existido.
Não
são apenas as
vítimas que lá são lembradas. Também aqueles que, sendo
de outras culturas, se esforçaram,
contra ventos e marés,
para proteger judeus perseguidos, poderão
ter aí um
memorial com o seu nome na Avenida dos Justos Entre as Nações. Li algures que
são assim
reconhecidas como Justos entre as Nações cerca de 16.000 pessoas. Mas só
algumas têm o nome inscrito numa placa da Avenida de Yat Vashem.
O nosso compatriota Aristides Sousa Mendes, bem conhecido pelo
seu empenho em salvar gente judia perseguida mesmo com prejuízo da sua carreira
e da sua própria
subsistência,
também tem aí uma
merecida invocação.
Num passeio breve pudemos verificar que o complexo tem espaços dedicados a
atividades diversificadas, relacionadas com as vítimas
da perseguição
nazi.
Ao fundo da Avenida dos Justos entre as Nações vemos o Museu
de História
que guarda um vasto acervo de documentos sobre o nazismo e a formação da sua doutrina antissemita.
Pudemos dar um passeio breve pelos jardins. No conjunto, mais de
vinte monumentos integram Yad Vashem. Não
os vimos todos. Nem sequer tivemos tempo para ir ao Museu do Holocausto propriamente dito. Mas o Memorial das Crianças
tocou-nos bem
no fundo.
Acabada a visita regressámos
ao Hotel Olive Tree.
O dia tinha sido longo e o grupo mostrava evidente cansaço. No loby do
hotel, o guia Sebastião
deu as suas instruções
para o resto do dia e para o dia seguinte.
Estaria na sala do bar após
o jantar com os fotógrafos
para entregar os DVDs e as fotografias da Via Crucis a quem os quisesse
adquirir. E no dia seguinte, bem cedinho, devíamos
estar ali de novo com armas e bagagens para prosseguirmos a nossa viagem,
mudando de poiso, ou seja, viajando para uma nova terra e para um outro hotel.
Sem comentários:
Enviar um comentário