A porta do Mosteiro franqueou-se e
começou
a nossa descoberta daquele espaço
que, visto de longe, nos suscitou grande curiosidade.
Logo à
entrada vimos um moinho de cereais, manual. De trigo? De milho? De
centeio? Cultivados onde?
O moinho parece estar operacional.
Depois aparece uma pequena fonte com um lavatório
trabalhado em pedra de mármore.
Sairá da
montanha água
suficiente para permitir a subsistência
da comunidade que o Mosteiro pode abrigar? Como é
que pode brotar água
de uma montanha tão alta, árida
e deserta?
Quando eu era pequeno, fazia-me espécie que, numa propriedade que o meu pai tinha
num ponto alto, brotasse água
de uma mina que ia enchendo uma presa, que dava para regar uma vasta
propriedade. Um
dia perguntei ao meu pai como é
que a água
ia da ribeira, que corria lá
muito no fundo do vale, para ali. Pergunta inocente de uma criança pequena. E o meu
pai explicou-me que natureza é
como o nosso corpo. Seu fizesse um arranhão
no cocuruto da cabeça
saía de lá sangue. E, por
vezes, do nariz sai sangue com fartura mesmo sem fazermos nada. Isto porque o
nosso corpo tem veias. As montanhas também
têm as suas
veias.
Estando o Monte da Tentação a duzentos metros abaixo do nível do mar, talvez seja mais fácil a água do mar chegar ali filtrada para matar a sede de muita gente.
Estando o Monte da Tentação a duzentos metros abaixo do nível do mar, talvez seja mais fácil a água do mar chegar ali filtrada para matar a sede de muita gente.
Logo a seguir à
fonte houve outro pormenor que me chamou a atenção. A relação entre as fissuras da montanha e a
segurança do
próprio
mosteiro.
Esta fotografia documenta bem aquilo a que me refiro. Até dá arrepios só de pensar o que acontecerá quando um bocadão de rocha se desprender da montanha e cair.
No local há pinturas que parecem ser muito antigas e azulejos bizantinos.
Mas há outras pinturas
mais modernas, ícones
sagrados tanto ao gosto das igrejas ortodoxas que valorizam o local.
A Igreja Católica, a partir do Concílio Vaticano II, optou pela simplicidade e, de certo modo, prejudicou a arte religiosa, ao distanciar-se deste tipo de decoração.
Quando vimos o mosteiro de longe, notámos que há três cúpulas brancas.
Uma
delas é a da torre sineira. As outras duas são cúpulas
de uma igreja existente no local.
Achei muito interessante uma escada em madeira que,
aparentemente, permite o acesso de e para o topo do Monte. Lá de cima as vistas
devem ser soberbas.
O Mosteiro da Tentação
na sua versão
atual data da época dos cruzados
(século XII)
se bem que tenha tido importantes melhoramentos, sobretudo a partir do fim do século XIX, altura em
que foi adquirido pela Igreja Ortodoxa Grega.
Não
muito longe de Jericó há
um mosteiro semelhante em termos de localização e de história. É
o Mosteiro de S. Jorge no desfiladeiro de Uade Qelt, que não chegámos a visitar.
Visto nas fotografias até
parece o Mosteiro da Tentação.
Esse mosteiro também
remonta ao tempo
de Santa Helena e está
ligado à história dos avós maternos de
Jesus, pois foi construído
no local em que S. Joaquim soube que sua mulher Ana, já de
idade avançada,
estava grávida
de Maria, a mãe
de Cristo. Em 614 os invasores persas massacraram os sete monges que lá viviam e saquearam
e destruíram o
mosteiro. Foi reconstruído e hoje os crânios dos sete monges encontram-se
expostos numa vitrine e são
venerados por muitos crentes.
A história
destes dois mosteiros é,
assim, semelhante em muitos aspetos.
A visita estava a chegar ao fim e os nossos guias começaram a encaminhar-nos para a porta de
saída para
regressarmos ao teleférico.
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