11. A caminho de Jericó
O dia 30 de Abril de 2014 começou
bem cedo e numa azáfama
própria de um
mudar de hotel numa viagem de turismo em que temos de fazer as malas, colocá-las a tempo num
determinado ponto e redobrarmos os cuidados para não
nos esquecermos de nada.
Despedimo-nos do simpático
hotel Olive Tree. Em breve o autocarro se pôs
em marcha. Como era habitual, o P. Artur orientou-nos numa breve oração matinal.
Dissemos adeus à
cidade de Jerusalém.
O destino era Jericó.
Tinha lido que esta cidade é
a mais antiga da face da terra, ainda existente e continuamente povoada
desde há mais
de 10 mil anos! É obra.
E é uma
cidade várias
vezes mencionada na Bíblia.
No Antigo Testamento a propósito
de nascentes de água
refrescantes, dos ricos palmares e de conquistas e reconquistas com os inerentes banhos de sangue. No Novo Testamento quando se conta
que Cristo passou por lá
e curou várias
pessoas, incluindo dois cegos, e quando é relatado
o episódio de
Zaqueu. Era um cobrador de impostos, de baixa estatura, um homem da classe média-alta de então, que sabendo que
Jesus iria passar em determinada rua, subiu para uma árvore, um sicómoro, para não perder a oportunidade de o ver, pois
sabia que ele viria rodeado de muita gente.
Diz Lucas (19.4): E correndo adiante subiu para um sicómoro bravo para o
ver, pois sabia que ele iria passar por ali.
O sicómoro
é uma espécie de figueira. Vi
na Net que também
lhe chamam figueira doida e figueira africana. E que dá figos comestíveis.
Mas, quando é bravo, para que servirá?
Zaqueu cobrava impostos ao serviço
do império
romano. Com tais funções
tinha muito poder e, muito provavelmente, também
uma grande fortuna. As suas relações
com os contribuintes não
deveriam ser nada fáceis.
A matéria
coletável era
determinada a olho por ele que logo passava a conta de liquidação. Seguramente
que, com excepção
de alguns "amigos", seria, no geral detestado. Lucas diz isso.
Jesus, para espanto dos que o acompanhavam, chamou-o logo pelo
nome, e mandou-o descer da árvore
e pediu-lhe hospedagem. Zaqueu emocionou-se e arrependeu-se publicamente dos
seus exageros fiscais e outros. Mais tarde, deve ter sentido uma enorme
tristeza aquando da prisão
e morte de Cristo. Li algures que, segundo a tradição, tomou o lugar de Judas logo após a ascensão de Cristo, foi
batizado com o nome de Matias, e se dedicou à
evangelização,
tendo sido o primeiro bispo de Cesareia Marítima,
a cidade que visitámos
logo no começo
da nossa peregrinação.
Tinha curiosidade em saber se o sicómoro e a casa onde Zaqueu acolheu
Jesus ainda existiriam.
Quando Jesus passou em Jericó e deu origem a este episódio ia na direção de Jerusalém. Nós fazíamos o mesmo percurso, mas em sentido contrário, comodamente instalados num autocarro com ar condicionado, por uma estrada excelente que, salvo erro, até é a número um das estradas da Terra Santa. São cerca de trinta quilómetros.
No tempo de Jesus, por montes e vales e por caminhos tortuosos e
acidentados, a viagem seria bem mais difícil
e demoraria pelo menos dois dias.
Enquanto o autocarro rodava, eu olhava para as encostas áridas que se
sucediam e pensava como terá
sido a viagem de Cristo. Com excepção
de algumas manchas de pequenos arbustos e de uma povoação ou outra, por vezes com avisos de
perigo para os israelitas, a paisagem é
uma contínua
mancha seca e amarelada. Sentimos sede só
de olhar para ela.
Vi um ou outro acampamento talvez de gente nómada. E, por vezes,
também um
camelo ou outro.
As primeiras casas de Jericó começaram a aparecer. Primeiro isoladas e depois de um lado e do outro da estrada. Estávamos na Palestina.
Uma carroça puxada por um cavalo, carregada de produtos agrícolas, deu a ideia de que, na cidade, apesar de muito antiga e de ter muito turismo, ainda há quem se dedique à atividade agrícola.
A certa altura o autocarro abranda e encosta à direita. Os guias
chamam-nos a atenção
para umas árvores
que estavam num jardim, tendo uma delas um tronco mais grosso.
Perto há placas informativas, o que significa que são importantes. E fomos informados de
que a que tem o tronco maior é
muito antiga. E que foi nela que, segundo a tradição, Zaqueu se empoleirou para poder
ver Jesus. Não
há registos
coevos desse encontro. Mas James Jaques Tissot retratou-o assim na ilustração que fez e que, com a devida vénia
ao museu de Brooklyn, eu aqui reproduzo para comodidade dos leitores,
recomendando que façam
uma visita à página do museu e vejam como são
ricos os trabalhos deste pintor do século
XIX.
Restam-nos agora as imagens visuais, avivadas pelas fotografias
que pudemos tirar através
do vidro da janela.
Estávamos
em Jericó.
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